O diário da mamãe! Capítulo 17

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De: Mamãe
Para: Meus Filhos
(Narrado por Helena)

Segunda-feira, 11/06/2001

Estou completamente chocada. Estou grávida. Como vou contar isso para o oppa? Ele é uma pessoa difícil, controladora... Se eu não fizer suas vontades, ele fica furioso. Mas, para minha surpresa, a reação dele foi inesperada: ele ficou feliz com a notícia. Mesmo assim, sinto um peso no coração. Não quero que meus filhos cresçam nessa cultura tóxica e rígida da Coreia que ele tanto venera, mesmo estando em outro país.

Sexta-feira, 19/04/2002

Hoje, minha alegria é completa. Tive um casal de gêmeos, e eles são lindos! Mas o oppa quer colocar nomes coreanos. Não aceito. Fui eu quem carreguei durante nove meses, eu quem enfrentei as dores do parto! Esta noite, estamos em um jantar na casa dos pais dele, e seu pai, como sempre, faz questão de destacar o “sangue puro” da família.

— Você já decidiu os nomes? — questiona meu sogro, olhando diretamente para mim.

— Já, pai. A menina será Su-ji, e o menino Su-ho! — responde oppa com firmeza, sem me consultar.

— Nós ainda não decidimos nada! — digo, também firme.

— Eu sou o pai, o homem da casa. Já está decidido! — ele diz, com raiva reprimida, os olhos faiscando.

De volta para casa, ele explode em fúria.

— Já te disse: meus filhos não vão ser criados nessa cultura nojenta que você tanto ama!

— Nojenta é a cultura coreana? Se depender de mim, eles nem pisam na Coreia!

— Não me desafie, Helena, senão…

— Senão o quê? Não tenho medo de você!

Segunda-feira, 22/04/2002

Estou no cartório com meus filhos. O oppa pensa que vai dar aqueles nomes horríveis para eles, mas está muito enganado. Finalmente, chamam meu nome para o registro.

— Qual o nome, dona Helena? — pergunta o funcionário, caneta em punho.

— O menino vai se chamar Ariel, e a menina, Ariana!

— E o pai? — ele questiona, desconfiado.

— Está muito ocupado para vir, mas trouxe todos os documentos dele.

Ele assente, e o registro é feito.

Terça-feira, 23/04/2002

Oppa está furioso. Não aceita os nomes que escolhi e está decidido a recorrer. Ele grita comigo, a raiva destilando de cada palavra.
— Você é uma desgraça maldita!

— Já está feito. Agora se conforme!

— Vou recorrer!

— Não tem como. Já registrei, seu idiota! — digo em tom de deboche, tentando controlar o tremor nas mãos.

Quarta-feira, 24/04/2002

Estou na casa de uma amiga, desabafando sobre tudo o que tem acontecido.

— Você precisa fugir dessa relação tóxica! — grita ela, a voz aflita.

— E eu vou. Para bem longe!

— Mas o que você pretende?

— Vou fugir. Levarei meus filhos comigo.

Segunda-feira, 06/05/2002

Já comprei as passagens, e amanhã à noite partimos para a Inglaterra. Juntei dinheiro o suficiente e preparei tudo na casa da minha amiga, levando apenas o mínimo para que oppa não desconfie. Mais tarde, ele chega do trabalho, aparentando um bom humor que raramente mostra.

— Como vão meus tesouros? — pergunta, acariciando os bebês com um sorriso largo.

— Vamos tomar uma taça de vinho? — ele sugere, mas hesito.

— Não estou com muita vontade.

— Vamos, preciso comemorar algo! — insiste, pegando a garrafa e servindo as taças.

— Liga a TV para mim, quero ver as notícias!

Concordo, tentando parecer natural. Aceito a taça que ele me estende, e brindamos. Logo, coloco os bebês no berço. Já está tarde, mas uma leve tontura começa a me dominar. Algo não está certo…

— Então, você pensou que podia fugir de mim? — a voz dele soa ameaçadora, tão próxima, tão sombria.

— O quê? — balbucio, já quase sem forças.

— Vai aprender a nunca mais me desafiar! — diz ele, enquanto tudo ao meu redor escurece e perco os sentidos.

Acordo em um quarto desconhecido, o coração disparado. Dou um salto da cama e corro até a porta, mas está trancada. Grito por socorro, mas ninguém responde. Olho ao redor, encontrando apenas uma cama, um guarda-roupa e um pequeno banheiro.

Terça-feira, 07/05/2002

— Ei! Acorda! — desperto com o oppa gritando no meu ouvido, a voz ríspida, impiedosa.

— Que palhaçada é essa? — murmuro, ainda sonolenta, tentando focar minha visão.

— Está gostando da sua nova rotina? — ele diz, com um sorriso cruel.

— Você tá louco? — questiono, sentindo uma onda de desespero crescer.

— Você não queria fugir? Pois bem, eu te ajudei! — ele responde com sarcasmo.

— Como você soube? — meu coração acelera, a sensação de estar sendo vigiada me consome.

— Achou que eu não sabia das passagens de avião? — ele ri, aquele riso seco e ameaçador.

— Você tá me seguindo?

— Eu tenho ótimos informantes. Depois da palhaçada que você fez com os nomes dos meus filhos, coloquei gente para te vigiar! — a satisfação em sua voz é evidente.

— Você tá completamente louco! Eu quero sair daqui! — grito, a voz tremendo de fúria e medo.

— Você queria tanto educar meus filhos longe de mim, mas agora o jogo virou. Agora, você vai me ver criando nossos filhos na cultura que você tanto despreza! — ele se aproxima, a ameaça em seu olhar me fazendo recuar.

— Não, por favor, não faça isso! — digo, ajoelhando-me aos pés dele, em um ato de desespero.

— Isso! Se humilha! — ele grita, a voz alta, carregada de desprezo.

— Oppa, por favor! — suplico, minha voz já fraca de tanto chorar.

— Tchau, meu amor! — ele sai, trancando a porta atrás de si.

— Oppa! Não me deixa aqui! — grito, desesperada, mas ele já se foi.

As horas se arrastam enquanto permaneço deitada no chão, exausta de tanto chorar. Ao meu lado, vejo uma sacola. Dentro, há comida, um pequeno livro em branco e algumas canetas. Ele quer que eu apodreça aqui, em meio às lembranças da vida que me roubou.

Segunda-feira, 17/03/2003

Hoje é o aniversário de um ano dos meus filhos. Cada dia longe deles é uma tortura. Esse vazio me destrói, me suga, a saudade me esmaga. E ele… ele veio até aqui, trazendo fotos dos meus filhos, como se fosse algum tipo de prêmio cruel. Eles estão tão fofinhos nas fotos que minha vontade é gritar, mas as lágrimas me dominam. Tento guardar cada detalhe, cada expressão deles, como se fosse tudo o que me resta.

Quinta-feira, 15/02/2007

Hoje, o insuportável trouxe mais fotos. Os gêmeos começaram na educação infantil, e nas fotos parecem tão felizes. Será que ele está sendo um bom pai? Ele mencionou, quase como uma provocação, que Ariana quer ser médica. Meu coração se encheu de orgulho pela minha doce princesa, mas o orgulho logo se transforma em dor. Ela não sabe quem eu sou. Eles não sabem nada de mim.

Quinta-feira, 03/07/2008

Hoje, vi meu Ariel. Ver meu filho, vê-lo de perto, me trouxe uma felicidade tão grande que quase não cabe em mim. Mas logo me pergunto: por que ele trouxe nosso filho aqui? Por que trancar o próprio filho? Ele está completamente louco! Observo o buraco por onde Ariel passou e penso em fugir por ele. Mas logo perco as esperanças: o espaço é pequeno demais, e mesmo se tentasse, a ventilação provavelmente não suportaria meu peso.

Estou triste por não poder dizer a verdade para o meu filho. Além de deixá-lo confuso, temo que o pai dele faça algo, algum ato cruel, se souber que Ariel conhece a verdade. Mas eu preciso escapar daqui. Eu preciso encontrar uma maneira de levar meus filhos para longe desse pesadelo.

Compromisso com terapia(Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora