Quarta-feira, 26/06/2024
Sinto as mãos do diretor se fecharem ao meu redor, firmes como correntes de ferro, me prendendo contra a mesa. Cada toque dele me causa um arrepio de repulsa. As mãos frias deslizam pelo meu pescoço, os dedos apertando com uma suavidade cruel que me deixa paralisado. O cheiro de sua colônia é forte demais, quase enjoativo, e sinto o peso do seu corpo se aproximando, sua respiração quente e ofegante em meu ouvido.
— Eu também posso fazer você ir nas nuvens — ele sussurra, e sua voz é um sibilo, baixo e ameaçador, que faz meu corpo inteiro se retrair.
— Não! Não! — Tento gritar, mas minha voz sai trêmula, mal controlando o pânico que me consome. Então, como um relâmpago, a lembrança do meu pai me estrangulando surge na minha mente, me deixando sem ar.
— Hyung, me ajuda! — Grito, mas ele tampa minha boca com força.
O desespero me dá força. Mordo sua mão, sentindo o gosto metálico do sangue quando meus dentes perfuram a pele dele.
— Aah! — Ele grita de dor, e nesse momento dou um pisão no pé dele com toda a minha força. Ouço o som de seu corpo cambaleando. É minha chance.
— Seu nojento! — grito, sentindo meu peito explodir de ódio e nojo, enquanto o empurro com tudo para longe. Corro para fora da sala, ouvindo sua voz ecoar atrás de mim.
— Ariel, volta aqui!
— Hyung, me ajuda! — Minha voz está embargada pelo medo, mas finalmente consigo abrir a porta e sair daquele escritório sufocante.
— O que houve, amor? — É a voz de Tae-mo, cheia de preocupação. Ao ouvi-lo, meus joelhos quase cedem.
— O diretor… ele tentou… ele tentou me tocar! — consigo dizer, ofegante e com a voz entrecortada pelo choro.
O silêncio ao meu redor é tenso e pesado. Logo, ouço as vozes dos meninos da banda ao redor.
— O quê? — Tae-mo solta um grito, e em sua voz há uma fúria que não consigo lembrar de ter ouvido antes.
— Eu vou matar ele! — Tae-mo rosna, cheio de raiva.
Sinto os braços dele me envolvendo em um abraço apertado, como um escudo, e começo a chorar sem controle, me agarrando nele como se fosse a única âncora que tenho.
— Esse safado! — grita o vocalista da banda enquanto abre a porta da sala.
— Eu vou chamar a polícia! — diz o baterista, a voz decidida.
— Me tira daqui, por favor! — Minha voz é um sussurro cheio de medo. Só quero sair dali, me afastar de tudo, fugir dessa sensação de desespero.
— Vamos, Ariel, estamos com você — diz Tae-mo, me segurando firme enquanto me guia para fora da gravadora.
De volta para casa, Tae-mo me senta no sofá e sinto o calor de uma xícara em minhas mãos. É chá de camomila, seu aroma doce e reconfortante ajuda a acalmar meu coração acelerado. Cada gole me traz um pouco de paz, enquanto sinto a mão de Tae-mo fazendo um cafuné suave em meu cabelo.
— Quando você se sentir melhor, vamos à delegacia, está bem? — ele diz, com uma gentileza que me faz sentir seguro.
— Eu estava com tanto medo, hyung… — A voz me falha. — Sentir aquelas mãos sujas dele… tocando no meu corpo…
— É melhor você parar de trabalhar, amor — Tae-mo murmura, a preocupação clara em sua voz.
— Eu não posso, hyung… — Respiro fundo. — A música é minha paixão, eu preciso dela.
Alguns dias depois, estou finalmente na delegacia, ao lado de Tae-mo, relatando o que aconteceu. Faço a denúncia e, ao voltar para casa, sinto um peso enorme sair das minhas costas quando sou informado de que o diretor foi afastado da gravadora. Isso me dá um alívio que, mesmo que temporário, me ajuda a respirar.
É uma tarde calma e resolvo ir ao instituto para distrair a mente, tentando tirar de dentro de mim o peso da lembrança daquele toque asqueroso. Passo um tempo lá, e às quatro horas estou no consultório para minha consulta de rotina. Conversar com o doutor me ajuda a colocar os pensamentos em ordem. Cada palavra me traz um pouco de serenidade, como se fosse parte do processo de cicatrização das feridas.
Quinta-feira, 04/07/2024
Finalmente, uma verdade há muito escondida veio à tona. Descobriu-se que o responsável por apagar as imagens de segurança do dia em que Ariana foi atacada era um dos seguranças do hospital. Kevin não desistiu um só segundo de encontrar essa verdade, e graças a sua persistência, justiça está prestes a ser feita. Ariana está aliviada e radiante, com um brilho de esperança no rosto — afinal, no próximo ano será o último de sua faculdade, e ela está pronta para o futuro. Recentemente, Kevin se declarou para ela, e agora estão juntos, compartilhando uma felicidade que parecia quase inalcançável antes.
Enquanto penso nisso, sinto o ambiente tranquilo do instituto ao meu redor, o cheiro suave de madeira misturado ao leve perfume floral que Ariana usa. A tranquilidade é interrompida pela voz suave e feliz de Vitório.
— Amigo, amanhã à noite eu vou viajar com o meu coalinha! — ele diz, cheio de entusiasmo.
— Hmmm! — murmuro, sorrindo, feliz por ele.
— Vamos passar o final de semana na praia! — Ele suspira de alegria, e sinto sua empolgação como uma brisa que enche o ambiente de frescor.
— E o chato do Paulo Vitor? Parou de te incomodar? — pergunto, curioso.
— Ele pediu transferência da escola! — responde Vitório, aliviado.
— Que ótima notícia! — Digo, sorrindo, e sei que ele também sorri, sentindo o peso se dissipar.
Ao meu lado, Min-ho, que acabou de começar a aprender a usar a máquina de escrever em braille, está praticando com muita dedicação.
— Professor, é assim que se faz? — Min-ho pergunta, e em sua voz há um orgulho inocente.
— Muito bem, Min-ho, você está aprendendo tudo muito rápido! — diz Vitório, com admiração.
— Estou muito feliz! Já consigo fazer tantas coisas sozinho! — exclama Min-ho, e sua voz tem um tom de esperança.
— Como tomar banho sozinho, escovar os dentes… e até já consigo andar pela casa sem ajuda da bengala, ou da minha mãe! — Ele continua, e eu sorrio ao ouvir a emoção em sua voz.
Por um momento, ele fica em silêncio, e posso sentir sua expressão mudar.
— Só sinto falta de trabalhar na empresa… — diz ele, sua voz se tornando um sussurro triste.
— Mas você pode voltar a trabalhar na empresa! — digo, tentando animá-lo.
— Meu pai… ele falou que eu me tornei inútil… — Sua voz agora é frágil, carregada de uma tristeza que me faz querer confortá-lo.
Nesse instante, uma voz firme e confiante surge no ambiente.
— Ele está muito enganado.
— E você, quem é? — pergunto, curioso com a voz desconhecida.
— Eu sou Lucas, vim visitar o instituto! — responde ele, e posso ouvir um sorriso em sua voz.
Lucas se apresenta com entusiasmo.
— Tenho baixa visão, enxergo apenas cinco por cento de cada lado. Uso a bengala verde, que indica minha condição.
— Eu uso a bengala branca — digo.
— Então, você é cem por cento cego? — pergunta ele, com um tom curioso, mas cheio de respeito.
— Sim — respondo, com serenidade.
— Seja muito bem-vindo! — diz Vitório, com sua habitual hospitalidade.
— Obrigado! — Lucas responde, e sinto sua gratidão.
— Você tem baixa visão há quanto tempo? — pergunta Min-ho, curioso.
— Desde os treze anos. Tenho vinte e três agora, então já fazem dez anos.
Ouvindo sua história, percebo a força que ele encontrou ao longo dos anos. Cada um de nós, aqui, luta contra suas próprias sombras, mas continuamos de pé, nos apoiando uns nos outros. E é nesse apoio, nesse compartilhamento de histórias e superações, que vamos encontrando as forças para superar nossas dores e cicatrizar nossas feridas, passo a passo, palavra por palavra.
Segunda-feira, 08/07/2024
É noite, e estou na praça com Vitório, tomando sorvete. A brisa fresca toca meu rosto, mas a atenção está toda na voz de Vitório, que descreve seu fim de semana com o Zee.
— Amigo… eu fiz aquilo… — diz ele, com um tom meio envergonhado.
Arregalo os olhos, a curiosidade queimando.
— O quê? Sério?! — minha voz sai em um grito de surpresa.
— Foi algo que simplesmente aconteceu — continua ele, a voz baixa e tímida. — A gente já tinha conversado sobre, sobre quando eu me sentisse à vontade… e acho que foi o momento.
— E… como foi? — Pergunto, tentando conter a curiosidade.
— Não te conto! — Ele ri, e o riso tem um toque de travessura.
Mas logo sua expressão muda. Ele se aproxima e sussurra:
— Ariel, desde que chegamos aqui… tem um homem nos observando. — Sinto a tensão no tom dele.
— Não me assusta assim, Vitório! — digo, tentando não demonstrar o calafrio que percorre meu corpo.
— Estou falando sério. Ele está de terno preto… parece um segurança — diz Vitório, quase em tom de deboche. — Aposto que é coisa do seu Tae-mo.
A raiva começa a crescer dentro de mim.
— Ele não ousaria! — digo, tentando manter a calma. — Me leve até esse homem!
— Quê? — Vitório fica surpreso, mas vê que estou falando sério e me leva até o homem.
Me viro para ele, o peito queimando de indignação.
— Por que você está me seguindo? — Pergunto, minha voz firme.
— Senhor, deve haver algum mal-entendido — responde ele, mas é evidente que está desconfortável.
— Não minta. Vi você na frente do instituto antes de sairmos. Quer que eu chame a polícia?
— Desculpe, senhor. Apenas estou cumprindo meu trabalho.
— Quem te contratou? Foi o Tae-mo ou o pai dele?
— O senhor Tae-mo — confessa ele.
— Desde quando?
— Desde que você começou na gravadora.
Sinto o sangue ferver. Grito de raiva.
— Aquele cachorro! — exclamo.
Vitório tenta me acalmar, mas estou furioso.
— Diga ao seu chefe que vou dormir na casa do meu amigo esta noite e que não quero nem ouvir a voz dele!
— É para sua segurança, senhor — diz o segurança, mas já estou andando para longe, levando Vitório comigo.
Ao chegarmos à casa do Vitório, meu celular toca. Olho para o visor: é o Tae-mo. A fúria volta, e ignoro a ligação. Ele me ligou para pedir desculpas? Para tentar explicar?
— Ariel, você precisa esfriar a cabeça — sugere Vitório.
— O Tae-mo acha que sou uma criança que precisa ser protegida — respondo, frustrado. O celular toca de novo, e respiro fundo antes de atender.
— O que você quer, Tae-mo? — Minha voz é séria, quase fria.
— Vamos conversar, Ariel, por favor.
— Amanhã. — Tento ser firme.
— Me desculpe… devia ter falado sobre os seguranças.
— Então, são dois? — Pergunto, sentindo a irritação crescer.
— Contratei dois. Só queria te proteger.
— Estou decepcionado com você, hyung. Você devia ter me contado.
— Sei que errei. Desculpe.
Ele faz uma pausa, como se estivesse hesitante. Em seguida, diz:
— Vem aqui fora, por favor. Estou na frente.
— Não quero. — Desligo o celular, sentindo o peso da decepção.
Vitório, com sua voz calma, tenta me fazer ver o outro lado.
— Ariel, o Tae-mo gosta de você e só quer proteger você.
Respiro fundo, tentando acalmar a mente, mas ainda estou confuso.
— Vá falar com ele, Ariel. Ele não foi embora — sugere Vitório.
Saio para a varanda, mas, para minha surpresa, ele realmente já se foi.
Naquela noite, adormeço com uma mistura de sentimentos. Em meio ao sono, sinto-me transportado para um lugar que parece entre o sonho e a realidade. Abro os olhos e percebo algo impossível: estou enxergando! Ao meu redor, há um jardim cheio de flores brilhantes, as cores vibrando em tons que eu só havia imaginado. Meus dedos tocam as pétalas de um girassol, e eu sorrio com a textura suave.
Uma voz suave e familiar soa atrás de mim.
— Ariel…
Viro-me e encontro uma mulher de longos cabelos escuros e um sorriso gentil.
— Mãe? — Minha voz se quebra, e sinto lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Mamãe! — grito, correndo para abraçá-la.
Ela me envolve em seus braços, e é como se eu estivesse finalmente completo.
— Eu estou aqui, meu filho — diz ela, fazendo carinho em meus cabelos. — Não chore mais. Crescer sem mim foi difícil, eu sei. Mas saiba que sempre estive com você e com sua irmã, protegendo vocês.
— Eu nunca conheci seu rosto… nunca tive uma fotografia. — As palavras saem em um sussurro. — Eu só queria ter uma lembrança sua.
Ela acaricia meu rosto, e sinto o toque suave e cheio de amor.
— Ariel, meu filho… chegou a hora de eu descansar. Eu sempre cuidei de você e da Ariana, mas agora vocês estão seguros.
Ela estende a mão, apontando para uma janela. Do outro lado, vejo meu pai, mas ele está diferente. Na clínica, com uma expressão perdida, brinca com um jogo educativo. Seus olhos, antes cheios de dureza, agora parecem vazios, inocentes.
— Toda a maldade dele se foi — explica minha mãe. — Ele está assim agora… incapaz de fazer mal.
— Você o purificou?
Ela apenas sorri.
— Ariel, não se esqueça: você é capaz de grandes coisas. Ser cego não o impede de fazer nada, não permita que ninguém o faça sentir-se limitado. E quanto ao Tae-mo… ele te ama profundamente, só quer te proteger. Não o magoe.
Então, minha mãe se dissolve em uma luz suave, e sei que sua alma finalmente encontrou paz.
Sinto um impulso, uma necessidade de ver alguém. Caminho pelo jardim e encontro uma casa. Encostado à parede, vejo Tae-mo. Seu rosto, iluminado pela luz suave, parece calmo, e eu sorrio ao vê-lo assim.
— Seu rosto é lindo… exatamente como imaginei — murmuro, acariciando-o.
Ele abre os olhos, sonolento, mas com um sorriso.
— Ariel… você está me vendo? — pergunta ele, incrédulo.
— Sim. Mas não questione. Vamos apenas aproveitar este doce sonho.
Deitamos no chão, lado a lado, e ele segura minha mão.
— Me desculpe por magoar você — diz Tae-mo, com sinceridade.
— Eu também exagerei, hyung. Eu sei que só quer me proteger.
Ele sorri, um sorriso gentil e carinhoso, e sinto meu coração aquecer.
— Eu tenho medo por você, Ariel. Sei que você é forte, mas o mundo pode ser cruel. Tenho que proteger você.
No sonho, a realidade se mistura com o amor, e meu coração finalmente encontra um momento de paz. Sinto que posso enfrentar tudo o que vier, desde que ele esteja ao meu lado.
De repente, uma voz ecoa ao longe.
— Ariel! Ariel!
Abro os olhos, e o sonho se desfaz. A realidade volta, mas aquele momento fica comigo, como uma doce lembrança.
Terça-feira, 09/07/2024
Acordem vocês dois! Diz Ariana, com um tom de preocupação ao nos ver ali, deitados do lado de fora.
— Ariel? — Tae-mo pergunta, confuso, piscando os olhos enquanto se orienta.
Eu também estou desorientado e, ainda tentando me lembrar, pergunto: — Onde... onde estou?
— Vocês estão no pátio da casa! — Ariana responde, soando preocupada.
— Como eu vim parar aqui? — digo, tentando recuperar algum fio de memória.
Tae-mo olha para mim com a mesma expressão confusa. — Eu também não sei como cheguei aqui...
Ele parece querer falar algo, mas hesita, até que toma coragem: — Sobre ontem... — sua voz soa cautelosa.
— Tae-mo, está tudo bem. Eu exagerei — interrompo, tentando aliviar o clima.
Ele suspira de alívio. — Eu também me desculpo. Às vezes, eu passo dos limites...
— Está falando sério? — ele pergunta, surpreso, mas com um brilho de alívio no olhar.
— Sim. Eu sei que você só se preocupa comigo porque... — hesito, mas decido ser sincero — ...porque eu posso correr riscos, ainda mais com o histórico da nossa família.
Ele me olha, surpreso. — Como você sabe disso?
Dou um sorriso suave. — Eu só sei.
Ariana nos interrompe, sorrindo: — Venham para dentro, vocês dois!
Caminhamos para dentro da casa, e, de repente, algo ainda mais surpreendente me ocorre.
— Ariana... Eu tive um sonho lindo com a mamãe — digo, sem esconder a emoção na voz.
Ela para por um momento, surpresa, e depois sorri, animada. — Sério? Eu também! Foi tão vívido...
Nós dois trocamos olhares, sentindo como se, de alguma forma, nossa mãe tivesse realmente estado conosco na noite passada.
Quarta-feira, 10/07/2024
Estou no cemitério, diante da lápide da nossa mãe, acompanhado por Tae-mo e Ariana. Ainda posso sentir a lembrança do seu rosto em minha mente, como se pudesse enxergar novamente, mesmo que por um breve instante.
— Ainda sinto a imagem da mamãe comigo — digo, tocando a lápide com cuidado, sentindo a textura fria do mármore sob meus dedos.
— Como foi... ver, mesmo que por pouco tempo? — Ariana pergunta, tentando entender a profundidade do meu sonho.
— Foi... mágico. Foi o sonho mais lindo da minha vida. Poder vê-la e tocá-la, sentir sua presença... — minha voz falha, e lágrimas silenciosas escorrem pelo meu rosto.
Eu me viro para Tae-mo e acrescento: — E você estava lá também, hyung.
Ele sorri, surpreso. — Eu?
Assinto. — Sim. Eu pude ver você, exatamente como imaginei. Eu posso não enxergar com os olhos, mas com as mãos, posso sentir o seu rosto, e é tão nítido na minha mente...
Ele segura minha mão, e, por um instante, o silêncio entre nós diz mais do que qualquer palavra. É um momento simples, mas para mim, é como se meu coração encontrasse paz.
Mais tarde, na clínica psiquiátrica
Eu e Ariana estamos na clínica, onde o papai agora vive. Ele não é mais o homem cruel que nos assombrou no passado. Sua mente se foi, deixando para trás uma sombra de quem ele já foi, alguém incapaz de nos fazer mal.
— Senhor, o senhor está bem? — Ariana pergunta, com uma mistura de cautela e empatia.
Meu pai sorri, distraído, e responde enquanto brinca com um pequeno avião de brinquedo: — O aviãozinho está pousando... pousando... — ele murmura, perdido em seu próprio mundo.
A enfermeira se aproxima e, em voz baixa, nos explica: — Ele passa o dia assim, brincando e falando coisas desconexas. Ele... ele não reconhece ninguém.
Ariana olha para ele, chocada, com uma dor que só eu consigo compreender. Ela segura minha mão, e sinto sua determinação.
— Acho que isso é um adeus — ela diz, com uma voz firme. — Só queria ter certeza de que não sinto mais medo de você.
Seguro a mão dela e me despeço em silêncio. Todas as feridas que um dia ele causou... agora estão cicatrizadas.
— Vamos, Ariel — ela diz, puxando-me suavemente.
Enquanto nos afastamos, Ariana sussurra: — Adeus para sempre, pai.
Sinto o peso das nossas histórias, mas também a leveza de saber que, por mais que o passado seja marcado por dor, agora temos liberdade para criar algo novo — para sermos felizes.
Quinta-feira, 11/07/2024
É tarde, e estou no consultório com Tae-mo ao meu lado. Sinto o cheiro característico de álcool e o toque frio do assento, mas o calor da mão de Tae-mo na minha é o que realmente me acalma.
— Vocês dois estão progredindo muito bem — diz o doutor, numa voz de incentivo.
Respiro fundo, e confesso: — Ontem... eu visitei meu pai.
O doutor faz uma pausa, curioso. — E como foi? — sua voz carrega uma compreensão genuína.
— Foi mais fácil do que eu imaginava — admito, mesmo que ainda sinta um aperto no peito. — Sei que as cicatrizes que ele deixou nunca vão sumir completamente...
Faço uma pausa, tentando traduzir em palavras algo tão íntimo. — Mas... eu vou cobrir cada uma delas. Vou pintar sobre essas marcas, como se fosse uma parede.
O doutor, intrigado, pergunta: — E o que vai usar como tinta?
Aperto a mão de Tae-mo, sentindo seu calor e sua presença. — O amor das pessoas que amo.
Tae-mo se aproxima, e eu sinto sua respiração ao meu lado. — Estou fazendo o mesmo, doutor. Finalmente consegui superar minha fobia, depois de tanto tempo. Tudo isso graças ao meu amorzinho aqui.
Ele aperta minha mão, e é como se todas as feridas do passado estivessem sendo cicatrizadas, lentamente, mas com firmeza.
Ele completa: — Esses dias, eu também visitei o pai do Ariel. Não foi fácil. Mas... ver a situação dele agora... só consegui sentir pena.
Terça-feira, 13/08/2024
Minhas músicas finalmente foram lançadas, e a banda está em turnê pelo Brasil. É surreal saber que tantos ouvem e sentem algo nas notas e letras que criei. Sinto uma felicidade profunda, como se, finalmente, parte dos meus sonhos estivesse sendo realizada. E não sou o único a viver isso. Min-ho voltou a trabalhar na empresa; ele e Lucas formaram uma parceria incrível, quase como se um completasse o outro.
À noite, estamos todos na praça Vitório e Zee, rindo, comendo e brincando. Sinto o toque do vento e o riso ao meu redor, uma sensação de liberdade que raramente vivi.
— Toma aqui, um pouco de algodão-doce! — diz Vitório.
— Pega mais um, Ariel! — acrescenta Zee, num tom gentil.
— Nossa, quanta melação! — Tae-mo brinca, rindo.
— Você e o Ariel são ainda piores! — responde Vitório, rindo também.
— Ei! — rio, entrando na brincadeira.
Tae-mo se inclina e sussurra ao meu ouvido, provocando um arrepio: — Amanhã, vamos ao nosso local secreto.
Eu não contenho a risada. — Hyung, você faz cócegas!
Zee observa a cena, suspirando. — Vocês dois são tão fofinhos...
— Também queria alguém para me chamar de hyung — ele diz, e eu percebo uma pontinha de tristeza na sua voz.
Com um sorriso sincero, respondo: — Se quiser, posso te chamar de hyung, Zee.
Ele se anima, quase gritando de surpresa: — Sério? Hyung Zee! Ah, isso é um sonho se realizando!
E então, gravando a cena em seu coração, Zee murmura, emocionado: — Vou lembrar disso para sempre.
Quarta-feira, 14/08/2024
É manhã, e estou no meio de um lago, em um barco com Tae-mo. O silêncio ao nosso redor é reconfortante; estamos deitados, deixando a água nos levar, como se o tempo tivesse parado só para nós.
— Precisamos visitar nosso antigo psicólogo de novo — diz Tae-mo, enquanto acaricia meu cabelo.
— Pena que ele se aposentou. Era incrível, ajudou tanto a gente — murmuro.
Ele faz uma pausa, e então propõe: — Que tal uma viagem? Pensei em uma viagem internacional.
Sorrio, curioso. — Para onde, hyung?
Ele responde, num tom cheio de saudade: — Primeiro, quero ir para a Coreia. Quero ver minha mãe. Ela nunca gostou de vir para o Brasil, e tenho sentido tanta falta dela...
— E depois? — pergunto, empolgado.
— Quem sabe... Inglaterra? Canadá? — ele diz, e eu posso sentir o sorriso em sua voz.
Então, sua voz assume um tom diferente, mais suave, mais sério. — Mas... estava pensando em fazer essa viagem como nossa lua de mel.
Meu coração dispara, e sinto o ar faltar por um segundo. — Hyung... o que você quer dizer com isso?
Tae-mo me segura com firmeza e, com a voz carregada de emoção, pergunta: — Você aceita se casar comigo?
Não preciso pensar duas vezes. Com a voz tremendo de felicidade, respondo: — Sim! Eu aceito! Aceitaria mil vezes, hyung!
Ele me puxa para perto, e nossos lábios se encontram em um beijo doce e profundo, cheio de promessas.
— Mas — ele sussurra, com uma pitada de humor — depois que casarmos, você terá um segurança particular.
Rio, percebendo o quanto ele quer cuidar de mim. — Claro, amor.
Ele me olha, intrigado. — Por que você mudou de ideia sobre o segurança?
Seguro sua mão e explico: — No começo, eu achava que você estava tentando me vigiar, como se não confiasse que eu pudesse me virar sozinho. Mas depois percebi... — dou uma pausa, rindo. — Minha família é rica, e você... bem, você é a pessoa que eu mais amo. Faz sentido ter alguém para garantir minha segurança.
Ele ri, apertando minha mão. — Depois do que aconteceu, meu pai mesmo insistiu para que você tivesse segurança. Eu me lembro de quando você se perdeu uma vez, e ele ficou tão preocupado que até demitiu o segurança.
Sorrio, lembrando. — Os meninos da escola que me enganaram aquele dia...
Ele segura meu rosto, e sussurra: — Não importa o que aconteça, enquanto você estiver em meus braços, nenhum mal chegará até você. Eu te amo, Ariel. Você é a razão da minha felicidade.
Sorrio, com lágrimas nos olhos, e retribuo: — Eu também te amo, Tae-mo. Estar ao seu lado é meu lugar seguro, onde posso, finalmente, me sentir em paz.
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Compromisso com terapia(Yaoi)
RomanceAriel e Tae-mo, dois jovens com passados complicados, se conhecem em um encontro às cegas e logo sentem uma conexão poderosa. Ariel, que é cego, é cativado pela presença silenciosa de Tae-mo, um rapaz com fobia social extrema que não fala em público...