Capítulo 04 | Peso invisível.

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Entramos os três juntos no motel. Antonie ficou entre mim e Lucky durante todo o trajeto, acho que para impedir que ele pulasse no meu pescoço. Por que eu não iria fazer nada. Não conseguia. Estou em choque demais até para reagir se Lucky pulasse no meu.

As últimas horas batem na minha cabeça em looping: Lucky reapareceu depois de anos, minha casa foi revirada, a morte da mamãe, tivemos que fugir de casa, meu irmão lidando com tudo isso com normalidade e se mantendo calmo, e o que Lucky falou.

Ao entrarmos no quarto, nos deparamos com apenas uma cama de solteiro. Olho para Antonie tentando entender o que isso significava, e ele estava tão confuso quanto eu. Na verdade, acho que é a única coisa que sinto além de medo: confusão.

– Hum... Deve haver algo errado... O quarto deveria ter uma cama de casal... – Antonie diz, revendo o número na chave do quarto.

– E onde isso melhora as coisas, idiota? Somos três, esqueceu? – Lucky rebate com raiva.

– E uma de solteiro. Se me deixasse terminar de falar, poderia poupar suas palavras, igual fez por anos. Você parece bom nisso.

Ok. Talvez ele não esteja lidando com a normalidade que eu achei que estava. Mas a última coisa que eu quero agora é uma briga.

Ainda estou parada na porta enquanto os dois adentram o quarto, se encarando em puro ódio, como se pudessem se matar ali mesmo.

Antes que isso aconteça ou que comecem a berrar, entro no quarto e fecho a porta. No lugar onde a porta de entrada estava aberta, há outro aro, um espaço para uma segunda porta, mas com uma cortina de miçangas. A atravesso e encontro um segundo cômodo com uma cama de casal.

– É, Antonie, eu sou muito boa em poupar palavras quando a vida de que eu me importo está em jogo.

– Que porra você está falando?!

– Ei! Meninas, tem uma cama de casal aqui. – Digo, colocando metade do corpo de volta no cômodo onde os dois brigavam.

– Foda-se. – Antonie encara Lucky uma última vez e sai do quarto.

Não penso duas vezes em ir atrás dele, deixando Lucky sozinho no quarto. Quando a porta se fecha com força atrás de mim, posso ouvir Lucky xingando do outro lado. Mas eu não ligo, não para ele.

[...]

Encontro Antonie apoiado no meu mais novo carro, fumando. Vou até ele. Ele não parece querer conversar, então apenas me sento no capô perto dele e fico em silêncio. Não sei ao certo quanto tempo passou, mas o nosso silêncio estava me deixando desconfortável, diferente do comum.

– Me dá um – Digo para Antonie, estendendo a mão.

– Um o quê, praga?

– Um cigarro, anda. – Balanço os dedos em sua direção.

– Não.

– Por que não?

– Porque você é uma criança. – Antonie rebate, como se fosse óbvio.

– Eu não sou uma criança, Antonie.

– Não. – Reforça.

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