Capítulo 10 | Cicatrizes.

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- Ton, vai na rua hoje comigo? - começo entregando o prato de panquecas para ele.

- Não. - ele responde.

- Tá bom. - puxo o prato de volta antes que ele pudesse encostar em uma panqueca.

- Golpe baixo! - ele exclama, estendendo o braço para pegar o prato. Tiro de seu alcance, pego uma panqueca e dou uma mordida.

- Hum, que delícia! Acertei na mão dessa vez! - digo, dobrando os joelhos e revirando os olhos exageradamente. Olho para ele com cara de cachorro abandonado.

- Vai na rua comigo ou não?

- Vou, mas por que você não pode ir sozinha? - devolvo o prato para ele.

- Porque eu não sei andar pelas ruas de Monterrey.

- Mas o que você quer na rua?

- Tinta.

- Pra quê? Já não adesivou a casa toda? Não disse que eu tinha bom gosto?

- De cabelo, Antonie.

Ele para de mastigar e me encara incrédulo, como se eu fosse um bicho de sete cabeças ou como se eu tivesse acabado de confessar que matei uma pessoa e precisasse da ajuda dele para esconder o corpo.

- Eu sou a cara dele. Tudo em mim grita ele e eu não quero mais. Quero tirar tudo deles de mim, como você fez. Cada semelhança. Quando eu me olho no espelho, vejo o Simmon. Não eu. E toda vez que me olho no espelho, me lembro do que ele fazia comigo. Como me batia para se sentir melhor consigo mesmo, já que você se impôs contra ele. - As memórias voltavam e me causavam nojo.

- Mas você nunca chegou a ver o pior que ele fazia comigo. Depois de um tempo, parou de doer; Eu só não sentia mais nada. Mas nunca te contei porque... porque sei que você iria querer mata-lo. - viro de costas para Antonie, tirando a blusa do pijama e revelando minhas costas com roxos e cicatrizes do que Simmon fazia comigo.

- Ele me batia com qualquer coisa que achasse conveniente. Quando não abria cortes na minha pele... ele mesmo fazia. Me cortava como um brinquedo... E se eu gritasse ou chorasse, ele fazia pior.

Sinto Antonie passar as pontas dos dedos onde sei que tinha a maior cicatriz, que vai quase de fora a fora na diagonal das minhas costas.

- Essa foi a única vez que gritei por socorro. Para que Dominique me salvasse. Para que você me salvasse. Ou qualquer outra pessoa. Mas você não estava em casa; Estava em um dos seus encontros de carros. Você não me ouviu. E ele me amarrou e passou no mínimo uma hora... fazendo isso...

Olho para Antonie por cima do ombro; Sua face se mistura em confusão, ódio e horror. Ele sabia que Simmon me batia, mas não assim.

- Quem fez isso com você, Ayla? - Ousa a voz de Lucky, e rapidamente visto a blusa novamente, me virando.

Ele está apoiado nas costas do sofá, com os braços cruzados. Sua expressão é igual a de Antonie.

- Eu preciso disso. - falo para que apenas Antonie possa ouvir e passo por ele, encarando Lucky e indo para meu quarto. Fecho a porta e a tranco, grudando as costas nela.

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