Feridas incuráveis! Capítulo 18

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Domingo, 28/01/2024
Vitório narrando

Levanto-me do chão, sentindo dores pelo corpo, mas sem ossos quebrados. Olho ao redor e percebo que estou em um porão. Há várias coisas espalhadas: um armário, uma mesa… Espera, o que é aquilo? Vejo um pequeno livro em cima da mesa.

— Um diário!

Abro o livro e leio a dedicatória: “De mamãe para os meus amados filhos”. Fico imóvel, processando a descoberta. Este é o diário da mulher de que o Ariel falou! Ao olhar para a mesa, vejo várias fotos.

— São fotos do Ariel e da Ariana… quando eram crianças! — murmuro, assustado.

Meu coração acelera ao entender o que estou segurando.

— Então, este diário é da… — digo, enquanto começo a folhear as páginas com mãos trêmulas. Sento-me no canto da parede, incapaz de acreditar nas palavras que leio. A cada linha, fico mais horrorizado.

— Meu Deus! — sussurro, apavorado. — Este diário é da mãe do Ariel… ela não morreu no parto! — mal consigo controlar a voz. — O pai dele… é um monstro!

Lágrimas brotam de meus olhos. O Ariel… ele ficará destruído quando souber disso. Respiro fundo e guardo as fotos no bolso, com mãos que ainda tremem.

— O que mais há aqui? — murmuro, abrindo o armário. Assim que o faço, um grande saco preto despenca de dentro, caindo sobre mim. O saco é pesado, mas consigo empurrá-lo para o lado, ainda ofegante.

— Ai! — gemo, segurando minha cabeça, que lateja de dor. Quando olho de novo, vejo algo saindo do saco… uma mão, esquelética, esticada para fora.

— Aaaahhh! — grito, recuando instintivamente.

— É uma mão… uma mão! — murmuro, apavorado, meu corpo todo tremendo. — Meu Deus… alguém me tire daqui!

Corro até a porta e tento abrir, mas ela está trancada. Começo a chutar com força, várias vezes, até que finalmente cede. A porta dá para uma pequena escada, que sobe até a cozinha. Desço correndo pela casa e saio pela porta dos fundos, respirando com dificuldade. Mas, ao me afastar, lembro-me que Ariel ainda está lá dentro. Quando me viro para abrir a porta, alguém a abre primeiro.

— Amigo! — digo, completamente abalado ao ver Ariel.

— Amigo! — Ariel grita, abraçando-me forte.

— Por que você está assim? Você está gelado, e se tremendo todo! — ele pergunta, percebendo minha aflição.

— Amigo, precisamos sair daqui! — digo, o nervosismo transparecendo na voz enquanto as lembranças do porão me invadem.

— O que aconteceu? — Ariel me encara, preocupado.

— Eu… eu encontrei o que você estava procurando! — digo, colocando o diário em suas mãos.

— Isso é…

— Sim, é o diário da mulher.

— O que você viu lá dentro para estar desse jeito? — ele pergunta, confuso.

— Amigo, você sabe quem é essa mulher? — pergunto, segurando a mão dele.

— Quem é?

— Sua mãe.

— Minha mãe? Como assim? — Ariel olha para mim, visivelmente abalado.

— Só vamos embora daqui… é algo que você e a Ariana precisam ouvir juntos.

— Amigo, eu não estou entendendo nada! — diz ele, completamente confuso.

Seguimos para casa, eu sem coragem de contar sobre a mão que vi. A imagem ainda está clara em minha mente: um esqueleto, ossos secos, abandonados ali há muito tempo. Chegando em casa, Ariel me empurra contra a parede, sua paciência esgotada.

— Vamos, Vitório, agora me fala! — exige ele, com a voz trêmula.

— Gente, o que está acontecendo? — pergunta Ariana, vindo do quarto com uma expressão de preocupação.

— O Vitório descobriu algo e não quer me dizer!

— Não sei se sou a pessoa certa para contar isso… — digo, sentindo um frio na espinha.

— Ele encontrou o diário da mulher que estava no cativeiro comigo! — Ariel explica, entregando o diário a Ariana.

— Antes de ler, eu preciso que vocês dois sejam fortes — digo, tirando as fotos do bolso e entregando-as para Ariana.

— Por que você está com fotos nossas, de quando éramos crianças? — pergunta ela, surpresa.

— Encontrei essas fotos na mesma casa… junto com o diário.

— Ariel! — exclama Ariana, ao abrir o diário e começar a ler.

— O que foi, Ariana? — Ariel pergunta, a voz ansiosa.

— Este diário… é da nossa mãe! — ela responde, a emoção nublando seus olhos.

— Então… a mulher dos pesadelos do Tae-mo era nossa mãe? Eu… eu conheci a mamãe? — Ariel pergunta, a voz trêmula.

— Mamãe… — murmura Ariana, abraçando o diário contra o peito.

— Irmã, por favor… leia para mim — Ariel pede, incapaz de conter as lágrimas.

— Amigo, se acalme… — tento confortá-lo, mas minha voz também falha.

— Eu vou ler — diz Ariana, sua voz embargada. A cada linha, a cada frase que ela lê, vejo as lágrimas escorrendo por seu rosto. Ariel está imóvel, o olhar perdido, como se não acreditasse no que ouvia. Quando Ariana termina, está desolada, o diário caindo de suas mãos.

— Nossa mãe… sofreu tanto… — Ariel murmura, o choque estampado em seu rosto.

— Pobre mamãe… — diz Ariana, com uma tristeza profunda na voz.

— Eu… eu só queria ter tido a chance de abraçar minha mãe… — Ariel diz, antes de desabar em lágrimas.

— Ariel! — grita Ariana, correndo para abraçá-lo. Ver os dois assim me corrói por dentro. Não sei o que dizer para tentar confortá-los. Mas uma coisa é certa: entendo a dor deles, porque eu também nunca tive a chance de abraçar minha mãe, ou meu pai… e talvez nunca terei.

Depois de um longo momento, Ariel ergue o olhar, a expressão determinada.

— Onde está nossa mãe? — pergunta ele, ainda abraçado com Ariana.

— Só uma pessoa pode responder essa pergunta — diz Ariana, o olhar endurecendo.

— Você tem razão… já está na hora de enfrentarmos aquele monstro! — Ariel responde, os olhos faiscando de raiva.

— Acho que não te contei, mas nosso pai foi transferido para uma clínica.

— Quando? — Ariel pergunta, a respiração pesada.

— Ontem à tarde.

— Então vamos, Ariana. Me leve até lá! — diz Ariel, cada vez mais nervoso.

— Tem certeza? — ela pergunta, preocupada.

— Sim, é agora ou nunca.

Segunda-feira, 29/01/2024

Era manhã, e nós estávamos na clínica psiquiátrica. Ariel e Ariana entraram para falar com o pai; eu e Tae-mo ficamos na recepção. Eles precisavam resolver isso sozinhos, então achamos melhor não interferir.

— Tem algo que eu queria falar com você — disse, quebrando o silêncio enquanto observava Tae-mo.

— O que é? — perguntou ele, olhando para mim com leve desconfiança.

Respirei fundo. Sabia que seria um assunto delicado. — Sei que você está evitando falar sobre isso, mas acho que é importante…

Ele me interrompeu, com os olhos fixos no chão. — Você quer saber sobre a mãe do Ariel, não é?

Confirmei com um aceno. Notei que ele começou a respirar com dificuldade, seu rosto revelava o desconforto.

— Se preferir, podemos deixar para depois — sugeri, mas ele me interrompeu outra vez.

— Não, eu não posso fugir disso para sempre. Uma hora ou outra, eu teria que enfrentar tudo — respondeu ele, suspirando. — Na verdade… já me lembrei de tudo.

— Você já se lembrou? — perguntei, surpreso.

Ele balançou a cabeça afirmativamente. — Sim. Mesmo antes de vocês me contarem, eu já sabia que aquela mulher era a mãe do Ariel.

— Por que não contou antes?

— Porque eu não queria fazer o Ariel sofrer. Ver a mãe dele ser assassinada na minha frente foi… foi horrível — disse Tae-mo, sua voz tremendo. — O pai dele… ele a estrangulou. Ele a matou bem na minha frente.

— Meu Deus… — murmurei, horrorizado. A revelação me atingiu como uma lâmina fria. Tae-mo se esforçava para segurar as lágrimas.

Eu o encarei, vendo-o respirar fundo. — Estou orgulhoso de você, Tae-mo. Isso é… isso é muita coragem.

Ele sorriu fracamente. — Obrigado, Vitório. Finalmente consegui falar sobre isso. É como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas.

O silêncio foi quebrado bruscamente por um grito que ecoou pelo corredor.

— Seu monstro! — Era a voz de Ariel, carregada de fúria e desespero.

Corremos para a sala de visitas, onde Ariana estava chorando e Ariel se debatia de raiva. O pai deles, sentado na outra extremidade da sala, mantinha um olhar cruel e desprovido de remorso.

— Você é desprezível! — gritou Ariel, o rosto contorcido de dor.

— Desprezível era sua mãe — respondeu o pai, com uma calma aterradora. — Se eu pudesse voltar no tempo, a mataria de novo. Apertei o pescoço dela até não restar mais nenhum fôlego… ela morreu implorando por ajuda, e eu só apertei ainda mais — disse ele, com um sorriso frio.

As palavras dele gelaram a sala inteira. Ariel, tomado pelo choque, começou a ter um ataque de pânico, sua respiração ficando cada vez mais ofegante.

— Ariel! — gritou Tae-mo, desesperado, correndo para ampará-lo.

— Vamos sair daqui! — ordenou ele, pegando Ariel nos braços enquanto ele lutava para respirar. Naquele momento, eu percebi o olhar frio e implacável do pai deles, observando tudo sem nenhuma compaixão.

Depois que os enfermeiros aplicaram um calmante em Ariel, ele finalmente adormeceu, exausto e abatido.

— A partir de hoje, não tenho mais pai — sussurrou Ariana, o olhar perdido.

— Nunca mais vou deixar aquele monstro se aproximar do Ariel — prometeu Tae-mo, acariciando os cabelos do amigo adormecido.

Quando finalmente voltamos para casa, todos nós parecíamos esgotados. Ariel ainda estava visivelmente abalado, mas Tae-mo preparou um chá de camomila e logo ele voltou a adormecer. Na sala, Ariana, Tae-mo e eu trocamos olhares incertos, até que decidi falar.

— Preciso contar uma coisa a vocês. É algo que não tive coragem de dizer ao Ariel… — Hesitei, mas continuei. — No porão daquela casa, eu vi… um corpo. Na verdade, era um esqueleto. E… eu acho que pode ser da mãe de vocês.

Ariana cobriu a boca com a mão, os olhos arregalados de dor. — A nossa mãe… não teve nem um enterro digno.

Tae-mo, em choque, balançou a cabeça. — Então, o corpo que está no cemitério…?

— Temos que contatar as autoridades para fazer exames de DNA. Precisamos saber de quem é o corpo enterrado lá — sugeriu Tae-mo.

A voz dele era prática, mas eu via o sofrimento em seu rosto. — Isso vai destruir o Ariel — murmurei.

— É melhor não contarmos a ele, pelo menos por enquanto — respondeu Tae-mo, tentando encontrar uma saída.

— Não precisam se preocupar em esconder nada de mim — disse uma voz fraca atrás de nós. Ariel estava parado na porta, o olhar vazio e abatido. — Não quero que me escondam nada — murmurou, sua voz quebrada.

Ariana correu até ele, segurando suas mãos trêmulas. — Ariel, por favor… você já sofreu demais.

— Não posso fugir disso, Ariana – disse ele, respirando fundo. – A nossa mãe... Merece um descanso digno. E, para isso, eu enfrentar o que for preciso.
Tae-mo olhou para ele, os olhos marejados.- Então vamos resolver isso juntos, Ariel.

Eu, observando tudo, me dei conta de quão forte ele realmente era. Qualquer outra pessoa desmoronaria, mais Ariel... Ariel estava disposto a lutar até o fim, mesmo que isso o despedaçasse por dentro.


Segunda-feira, 05/02/2024

A polícia está investigando o caso da mãe de Ariel. A casa foi minuciosamente vasculhada, e os restos mortais foram resgatados. Os exames para identificar o corpo devem levar meses, mas cada dia que passa só aumenta a angústia de Ariel. Ele está tão abalado que mal consegue sair de casa. Por outro lado, o diagnóstico do pai dele finalmente saiu: transtorno dissociativo de identidade. Está internado, mas já começou a apresentar crises, alegando que o espírito da mãe de Ariel o persegue desde que o corpo foi descoberto. A situação, para Ariel, é insuportável.

Hoje, porém, também é um dia especial para mim: meu primeiro dia de aula como professor. São quase sete da manhã, e estou a caminho da escola, tentando afastar da mente a preocupação com Ariel para me concentrar nos alunos. Ao chegar, sou bem recebido pelos outros professores, e o ambiente parece acolhedor.

Estamos todos na quadra, e os professores começaram a chamar os alunos. Finalmente, minha vez. Com um sorriso, chamo os nomes um por um, e noto que minha turma de quarto ano tem alguns alunos mais velhos, provavelmente repetentes.

— Por aqui, crianças! — digo, guiando-as até a sala. Todos se acomodam em suas carteiras, com rostos atentos e curiosos.

— Bom dia, crianças!

— Bom dia! — respondem todos em uníssono.

Onze e quinze, o sinal toca. A primeira aula foi tranquila, embora a turma seja um pouco agitada. Aos poucos, acho que vou conseguir controlar a bagunça.

Estou na frente da escola, esperando Zee, que se ofereceu para me encontrar durante o horário de almoço. Ele chega e logo conto sobre as dificuldades que Ariel tem enfrentado. O semblante dele fica visivelmente sério.

— Oi, amor! — escuto uma voz conhecida atrás de mim.

Viro-me e vejo Paulo Vitor. Meus músculos se retesam, e sinto o sangue ferver.

— Amor, o caramba! — digo, controlando a raiva. — O que está fazendo aqui?

— Sou o novo professor de Educação Física da escola — responde ele, com um sorriso travesso. — Acho que o destino nos colocou como colegas de trabalho.

— Você disse bem… colegas de trabalho! — retruco friamente.

Ele sorri, ignorando meu tom de voz. — Ah, Vitório… eu vou te conquistar! — Ele tenta mexer no meu cabelo.

Desvio rapidamente, afastando-me. — Nem pense em tocar em mim!

Zee, que assistia a tudo, se aproxima, confuso. — O que está acontecendo?

Olho para Paulo Vitor, que ainda insiste em permanecer próximo. Com um tom firme, digo: — Está vendo esse homem aqui? — Apontei para Zee. — Ele é meu namorado. É dele que eu gosto.

Paulo Vitor franze as sobrancelhas, surpreso. — Você contou a ele sobre minha declaração?

Zee me encara, perplexo. — Ele se declarou?

Solto uma risada de desprezo. — Paulo Vitor, você é tão insignificante para mim que eu tinha até esquecido disso. E mesmo que eu lembrasse, não incomodaria meu coalinha com algo tão sem importância!

Os olhos de Paulo Vitor perdem o brilho, e ele baixa o tom de voz, claramente magoado. — Meu amor é insignificante para você?

— Nossa, que bom que você está entendendo! — respondo, com um sorriso debochado. — Agora, vamos, coalinha. Estou morrendo de fome! — digo, puxando Zee até o carro.

Quando estamos a caminho, Zee ainda parece pensativo.

— Quem era ele? — pergunta, tentando entender.

Suspiro, tentando evitar o desconforto do passado. — Lembra do namorado tóxico que eu te contei?

— Sim.

— Ele é o próprio. Aquele que tentou arruinar minha vida.

Zee aperta o volante com força, e percebo o quanto isso o incomoda. — Por que não me contou antes que ele estava te procurando?

Dou um sorriso pequeno. — Não achei que fosse algo importante. Mas prometo que, a partir de agora, vou te contar tudo, coalinha.

Ele sorri, mas logo ergue as sobrancelhas, surpreso. — O quê…? Repete o que você acabou de me chamar!

— Eu prometo?

— Não… o que você disse antes disso…

Sorrio, entendendo o que ele quer ouvir. — Hyung? — pergunto, brincando.

Ele abaixa o olhar, claramente envergonhado, mas insiste. — Diz de novo…

— Ah, não vou falar… — brinco, rindo da expressão frustrada no rosto dele.

— Não fica assim, hyunguinho! — digo, num tom carinhoso, enquanto ele tenta esconder um sorriso tímido.

— Você prefere que eu te chame de hyung ou coalinha? — pergunto, me divertindo com a situação.

Ele sorri e desvia o olhar, as bochechas vermelhas. — Coalinha… coalinha é mais fofo.

Olho para ele com carinho, vendo o quanto isso significa para nós dois. Em meio a toda essa confusão e dor, é nesses momentos simples e cheios de afeto que encontro forças.

Segunda-feira, 18/03/2024

O resultado do exame de DNA finalmente saiu. O corpo encontrado é, de fato, o da mãe de Ariel. Um alívio, mas também uma dor imensurável para ele e Ariana, que agora encaram a realidade de seu luto. No entanto, o corpo que está enterrado no cemitério ainda é um mistério. A cada dia que passa, o pai de Ariel parece perder cada vez mais a noção da realidade, já não reconhecendo ninguém ao seu redor. O laudo confirmou o transtorno dissociativo, mas não há cura para o que ele fez.



Terça-feira, 02/04/2024

O tempo passou, e, aos poucos, Ariel está se reerguendo. No domingo, fomos à praia. Ele riu, brincou, e Tae-mo o fez esquecer dos problemas, ao menos por algumas horas. Zee e eu também estamos mais felizes juntos. Sinto-me mais seguro com ele a cada dia, a ponto de não me importar mais que toque em minha ostomia. Até fiquei sem camisa na praia, algo impensável há algum tempo. São pequenos passos que me trazem de volta a autoestima.



Quarta-feira, 03/04/2024

Hoje, Ariel recebeu uma notícia inesperada: uma banda iniciando carreira o convidou para compor uma música. A proposta não envolve um grande pagamento, mas o brilho nos olhos de Ariel mostra que isso é o de menos. Ele faz isso por paixão.

— Amigo, pode chamar um Uber para mim? — pergunta Ariel, animado.

— Claro! — respondo, sorrindo.

— Vou mostrar meus esboços para o produtor e para os meninos da banda! São letras sobre o amor — diz ele, com um sorriso radiante. Vejo o entusiasmo em sua expressão, a mesma determinação que o levou a cursar quatro anos de faculdade.

— Você está realmente fazendo valer a pena! — digo, orgulhoso.

— Não tenho escolha. A música é minha paixão.

Assim que o Uber chega, olho para o aplicativo. — Ariel, seu carro é preto e está parado no final do piso tátil.

— Então é só seguir o piso tátil? — ele pergunta, um tanto confiante.

— Sim, só seguir — confirmo.

Ele agradece e, com a ajuda do piso tátil, caminha até o carro, entra e fecha a porta. Observo enquanto o carro se afasta.

Instantes depois, recebo uma mensagem estranha do motorista no aplicativo:
“Cadê você?”

Confuso, respondo: “Como assim? Meu amigo já entrou no carro!”

“Não, ele não entrou”, rebate o motorista.

Meu coração acelera e, sem pensar, grito em desespero: — Ai meu Deus!

Nesse momento, um homem se aproxima por trás de mim. — Moço, você chamou um Uber?

Viro-me, quase sem ar. — Quem é você?

— Sou o motorista do Uber, estou aqui há alguns minutos esperando.

— Então... então onde meu amigo entrou?! — Minha voz sai embargada de medo.

Ele aponta para um carro preto parado do outro lado da rua. — Aquele é o meu carro.

O mundo ao meu redor parece girar. As palavras se misturam, meu pensamento escurece, mas a verdade me atinge em cheio: Ariel entrou no carro errado. — Quem levou o Ariel? — solto em um grito desesperado, já sentindo uma onda de desespero tomar conta de mim.

Compromisso com terapia(Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora