Capítulo 21 | Culpa.

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Acordo sozinha na cama, como já esperava na noite anterior. Me levanto para tomar um banho, sentindo-me uma idiota por ter cedido tão facilmente à influência de Lucky.

Quando termino, recolho minhas roupas do chão e vou até meu irmão. Ele está jogado no chão da sala, assistindo a algum filme aleatório.

Passo por ele e dou um chute em sua perna para chamar sua atenção. Ao me ignorar completamente, sei que minha pegadinha da noite passada funcionou.

- Não vai falar comigo, Fratellino? - digo com um sorriso maldoso no rosto.

- No, mi hai bruciato la faccia con quel maledetto dentifricio. Sei pazzo? - (Não, você queimou meu rosto com aquela merda de pasta de dentes.) Ele responde emburrado, sem tirar os olhos da TV.

- Olha para mim. - Ele se vira e nenhuma marca do desenho de palhaço que fiz em seu rosto com a pasta pode ser vista. - Não exagera. Nem está vermelho.

- Eu acordei com a pasta de dente dura na minha cara, praga.

- Você pediu por isso. - Rio sozinha.

Nesse momento, ouço a porta de entrada se abrir e, em seguida, Lucky passa rapidamente pela sala sem sequer nos olhar. Eu e Antonie nos encaramos em dúvida, e pouco depois, Lucky surge novamente com uma bolsa de viagem aparentemente cheia.

- Ei, onde vai? - Pergunto.

- Vou passar uns dias fora.

- Vê se não volta. - Antonie diz, voltando a assistir seu filme.

Um frio na barriga me consome. Será que ele vai passar alguns dias fora porque transamos? Ele ficou tão incomodado a esse ponto?

- E para onde você vai? - Pergunto, ignorando o nó em minha garganta.

Lucky parece perceber meu desconforto e levanta o olhar do celular para repousar sobre meu rosto por alguns instantes.

- Vou reencontrar um amigo de longa data. Foi meio inesperado. - Ele sai, batendo a porta e me deixando cheia de perguntas.

Me sento no sofá, olhando para um ponto fixo e me afogando em arrependimento. Penso no que Simmon fez a ela e imediatamente sinto meu estômago doer e ânsia de vômito.

Levanto-me rapidamente do sofá, correndo até o banheiro social. Me ajoelho em frente ao vaso e tudo o que consigo fazer é segurar meu cabelo antes de vomitar. Ouço Antonie correr até o banheiro, preocupado.

- Ayla? O que foi? O que você está sentindo?

- Sai!

- Quer que eu te leve ao hospital? Comeu algo que te fez mal? - Sinto meu irmão passar a mão por minhas costas.

- Eu disse, sai! - Grito com Antonie, empurrando-o para fora do banheiro e fechando a porta, trancando-a em seguida.

Lavo o rosto e a boca para me livrar do gosto do vômito e me encaro no espelho. Vejo as lágrimas encherem meus olhos, embaçando minha visão.

Encosto minhas costas no azulejo gelado e escorrego até me sentar no chão. Sinto um buraco em meu peito e uma vontade avassaladora de gritar.

Me perco em meio às lágrimas ao ponto de sentir o ar faltar pelos soluços. Não há nada que eu possa fazer. Simmon a matou. E tudo o que posso fazer é carregar esse peso sozinha.

Ouço duas batidas na porta e a voz reconfortante e preocupada de Antonie do outro lado depois de um tempo.

- Você está melhor, Sorellina?

Enxugo as lágrimas do rosto e me levanto do chão. Lavo meu rosto e dou descarga, destrancando a porta.

Assim que abro a porta, Antonie me recebe com um abraço forte. Foi o suficiente para me fazer desabar novamente. Sinto minhas pernas ficarem fracas.

- Por favor, me conta o que está acontecendo. Eu nunca te vi assim. Isso me parte em mil pedaços. Por favor. - Antonie passa uma das mãos por meu cabelo.

Não tenho forças para sequer respondê-lo. Há um nó tão grande em minha garganta e um vazio tão presente em meu peito que meus pensamentos não são capazes de ganhar palavras.

Quando me acalmo, Antonie me puxa até a sala, se sentando no sofá junto comigo e segurando minhas mãos firmemente. Vejo o desespero e a preocupação em seus olhos.

- Eu... Eu não posso falar disso agora... - Abaixo a cabeça, buscando fugir de seus olhos. - Não estou pronta. Não ainda.

- Tudo bem, eu estou aqui. Independente do que for, eu estou aqui. - Ele abraça minha cabeça, me puxando para seu peito.

Passo meus braços em volta de sua cintura, me ajeitando em seu abraço. Sinto uma de suas mãos alisar minhas costas enquanto a outra brinca com minha orelha, algo que ele faz desde que éramos pequenos.

[...]

Já fazem dois dias desde que eu desabei nos braços de meu irmão. Estou sentada no sofá com um balde de pipoca no meio de minhas pernas, assistindo novamente ao meu filme favorito.

Antonie ficou receoso de sair para mais um de seus tão amados rachas e me deixar sozinha em casa. Mas definitivamente não quero sair de casa para nada, e não posso deixar que Antonie fique preso comigo.

Acho que o assustei demais naquele dia. Desde então, ele se tornou mais pegajoso do que o normal, me rodeando 24 horas por dia. Apesar disso, tive tempo o suficiente para pensar sozinha durante as noites não dormidas.

Definitivamente foi um erro dormir com Lucky novamente. Não posso deixar que me use assim. Qualquer coisa que venha dele apenas vai me machucar de novo. Se tivesse a chance, com certeza abriria a outra sobrancelha daquele babaca.

Quanto ao outro assunto, que me fez perder todas as barreiras que criei em volta dele, não posso dizer que estou 100% pronta para falar a respeito. Mas a preocupação de Antonie é outra coisa que me mata por dentro.

E, como meu irmão e a única pessoa que confio nesse mundo, ele merece saber. Afinal, de certa forma, isso também diz respeito a ele.

Sinto novamente o nó se formar na minha garganta e logo afasto o pensamento por ora. Não preciso pensar nisso, apenas saborear o raro momento de paz que estou tentando.

Foco minha atenção no filme, mas ela logo é interrompida por um barulho do lado de fora. Me levanto do sofá e vou até uma das janelas que dá visão para o quintal.

Tudo parece normal. Acendo as luzes do quintal e vou até a porta de vidro, abrindo-a o suficiente para que minha cabeça passe. Olho para os dois lados e, quando a única coisa que me recebe é a brisa gelada da noite, entro novamente.

Assisti filmes de terror o suficiente para saber que é sempre assim que alguém morre. Tranco a porta de vidro e fecho as cortinas. Vou até a porta de entrada, conferindo a janela ao lado da porta. Novamente, não encontro nada. Tranco a porta e volto para a sala.

Deixo o balde de pipoca na pia, desligo a TV e me tranco no meu quarto, pulando no edredom e me embolando como uma criança assustada.

Rio da minha idiotice, mas não ouso me mover um centímetro. Nos filmes de terror, aqueles que se escondem tende a sobreviver por mais tempo.

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Oi pessoas!

Seguinte, como minhas aulas voltaram e vou ter que voltar a me dedicar a aquele hospício- digo, faculdade... Os caps vão ficar menores.

No entanto, vou me esforçar para trazer cada vez capítulos maiores, até porque estamos nos aproximando do final da primeira parte do livro! 🥳

A partir de agora as coisas vão mudar bastante e obv, vamos ter muitas respostas e mais mistérios ainda! 🛐🙏

Mas, peço desculpas por esse pequeno lance de ter que diminuir os caps, é que eu realmente preciso dormir e a noite é o único horário que tenho para escrever com calma. Mas vou tentar trazer pelo menos um cap longo por semana para compensar.

Insta: @autoraaladdin

É isso, não esqueçam de votar e comentar bastante para mim saber se vocês estão gostando. Até o próximo cap. 😗

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