Sexta-feira, 04/07/2008
Ao olhar ao meu redor, percebo algo que, à primeira vista, me parece irreal: vejo o meu corpo, ali, imóvel e sem vida. Aterrorizada, compreendo a verdade dolorosa – estou morta. Levanto-me e observo a cena ao meu redor: Ariel está desacordado, com um grande ferimento na testa que não para de sangrar. O pequeno Tae-mo, em estado de choque, chora sem parar, pois acabou de ver o oppa me estrangulando, preso no horror da cena.
— Ele… ele matou a mulher! — grita Tae-mo, sua voz trêmula e repleta de terror.
— Não, Tae-mo, essa mulher já estava morta há muito tempo. Ela é um fantasma que nos perseguia — responde o oppa, com uma frieza que congela o ambiente.
— Um… fantasma? — Tae-mo mal consegue formular a pergunta, aterrorizado.
— Sim. E sobre o Ariel, ele ficou preso na janela. Você tentou ajudar, mas ele acabou caindo.
— Então… foi minha culpa? — Tae-mo pergunta, chorando, os olhos cheios de culpa e angústia.
— Infelizmente, sim… mas sei que você não fez por mal. Foi um acidente — diz o oppa, com um tom falso de consolo.
— Foi minha culpa! — grita Tae-mo, em meio a soluços, enquanto o oppa lhe cobre o rosto com um lenço, fazendo-o adormecer.
A frieza nos olhos do oppa é arrepiante. Ele observa as duas crianças desacordadas com um sorriso de vitória, como se estivesse comemorando o sucesso de seu plano sombrio. Pouco tempo depois, seus cúmplices chegam ao local, e o oppa abre uma maleta cheia de dinheiro, distribuindo entre os homens. O plano deu certo: ele conseguiu uma grande fortuna como resgate dos meninos.
Depois, o oppa leva as crianças ao hospital e faz uma ligação para o pai de Tae-mo, que chega desesperado, mal conseguindo conter as lágrimas.
— Meu filho… onde ele está? — pergunta Jun-ho, com a voz embargada.
— Calma, Jun-ho. Seu filho está bem, ele agora está em observação — responde o oppa com um tom calculado. Logo, o médico aparece.
— Como está meu filho, doutor? — pergunta Jun-ho, aflito.
— Seu filho está bem, apenas muito assustado — diz o médico, tentando tranquilizá-lo.
— E… meu filho, doutor? — o oppa pergunta, simulando uma expressão de preocupação.
— O caso dele é mais complicado. Ele sofreu um forte impacto na cabeça e está em coma — responde o médico.
— Meu filhinho! — diz o oppa, fingindo chorar, encenando uma tristeza que só engana os desavisados.
— Mas… o que aconteceu? — questiona Jun-ho, confuso.
— Não sei se devo te contar — diz o oppa, limpando as falsas lágrimas.
— Preciso saber… me conte! — implora Jun-ho.
— Consegui seguir os sequestradores sem que me vissem, mas quando perceberam minha presença, fugiram… e levaram o dinheiro. Quando cheguei, encontrei as crianças. Ariel estava desacordado, e Tae-mo, desesperado, tentava acordá-lo. Tae-mo me contou que Ariel caiu da janela por causa dele… ele estava tentando ajudar, mas… aconteceu o acidente.
— O quê?! — Jun-ho grita, estarrecido.
— Parece que eles tentaram escapar pela janela, e foi isso que resultou nesse desastre — explica o oppa, friamente.
— Meu filho deve estar apavorado. Preciso vê-lo! — diz Jun-ho, entrando no quarto.
O oppa conseguiu o que queria: ficou com o dinheiro e ainda manipulou Tae-mo para que acreditasse que foi o culpado pelo acidente de Ariel. Eu, no entanto, assisto tudo do canto da sala, como uma sombra invisível. Vejo o oppa entrando no quarto, fitando Ariel na cama, com aquele olhar gélido.
— Você é o único que pode me desmentir, mas já foi fácil manipular o idiota do Tae-mo — murmura ele, com um sorriso cruel.
— Acho que você não vai lembrar de nada, meu querido. E, se lembrar, sinto muito… — ele sussurra friamente, acariciando o rosto de Ariel de maneira sombria.
Sábado, 09/08/2008
O trauma foi devastador: Tae-mo perdeu a fala. Seu pai o levou a vários especialistas, mas nada adiantou. Agora, Tae-mo se comunica com o terapeuta apenas por cartas, onde descreve cada cena que acredita ter vivido no cativeiro, mas essas lembranças são distorções, armadilhas implantadas pelo perverso oppa.
Enquanto ele dorme, aproximo-me lentamente, invisível, e sussurro no ouvido dele:
— Você precisa proteger o Ariel.
Segunda-feira, 05/10/2009
Passou-se mais de um ano, e Ariel ainda permanece em coma. Todos os dias, Tae-mo vai à casa dele depois da escola. Passa horas acariciando o cabelo de Ariel, com um olhar que mistura tristeza e esperança. Ariana, irmã de Ariel, também costuma se juntar a ele no quarto, e juntos observam aquele corpo inerte, preso a aparelhos. Ver meu filho assim, preso entre a vida e a morte, despedaça meu coração.
Tae-mo agora se comunica por libras, e, aos poucos, parece superar o trauma, voltando a sorrir. Quem sabe um dia ele voltará a falar.
Segunda-feira, 02/08/2010
Dois anos se passaram, e Ariel continua em coma. Fiel, Tae-mo visita-o todos os dias após a escola e permanece ao seu lado, acariciando sua cabeça. Ariana também vai direto ao quarto do irmão.
— Como ele está hoje? — pergunta ela a Tae-mo.
— Ele… ele sorriu! — responde Tae-mo em libras, os olhos brilhando de emoção.
— Sério? — Ariana quase grita, surpresa.
— Sim. Eu estava fazendo carinho na cabeça dele, e de repente ele… sorriu.
— Será que ele sentiu cócegas? — Ariana pergunta, intrigada.
— Não sei…
De repente, uma voz fraca quebra o silêncio:
— Que dor de cabeça…
Ariana corre até a cama, com lágrimas nos olhos.
— Irmão, você acordou! — ela exclama.
Mas Ariel, confuso, olha ao redor, incapaz de ver.
— Por que… eu não estou vendo nada? — pergunta ele, virando-se de um lado para o outro.
Tae-mo, desesperado, aperta a mão de Ariel, chorando em silêncio. Como o oppa previa, Ariel não se lembra do sequestro, apenas de vislumbres, como o olhar triste de Tae-mo.
Quarta-feira, 04/08/2010
Sentindo-se culpado, Jun-ho, o pai de Tae-mo, decide assumir a responsabilidade por Ariel. Ele pressiona Tae-mo, talvez mais do que deveria, a cuidar de Ariel. Devido à cegueira de Ariel, Tae-mo não consegue se comunicar diretamente com ele. Ariel faz perguntas sobre o menino que estava no cativeiro, mas todos preferem não contar que era Tae-mo.
— Meu filho, a partir de agora você precisa cuidar de Ariel. Você será responsável por ele! — diz Jun-ho, com um tom severo.
— Eu assumirei sua educação, pagarei professores particulares, o que for necessário para que Ariel seja o mais independente possível — afirma Jun-ho, decidido.
Sexta-feira, 21/03/2014
Com o apoio de Jun-ho, Ariel tornou-se independente. Recebeu educação em casa, aprendendo a se cuidar sozinho. Mas os pesadelos sobre o sequestro persistem, sombrios e confusos. Desde que acordou do coma, ele e Tae-mo nunca interagiram, e o tempo apenas afastou qualquer laço que poderiam ter formado.
Hoje é o aniversário de Ariel, e Jun-ho acredita que é o momento certo para revelar a verdade a ele sobre Tae-mo. Todos estão reunidos em sua casa, inclusive Ariana.
— Vamos apagar as velas, Ariel! — diz Ariana, após o parabéns.
— Sim — Ariel responde, com um sorriso tênue. Como sempre, Tae-mo está logo atrás dele, observando-o com atenção. De repente, o garçom tropeça e, tentando se equilibrar, empurra Tae-mo. Sem querer, Tae-mo cai sobre Ariel, que acaba com o rosto enfiado no bolo.
— Ariel! — grita Ariana, assustada.
Tae-mo, desesperado, começa a se desculpar em libras, mas Ariel não vê suas desculpas.
— Quem me empurrou? — pergunta Ariel, furioso, limpando o rosto coberto de bolo.
Ele se vira, encarando Tae-mo.
— Eu sei que foi você, que estava atrás de mim! — acusa Ariel, sentindo-se humilhado.
Tae-mo esboça um riso contido ao ver o rosto de Ariel sujo de bolo, mas Ariel, com ouvidos sensíveis, ouve a risada e se irrita ainda mais.
— Você está rindo de mim, seu ridículo! — diz Ariel, furioso.
Tae-mo tenta se desculpar novamente em libras, mas Ariel, sem ver, continua a provocação.
— Então vai ficar calado? — diz Ariel, cada vez mais furioso.
— Ariel, ele está tentando pedir desculpas… — Ariana tenta intervir, mas o oppa a interrompe.
— Fique quieta! — ele sussurra.
Alguns convidados, cúmplices do oppa, começam a rir da cena, zombando de alguém que tenta se comunicar em libras com um cego.
Ariel, já envergonhado, sente-se exposto e humilhado.
— Estão todos rindo de mim! — ele diz, sua voz embargada pela vergonha e pela raiva.
— Parem de rir do meu filho! — grita o oppa, teatralmente, fingindo indignação.
— Ariana, me tira daqui… — Ariel pede, soluçando.
Sábado, 22/03/2024
Ariel estava profundamente magoado com o que acontecera. Ele acreditava que Tae-mo não se importava, que sequer tentou se desculpar, e isso o feriu de um jeito que ele não conseguia ignorar. Era ridículo que ninguém lhe contasse a verdade. Tinham medo que Ariel recordasse o “acidente”, aquele terrível episódio que o próprio Jun-ho e o oppa suspeitavam ter sido culpa de Tae-mo. Mas nada disso importava para Ariel, que, sozinho em seu quarto, chorava sem parar.
Não demorou muito até que Jun-ho entrasse no quarto, a passos silenciosos, e sentou-se ao lado dele, acariciando seus cabelos.
— Oi, filho — disse ele, tentando trazer algum conforto.
— Eu quero ficar sozinho, por favor — Ariel respondeu, com a voz embargada.
— Eu sei que está chateado com o Tae-mo…
— Desculpe dizer, mas o seu filho é um mal-educado! — Ariel rebateu, com raiva.
— Ele não fez por mal.
— Fez, sim! O senhor viu que ele riu de mim!
— Se vocês conversarem, podem se entender.
— Eu não tenho nada para falar com aquele ridículo! — exclamou Ariel, endurecendo a expressão.
Jun-ho suspirou e decidiu abrir o coração.
— Ariel, há algo sobre Tae-mo que preciso contar… Algo que carrego há anos.
— Eu não quero saber nada sobre ele! — Ariel gritou, em uma mistura de dor e desespero.
— Mas…
— Por favor, pai… não insista.
Jun-ho suspirou, resignado, enquanto deixava o quarto, sentindo a angústia que pairava entre os dois rapazes.
Segunda-feira, 24/03/2024
— O que vamos fazer? Ariel não quer falar com o meu filho! — desabafou Jun-ho, exausto.
— Ontem, até tentei conversar — respondeu o oppa —, mas Ariel fica furioso ao ouvir o nome do Tae-mo.
— Tae-mo está muito triste, mas o psicólogo disse que precisamos esperar. É o próprio Tae-mo que deve tentar se comunicar com Ariel… Só assim ele pode realmente se abrir e voltar a falar.
— Talvez com o tempo, a raiva de Ariel passe — disse o oppa, resignado.
Quarta-feira, 14/12/2016
Os anos se passaram, mas a raiva de Ariel permaneceu, como uma sombra. Para dar-lhe algum alívio, Jun-ho e o oppa decidiram contar que Tae-mo foi estudar na Inglaterra. Agora, em uma tarde nublada, Ariel havia acabado de encerrar suas aulas particulares. Seu professor já fora embora, deixando-o com seus próprios pensamentos.
Ariel andava exausto, com olheiras profundas, atormentado pelos pesadelos que insistiam em lhe trazer vislumbres do sequestro. Sentindo-se solitário e cada vez mais sufocado, Ariel chegou ao limite.
Durante o jantar, tomou coragem e, com firmeza, quebrou o silêncio:
— Pai, preciso te dizer uma coisa.
— Diga, meu filho — respondeu o oppa, atento.
— Quero ir para a escola — disse Ariel, com determinação.
— Mas você tem tudo de que precisa aqui — retrucou o oppa, surpreso.
— Ele podia estudar na minha escola! — sugeriu Ariana, esperançosa.
— Quieto, Ariana! — o oppa cortou, sem paciência.
Ariel, contudo, manteve-se firme.
— Pai, eu me sinto muito sozinho. Não tenho amigos, fico trancado em casa o tempo todo. Preciso viver, preciso conhecer o mundo. Eu sei que fui sequestrado quando criança, mas isso já passou! Preciso seguir em frente.
— O mundo é cruel, Ariel. Ainda mais para pessoas como você…
— Pai, sou cego, mas não sou uma criança indefesa. Eu sei cuidar de mim mesmo — Ariel respondeu, com maturidade.
Ele tomou fôlego e, com um sorriso decidido, completou:
— Ano que vem, quero muito fazer o ensino médio em uma escola.
O oppa respirou fundo, absorvendo a força das palavras do filho, e enfim cedeu.
— Está bem, meu filho. Ano que vem, você irá para a escola.
Um sorriso radiante iluminou o rosto de Ariel.
— Muito obrigado, pai! — ele respondeu, emocionado.
Ariana não disse nada, mas o brilho em seus olhos mostrava o quanto estava feliz por ele.
Quarta-feira, 11/01/2017
— Mês que vem, Ariel começa a estudar na escola! — disse o oppa, quase resignado.
— Ele ainda não desistiu dessa ideia? — perguntou Jun-ho, franzindo o cenho.
— Ariel está crescendo, Jun-ho. Mais cedo ou mais tarde, ele vai querer conhecer o mundo lá fora. E eu não nego que isso me preocupa… ainda mais depois de tudo que ele já passou — o oppa respondeu, mas seu tom tinha um toque de cinismo.
Jun-ho suspirou e baixou a cabeça.
— Sei que não posso mudar o mal que meu filho causou a Ariel… mas prometo que ele estará seguro enquanto estiver fora de casa.
— Não culpe Tae-mo. Foi só um acidente — o oppa respondeu, quase como quem quer encerrar o assunto.
— Vou contratar seguranças para cuidar do Ariel, e também um motorista. Ele vai para onde quiser, mas sempre estará protegido — completou Jun-ho, determinado.
Quinta-feira, 12/01/2017
— Vou transferi-lo de escola — anunciou Jun-ho.
— Por quê? — perguntou Tae-mo em língua de sinais, confuso.
— Mês que vem, Ariel começa a estudar em uma escola. A mesma escola da Ariana.
— Que bom! — Tae-mo respondeu com um leve sorriso, sem esconder um certo brilho nos olhos.
— Vou te transferir para lá também. Sua obrigação é garantir a segurança de Ariel. Aonde quer que ele vá, você o seguirá. Contratei um segurança para observá-lo de longe, mas ele ficará fora da escola, para não chamar atenção.
— Entendi, pai. Qualquer emergência, eu aviso imediatamente — respondeu Tae-mo, mais sério.
Segunda-feira, 06/02/2017
Era o primeiro dia de aula de Ariel, e ele estava ansioso. Ele e Ariana haviam acabado de entrar no carro, e logo atrás seguia o segurança, discretamente. Quando chegaram, Tae-mo já estava na frente da escola, esperando por Ariel. Ao ver o sorriso animado de Ariel, Tae-mo sentiu o peito acelerar. Mas sua tarefa era clara: observar de longe, sem ser notado. Durante o intervalo, Tae-mo mal podia conter a ansiedade; ele contava os minutos para ver o rosto de Ariel enquanto ele comia.
Terça-feira, 19/05/2017
— Por que aquele garoto está tocando o rosto de Ariel? — Tae-mo pensou, sentindo uma pontada de ciúmes. Ele estava vermelho de raiva e tristeza.
— O que você está fazendo aí? — perguntou um colega, que o observava de longe.
— Nada — respondeu Tae-mo, gesticulando em língua de sinais.
— Olha só, Ariel e Marcos! Que fofos — comentou o colega com um sorriso.
— Não entendi? — Tae-mo perguntou, confuso.
— Todo mundo sabe que o Marcos gosta do Ariel, e parece que eles vão se encontrar amanhã na praça! — Ao ouvir isso, Tae-mo sentiu um aperto no peito e uma tristeza que seus olhos não podiam esconder.
— Que cara é essa? Ficou assim por quê? — questionou o colega, desconfiado.
— Não é nada… — respondeu Tae-mo, tentando disfarçar.
— Não minta! Você também gosta do Ariel? — o colega perguntou, incrédulo. — Já percebi como olha para ele!
— Já disse que não! — Tae-mo rebateu, e em seguida saiu correndo, lutando contra as lágrimas.
Ele se escondeu no banheiro, onde finalmente deixou as lágrimas escorrerem. Aquela mistura de dor e ciúme era nova e avassaladora.
Ao chegar em casa, Jun-ho logo notou a tristeza nos olhos do filho.
— O que aconteceu? Por que está assim? — perguntou Jun-ho, preocupado.
— Eu… eu gosto do Ariel, pai… gosto muito — Tae-mo disse, pela primeira vez usando sua voz. Era tão frágil e triste que mal parecia sair dele, mas as palavras foram logo seguidas por lágrimas que deslizaram pelo rosto.
Jun-ho, surpreso e emocionado, abraçou-o forte, como quem ampara um coração partido.
— Meu filho… você falou! — exclamou Jun-ho, incrédulo e ao mesmo tempo aliviado. Ele chorou junto com Tae-mo, sentindo o quanto aquele momento era importante.
— Eu gosto do Ariel, pai. Hoje eu o vi com alguém… Não quero perdê-lo. Não quero… — disse Tae-mo, a voz entrecortada pelo choro.
Jun-ho acariciou-lhe os cabelos e prometeu, com firmeza:
— Nós vamos dar um jeito nisso, meu filho. Ariel ainda não sabe, mas vocês nasceram para estar juntos.
Vendo a melhora de Tae-mo, Jun-ho rapidamente ligou para o psicólogo e convocou o oppa para uma conversa. Quando o oppa chegou, Jun-ho o pôs a par da situação.
— Então seu filho gosta de garotos? — perguntou o oppa com um sorriso debochado.
— E o seu também — rebateu Jun-ho, firme.
— Parece que esse tal de Marcos vai se encontrar com Ariel amanhã.
— Meu filho envolvido com brasileiro? — gritou o oppa, indignado.
— É essa sua preocupação? — Jun-ho questionou, incrédulo.
— Não me importo que goste de garotos, mas essa gentalha…!
— Nesse caso, deixa meu filho namorar o Ariel!
— Está esquecido? Ariel mal suporta seu filho!
— Mas Ariel é a chave para a cura de Tae-mo. Conversei com o psicólogo, e se eles se aproximarem, talvez Tae-mo supere essa fobia que o aflige.
O oppa suspirou, pensativo.
— Meu filho é novo demais para namorar.
Jun-ho sorriu, com um brilho de determinação nos olhos.
— Então vamos noivá-los no futuro. Não quer perder essa aliança, quer? — sugeriu Jun-ho, lançando a proposta como uma armadilha.
O oppa refletiu, e um sorriso cínico despontou em seu rosto.
— Interessante… Darei a ele ações da minha empresa como presente de noivado. Isso nos uniria bem.
— Então temos um acordo. Mas como vão se comunicar? Ariel é cego, e Tae-mo não fala.
— O psicólogo já tem uma solução. E sobre a identidade de Tae-mo… melhor não dizer a Ariel que é ele. Diremos que é alguém escolhido para cuidar dele — sugeriu Jun-ho.
— Quanto a isso, deixe comigo — disse o oppa, confiante.
Quarta-feira, 20/05/2017
— O pai do Ariel foi muito rude com ele! — Tae-mo comentou, com os sinais das mãos expressando claramente a tristeza.
— Eu estou me sentindo tão culpado... — Tae-mo continuou, com um peso na voz.
Jun-ho olhou para o filho, seu coração apertado ao perceber a agonia estampada no rosto de Tae-mo. Ele suspirou pesadamente, sentindo-se impotente.
— Meu filho, eu queria tanto ouvir sua voz... — Jun-ho disse, quase num sussurro, tentando controlar a emoção que ameaçava transbordar.
Tae-mo olhou para o pai, seus olhos cheios de pesar, e não conseguiu esconder a dor que sentia.
— Ariel está triste, e mais uma vez eu fui o culpado... — disse Tae-mo, com as mãos tremendo. Ele sentiu como se a culpa o consumisse, e o peso daquela situação se tornava mais insuportável a cada instante.
Terça-feira, 06/06/2017
Jun-ho encontrou uma maneira de enviar Marcos para a Inglaterra em um intercâmbio, e o resultado foi o afastamento de Ariel. A ausência de notícias de Marcos deixou Ariel profundamente triste, uma saudade silenciosa que ele não sabia como lidar.
Era manhã, e Tae-mo estava no consultório psicológico, um passo pequeno, mas significativo. Ele finalmente havia conseguido pronunciar algumas palavras para o doutor, embora ainda estivesse distante de conseguir se abrir totalmente.
— E em relação aos seus pesadelos, eles pararam? — perguntou o doutor, tentando ser o mais gentil possível.
— Eu ainda sonho com aquela mulher... — Tae-mo gaguejou, o medo e a angústia ainda claros em sua voz. Sua mente não conseguia escapar do pesadelo que o assombrava.
— É sempre o mesmo sonho! Duas mãos estrangulando ela na minha frente... mas eu nunca consigo ver quem está fazendo isso! — Tae-mo continuou, quase sem fôlego, lutando contra a lembrança aterrorizante.
O doutor o observou atentamente, notando a dificuldade do jovem.
— Isso... muito bem, parece que estamos evoluindo! Agora, continue...
— Não consigo! — Tae-mo respondeu, mais uma vez em libras, frustrado consigo mesmo.
— Às vezes sonho com essa mulher andando no meu quarto... — ele continuou, um suspiro escapando de seus lábios.
Nesse momento, uma batida na porta interrompeu o silêncio do consultório.
— Doutor! — uma mulher chamou.
— Pode entrar! — respondeu o doutor.
A porta se abriu e a mulher entrou com uma expressão animada.
— Doutor, o Ariel já chegou e está esperando na recepção! — ela informou, com um sorriso.
A menção de Ariel fez Tae-mo se virar rapidamente, seu rosto iluminado por uma expressão que, por um breve momento, se livrou da tristeza.
— Ariel... — ele murmurou, sua voz falha e suave.
O doutor sorriu, percebendo a reação de Tae-mo. Ele sabia que o jovem estava se soltando aos poucos, e isso era um avanço significativo.
— Huum... então, o Ariel realmente te faz falar? — questionou o doutor, com um olhar curioso.
— Fala para ele entrar! — pediu o doutor, sabendo que o momento de Tae-mo estava prestes a chegar.
— Eu já vou! — Tae-mo respondeu, levantando-se imediatamente, sentindo uma onda de ansiedade misturada com excitação.
O doutor o interrompeu com suavidade.
— Não precisa, Tae-mo. Apenas sente no sofá e faça silêncio.
— Você quer ver o Ariel, né? — o doutor perguntou, com um sorriso leve.
— Sim... — Tae-mo respondeu, um sorriso tímido surgindo em seu rosto.
Quando Ariel entrou na sala, Tae-mo o observou com atenção, e a expressão triste que estava em seu rosto desapareceu quase instantaneamente. A presença de Ariel parecia trazer uma luz que iluminava seu coração, mesmo que por um momento.
O psicólogo, percebendo a mudança na expressão de Tae-mo, decidiu aproveitar a oportunidade para falar sobre ele, mas sem revelar sua identidade.
— E como é o nome dele? — Ariel perguntou, curioso, querendo saber mais sobre o misterioso jovem que seu coração parecia já conhecer de algum lugar.
O psicólogo hesitou antes de responder.
— Nisso você vai ter que ter paciência, Ariel. Ele tem dificuldade de dizer o nome, passou por situações difíceis no cativeiro envolvendo seu nome. — O psicólogo disse com um tom sério, criando uma história que se encaixaria bem na narrativa, sem despertar mais perguntas.
Ariel olhou para o psicólogo, surpreso e intrigado, mas logo olhou para Tae-mo, sentindo uma conexão inexplicável com ele.
— E você não pode me contar? — perguntou Ariel, esperançoso.
O psicólogo balançou a cabeça, com um olhar profundo.
— Não, Ariel. Isso é algo que ele precisa superar por conta própria. Ele precisa dizer o nome dele a você, então não pressione. Quando ele se sentir confortável, ele te contará.
Ariel olhou para Tae-mo, tentando entender, seu coração batendo mais rápido.
— Então, como eu vou chamar essa criatura, então? — Ariel perguntou, brincando levemente, mas com os olhos cheios de curiosidade e carinho.
O psicólogo olhou para Tae-mo, que então fez um gesto com as mãos, respondendo em libras.
— Ele pode me chamar de hyung. — disse Tae-mo, de forma delicada.
O psicólogo traduziu para Ariel.
— Você pode chamá-lo de “hyung”! — completou, com um sorriso.
Segunda-feira, 04/12/2017
O tempo passou, e o tão aguardado dia do encontro às cegas entre Ariel e Tae-mo finalmente chegou. Os dois se deram tão bem, e a comunicação entre eles, feita em código Morse, parecia um segredo compartilhado que só aumentava a ligação entre ambos. Na manhã seguinte, Tae-mo acordou radiante, sentindo-se leve como há muito tempo não se sentia, livre dos pesadelos que o atormentavam.
As aulas já haviam terminado, mas Tae-mo continuava observando Ariel de longe, encantado por cada pequeno detalhe. Enquanto esperavam, o oppa apareceu na escola.
— Então, ontem foi divertido, não foi? — perguntou ele, olhando para Tae-mo.
Tae-mo, ainda com um sorriso tímido, respondeu:
— Eu e Ariel temos muito em comum...
O oppa o interrompeu, sério.
— Ouça bem, Tae-mo. Vou te dizer uma coisa, e quero que entenda claramente. Eu não quero que você tenha qualquer envolvimento romântico com Ariel. — A voz do oppa era firme e ameaçadora.
— O quê? — Tae-mo respondeu, perplexo.
— Vocês podem manter uma amizade social, talvez até no futuro ficar noivos, mas apenas por conveniência. Mas você nunca deve tocar no meu filho.
Tae-mo respirou fundo, o peito apertado.
— Isso é ridículo! Eu gosto do Ariel, e não posso fingir que somos só amigos. Ele significa muito para mim!
— Isso é apenas uma amizade, Tae-mo. E para ser honesto, eu só aceitei essa aproximação porque está ajudando na terapia do meu filho — respondeu o oppa, com frieza.
O olhar de Tae-mo se encheu de dor e revolta.
— E você acha que o que eu sinto pode ser ignorado? — ele perguntou, sentindo a amargura transbordar.
— A relação de vocês nunca vai dar certo. E o que você acha que vai acontecer quando Ariel descobrir que foi você o responsável por ele ter perdido a visão? — O oppa concluiu, deixando Tae-mo completamente em choque.
O oppa ainda acrescentou, com um tom ameaçador:
— E não conte nada disso ao seu pai, isso é um segredo nosso. Se você abrir a boca, eu vou proibir você de ver o Ariel de verdade.
Assim que o oppa se afastou, Tae-mo cobriu o rosto com as mãos, lágrimas silenciosas escorrendo por seus dedos. Seu coração estava em pedaços, esmagado pelas palavras do oppa e pela cruel realidade que não sabia como enfrentar.
Quarta-feira, 03/04/2024
Ariel estava entusiasmado, sua alma preenchida pela alegria de estar compondo uma nova música. A música estava pronta, e ele mal podia esperar para mostrá-la ao produtor. Vitório, um amigo de longa data, estava com ele em frente à sua casa.
— Amigo, pode chamar um Uber para mim? — pediu Ariel.
— Claro! — respondeu Vitório, já chamando o carro.
Logo, um carro preto se aproximou, e Vitório pensou que era o Uber.
— Amigo, ele já chegou. Se você seguir o piso tátil, vai encontrá-lo facilmente! — orientou Vitório.
— Obrigado! — disse Ariel, com um sorriso antes de entrar no carro.
— Para a gravadora Peixe dos Sonhos, por favor. Acho que você já sabe onde é. — Ariel estava tranquilo, mas não percebia que havia entrado no carro errado. Min-ho, o verdadeiro motorista, estava em choque, surpreso com a presença inesperada de Ariel em seu carro.
Sem pensar duas vezes, Min-ho ligou o carro e começou a dirigir, sem revelar sua identidade.
— Você é daqueles motoristas de Uber que ficam em silêncio, né? — brincou Ariel.
— Eu... eu não sou um Uber — respondeu Min-ho, com a voz baixa e tensa.
— Min-ho! — Ariel exclamou, sua voz carregada de surpresa e desconforto.
— O que está acontecendo? — perguntou Ariel, a ansiedade crescendo.
Min-ho respirou fundo antes de responder, a voz tremendo.
— Vou ser honesto, Ariel... Eu realmente tenho te seguido. Mas é porque eu preciso te contar algo importante.
— Pare o carro, eu quero sair! — exigiu Ariel, a mão buscando a maçaneta da porta.
— Por favor, me escute! — implorou Min-ho, o desespero em sua voz.
— Não tenho nada para conversar com você! — Ariel rebateu, firme.
— Ariel, eu estou doente! — Min-ho revelou, com uma voz frágil.
— Doente? — Ariel murmurou, surpreso.
— Estou com câncer nos olhos. Devido a isso, vou ter que removê-los. Eu já fiz uma cirurgia de um lado... Agora falta o outro. — Min-ho falou, lágrimas descendo pelo seu rosto enquanto Ariel ouvia, comovido.
— Eu sinto muito, Min-ho — Ariel disse, a voz quase falhando, sentindo uma dor inexplicável pelo sofrimento de alguém que, um dia, fez parte de sua vida.
— Desculpe por não ter te ajudado naquela época... Eu sabia a verdade, e fui um idiota.
— Que bom que você sabe. Mas... isso já passou, Min-ho. — Ariel disse, tentando manter a calma.
Min-ho sorriu de leve, mas ainda assim, seus olhos transbordavam tristeza.
— Eu te segui esses dias, mas nunca tive coragem de falar. Eu... eu estou com medo, Ariel. Não tenho amigos e precisava desabafar com alguém. — A voz de Min-ho estava repleta de dor.
— Eu sei que vai ser difícil, mas você vai se adaptar. Não tenha medo, Min-ho. — Ariel respondeu, com ternura.
Min-ho parou o carro, pois haviam chegado à gravadora.
— Chegamos. Não se preocupe, não vou mais te incomodar. Eu só queria que você soubesse.
— Adeus, Min-ho — Ariel disse ao sair do carro, a voz levemente embargada.
— Ariel, espere! — Min-ho saiu do carro, desesperado para falar mais uma vez.
Nesse momento, Tae-mo surgiu na entrada da gravadora, com o rosto contorcido de raiva e decepção.
— O que está acontecendo aqui? — Tae-mo perguntou, a voz carregada de ciúmes e desconfiança, olhando fixamente para Min-ho.
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Compromisso com terapia(Yaoi)
RomansaAriel e Tae-mo, dois jovens com passados complicados, se conhecem em um encontro às cegas e logo sentem uma conexão poderosa. Ariel, que é cego, é cativado pela presença silenciosa de Tae-mo, um rapaz com fobia social extrema que não fala em público...