A misteriosa mulher de longos cabelos escuros! capítulo 15

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Sexta-feira, 27/06/2008

Estava brincando com minha irmã, Ariana. Era um jogo de esconde-esconde, e eu precisava encontrar um lugar perfeito, porque ela sempre me encontrava rápido demais. Corri para o jardim, onde estavam vários carros estacionados, já que papai estava em reunião com seus colegas de trabalho. Notei que o porta-malas de um dos carros estava aberto, então, sem pensar muito, pulei para dentro e me escondi debaixo de alguns lençóis que estavam ali.

O tempo passou e nada da Ariana aparecer. O silêncio foi quebrado por vozes.

— Então vamos direto para lá! — disse um homem, entrando no carro. Em seguida, ouvi o barulho da tampa do porta-malas se fechando, trancando-me dentro.

Meu coração disparou. E agora? Como vou sair daqui? Pensei, apavorado.

O carro começou a se mover. Tentei não fazer barulho, com medo de ser descoberto, mas minha ansiedade só aumentava. Depois de algum tempo, o carro parou e ouvi alguém abrir o porta-malas. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, colocaram algo pesado sobre os lençóis. Não consegui ver o que era, mas sabia que agora eu não estava mais sozinho ali dentro.

O carro seguiu por um longo tempo. Eu estava ficando com sede, e o ar dentro do porta-malas parecia cada vez mais sufocante. Finalmente, o carro parou e ouvi o barulho da tampa sendo destrancada. A luz invadiu o porta-malas, e o susto tomou conta de mim.

— Que merda é essa? — gritou um homem mascarado, surpreso ao me ver ali.

— Quem é esse moleque? — perguntou outro homem, em tom áspero.

— Onde eu tô? — consegui murmurar, sentindo o pânico crescer.

— Em um lugar bem longe da sua casa, garoto — respondeu o homem, enquanto me puxava para fora do porta-malas. Quando saí, vi o que eles haviam colocado comigo: era outro menino, que estava dormindo, com os braços amarrados.

— O que a gente faz com ele? — perguntou um dos homens, referindo-se a mim.

— Tranca ele junto com o outro garoto! — ordenou o outro.

— Eu não quero ficar trancado! — protestei, chorando enquanto um dos homens me segurava.

— É só por hoje, bebê. Amanhã você vai pra casa. — Ele mentiu com um tom falso de compaixão.

Ao meu redor, só conseguia ver árvores altas e uma casa sombria de dois andares, com janelas quebradas e musgo crescendo nas paredes. O homem me levou para dentro da casa e me colocou em uma cama num quarto escuro, enquanto o outro garoto foi jogado no chão, ainda amarrado. Eles saíram e trancaram a porta com um estrondo que ecoou pela casa.

O tempo passou, e o silêncio do quarto começou a pesar. Finalmente, ouvi o garoto acordando, ofegante.

— Me soltem! — gritou ele, tentando se libertar das cordas.

— Calma, calma! — murmurei, tentando acalmá-lo. Me aproximei e comecei a fazer carinho no seu cabelo.

Ele me olhou, ainda assustado. — Quem é você?

— Sou o Ariel — respondi, com uma voz trêmula.

Ele respirou fundo e deixou as lágrimas caírem. — Meu braço tá doendo muito — disse ele, chorando. As cordas apertavam seus pulsos, deixando marcas vermelhas em sua pele.

— Eu vou te ajudar! — prometi, desatando as cordas o mais rápido que consegui.

Ele me olhou com gratidão. — Obrigado! — sussurrou, massageando os pulsos.

— Qual é o seu nome? — perguntei, tentando distrair minha própria mente do medo.

— Tae-mo.

Eu suspirei, tentando manter a coragem. — Eu tava brincando de esconde-esconde… me escondi no carro, e agora tô aqui!

— Quantos anos você tem? — ele perguntou, parecendo um pouco mais calmo.

— Seis.

— Eu sou mais velho que você, então eu sou o seu hyung. — Ele sorriu, como se isso nos desse uma sensação de normalidade.

— Hyung, onde a gente tá? — perguntei, minha voz quase sumindo.

Ele olhou ao redor, seu rosto perdendo o pouco de cor que tinha. — Eu… eu não sei. Eles me pegaram na frente da minha escola. Ariel, acho que a gente foi sequestrado.

A palavra era estranha, e eu não a entendia direito. — O que é sequestrado?

— São pessoas más que pegam outras pessoas e trancam em quartos… — ele murmurou, os olhos cheios de medo.

— Eu não quero tá sequestrado! — gritei, chorando e segurando a mão dele.

Segunda-feira, 30/06/2008

Os dias passam, e o medo só cresce. Esses homens são cruéis com meu hyung, Tae-mo. Ontem, um deles deu um tapa em seu rosto, deixando uma marca vermelha e inchada. Ele só tem recebido pão e água para comer, enquanto eu posso pedir o que quiser. Até sorvete eles me deram, mas ficam sempre de olho, garantindo que eu não ofereça nada ao hyung.

Hoje, trouxeram dois pedaços de bolo para mim. Sinto o olhar dos homens me vigiando enquanto como, mas vejo uma oportunidade.

— Ei, cara, olha isso! — diz um dos homens mascarados, mostrando algo no celular para o outro, que estava me observando.

Aproveito o momento de distração e, rápido, escondo os dois pedaços de bolo nos bolsos.

— Acabei! — digo, fingindo mastigar com a boca cheia.

— Mais tarde, venho trazer sua janta! — diz o homem, saindo do quarto e trancando a porta.

Assim que ele sai, corro até a cama onde hyung está deitado, pálido e fraco.

— Hyung, toma!... Eu guardei bolo pra você! — digo, tirando os pedaços de bolo dos bolsos.

Ele me olha com surpresa e uma gratidão silenciosa.

— Como você conseguiu? — pergunta ele, com a voz fraquinha, quase um sussurro.

— Dei um jeitinho. — Tento soar animado, ajudando-o a se levantar.

— Vamos dividir.

— Não, é só pra você! Come tudo! — coloco os pedaços de bolo em suas mãos e insisto.

— Obrigado... — ele murmura, começando a comer com avidez. Ver ele comer me alivia, mas também aumenta minha angústia.



Quarta-feira, 02/07/2008

É noite, e estou deitado, olhando para o teto escuro. Um leve brilho de luz passa por uma pequena brecha, revelando algo estranho no forro.

— Olha, hyung, o forro parece que tá meio solto! — sussurro, apontando.

Ele levanta um pouco a cabeça, tentando ver melhor. — É mesmo… agora que você falou, também achei estranho.

— Vamos dar uma olhada! Me ajuda a empurrar o guarda-roupa.

Tae-mo, ainda fraco, se levanta e juntos empurramos o guarda-roupa para debaixo do pedaço de forro solto.

— Me ajuda a subir! — peço, subindo nas costas dele até alcançar o topo do guarda-roupa. Consigo puxar o pedaço do forro, revelando uma passagem estreita.

— E então, o que tem aí? — ele pergunta, ansioso.

— Hyung, é uma entrada de ventilação! Dá pra ver o outro lado! — me entusiasmo, a voz baixa para evitar chamar atenção.

— Eu tô fraco, Ariel... não vou conseguir subir — ele diz, com tristeza.

— Vou entrar! — decido, arrastando-me pelos canos de ventilação, tentando fazer o menor ruído possível.

O espaço é apertado e escuro. Meu coração bate tão forte que parece ecoar no silêncio. Rastejo até encontrar outra abertura, onde posso espiar o cômodo ao lado. Abaixo-me e espreito pelo buraco, e lá vejo uma mulher de longos cabelos escuros, sentada em uma mesa. Ela parece abatida, e seus olhos têm um brilho melancólico, como se carregassem anos de sofrimento.

De repente, sem querer, minha mão faz um leve ruído ao tocar o forro. Meu coração dispara. A mulher se vira rapidamente, os olhos arregalados.

— Que barulho foi esse? — ela murmura, a voz tensa e assustada.

Será que ela me viu?

— Você! — ela exclama, com a voz entre o espanto e o alívio, enquanto lágrimas começam a escorrer por seu rosto.

— A senhora me conhece? — pergunto, com medo e curiosidade misturados.

Ela leva alguns segundos para responder, como se tentasse entender se eu era real. — O que você faz aqui? — pergunta, ainda enxugando as lágrimas.

— Fui sequestrado... eu e meu amigo. Estamos trancados no quarto ao lado. Encontrei essa brecha no forro, e consegui chegar até aqui.

Ela parece incrédula. — Sequestrado, você disse?

— Sim, senhora!

Ela respira fundo, parecendo absorver a informação. — Mas… como?

— Eu tava brincando de esconde-esconde com minha irmã. Me escondi no porta-malas de um carro… e agora estou aqui.

A mulher me olha com um misto de tristeza e compreensão. — Então, você é como eu — diz com a voz embargada, quase como se falasse consigo mesma.

— Como assim, senhora? — pergunto, meu peito apertado.

— Eu também fui sequestrada... mas estou aqui há anos.

— Há quanto tempo? — minha voz sai tremida, com medo da resposta.

Ela suspira, o olhar perdido. — Uns quatro anos...

Minha respiração falha. — Quê? — murmuro, o terror crescendo em mim.

Ela me encara, o rosto endurecendo. — É melhor você ir. Eles podem voltar a qualquer momento. Se te encontrarem aqui, pode ser perigoso… pra você e pro seu amigo.

Sinto um nó na garganta, mas faço que sim com a cabeça. Antes de me afastar, lanço um último olhar para aquela mulher, como se tentasse memorizar seu rosto, como se ela fosse uma parte de um pesadelo que ainda não entendo completamente.


Quinta-feira, 03/07/2008

— Ei, acorda! — grita um dos homens mascarados ao abrir a porta do quarto abruptamente.

— Hã? — murmuro, ainda sonolento e confuso.

— Ei, moleque, vem aqui! — Ele se aproxima e puxa o hyung, Tae-mo, pelos cabelos, arrancando-o da cama.

— Aaaai! — grita Tae-mo, a dor visível em seu rosto.

— Quero que você escreva uma carta para o seu pai, dizendo que está bem!

Tae-mo, com lágrimas escorrendo pelo rosto, pergunta em meio ao choro:

— Eu vou voltar para o meu pai?

O homem responde com frieza:

— Se você fizer o que estou mandando, sim.



Sexta-feira, 04/07/2008

É de manhã, e o homem acabou de sair do quarto depois de trazer o café da manhã. Mas hoje, algo diferente acontece. Hyung olha para o chão e exclama, surpreso:

— Ariel, uma chave!

— Será que é da porta? — pergunto, esperançoso.

Tae-mo se apressa em testar a chave na fechadura, mas logo a expressão dele se desanima.

— Não é...

— Poxa... — sussurro, tentando esconder minha decepção.

Mas hyung parece ter uma ideia. — E se essa chave for do quarto ao lado? Daquela mulher misteriosa...

— Bora tentar! — digo, animado.

Nós dois subimos pelo sistema de ventilação. Ao chegar ao quarto ao lado, chamo baixinho:

— Ei, senhora!

A mulher, ainda sentada e escrevendo, se levanta ao ouvir minha voz.

— Oi! — responde ela, aproximando-se rapidamente.

— Eles deixaram cair essa chave. Não abriu nosso quarto, então pensamos que poderia ser a sua! — explica hyung, jogando a chave para ela.

Ela a insere na fechadura, e a porta se abre. Seus olhos brilham com alívio e alegria.

— Abriu! — diz a mulher, emocionada.

— Finalmente vamos fugir daqui! — exclama hyung, e eu sinto um peso enorme sair de meu peito.

Ela nos encara com seriedade. — Vocês têm que descer!

Hyung e eu concordamos. Ele quebra o forro e pula em cima da cama dela, me ajudando a descer em seguida. Assim que ficamos cara a cara, a mulher me envolve em um abraço apertado, como se eu fosse algo muito precioso.

— Não acredito que estou te abraçando! — ela sussurra, a voz carregada de emoção.

— Não estou entendendo... — digo, confuso.

Ela respira fundo e enxuga as lágrimas. — Um dia você vai entender. Agora precisamos fazer silêncio. Não sabemos se tem gente na casa.

Ela segura minha mão e a de hyung. Cautelosamente, abre a porta do quarto, espiando pelo corredor. Avançamos sem fazer barulho, descendo lentamente a escada que leva ao térreo.

— Vamos, crianças! — diz a mulher, incentivando-nos com um sussurro.

De repente, uma voz familiar ecoa pela casa.

— Como eles saíram do quarto?! — grita meu pai, furioso, ao nos ver.

— Papai! — exclamo, correndo em sua direção, mas a mulher me segura com firmeza.

— Não, Ariel! — ela sussurra, agarrando meu braço.

— Me larga! É o papai! Ele veio nos buscar! — insisto, lutando contra seu aperto.

Ela troca um olhar rápido com hyung e diz em voz baixa: — Fuja com ele. Eu vou tentar atrasá-lo.

Hyung segura minha mão com força. — Vamos, Ariel! — diz ele, puxando-me com urgência.

— Mas é o papai! — choro, sentindo um conflito dentro de mim enquanto hyung me puxa pelas escadas.

Corremos, mas antes que eu consiga descer muito, sinto uma mão forte me agarrando. Olho para cima e vejo o rosto de meu pai, seus olhos cheios de ódio. Minhas pernas tremem.

— Aonde vocês pensam que vão? — sua voz sai fria, ameaçadora, enquanto me segura pelo braço com força.

— Solta ele! Por que tá fazendo isso?! — grita hyung, a voz cheia de desespero.

Olho para o rosto de meu pai, procurando o homem que conhecia, mas só vejo uma máscara de raiva. O medo me paralisa.

— Papai... por que tá apertando meu braço assim? Tá doendo! — imploro, lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Cala a boca! — ele grita, a voz fria e cortante, fazendo com que eu me encolha de medo.

— Ariel! — hyung grita, desesperado, tentando chegar até mim.

Meu pai o encara com fúria. — Tá vendo, Tae-mo? Tá vendo o que você tá me obrigando a fazer? Isso é tudo culpa sua! — Ele grita, suas palavras cheias de uma frieza que me apavora.

— Não! — grita hyung, enquanto lágrimas de horror enchem seus olhos.

— A morte do Ariel é sua culpa! Sua culpa! — diz meu pai, a voz gélida, enquanto me empurra escada abaixo com força. Sinto meu corpo se chocar contra os degraus, cada impacto me fazendo perder o controle. Um golpe forte atinge minha cabeça, e a dor é insuportável.

— Ariel! — ouço o grito distante de hyung enquanto minha visão começa a escurecer.

Meu pai desce as escadas, sua expressão distorcida pela raiva.

— Se ele sobreviver, ele vai ser um traumatizado. Um pai jamais faria isso, então a culpa é sua! — Ele olha para hyung com um ódio puro, como se estivesse destruindo não só nosso corpo, mas nossa alma.

Hyung, chorando, murmura em desespero: — É minha culpa… minha culpa…

— Isso, a culpa é sua! — rosna meu pai.

De repente, a mulher aparece atrás de meu pai, a voz trêmula e fraca, mas cheia de determinação. — Seu desgraçado, afaste-se dessas crianças!

No meio da confusão, sinto a mão de hyung segurando meu rosto. Seus olhos estão cheios de desespero e remorso.

— É minha culpa, Ariel! É minha culpa… — ele repete, como se estivesse preso em um pesadelo do qual não consegue escapar.

Meu corpo começa a ficar pesado, e minha visão embaça enquanto as palavras de hyung ecoam. Sinto meus olhos fecharem lentamente, meu corpo cedendo ao vazio que me consome, ouvindo apenas a voz trêmula de hyung sussurrando: “É culpa minha... culpa minha...”

Compromisso com terapia(Yaoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora