Capítulo 23 | Último suspiro.

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Já era noite quando finalmente tomei coragem para mostrar uma das minhas feridas mais profundas ao meu irmão. Fui até a sala de jogos, onde o encontrei sentado em um dos puffs jogando um jogo de carro.

Me joguei ao seu lado, puxando o controle do console e fazendo o jogo pausar. Fui recebida com um xingamento e logo em seguida com um leve chute nas pernas.

— Antonie, lembra daquele dia em que eu passei mal?

— Ay, se você não quiser falar agora, tudo bem.

— Não. Passei os últimos quatro dias pensando a respeito. E não diz respeito apenas a mim, mas a você também. Você merece saber. Além disso, acho que vai me fazer bem contar para alguém.

— Tudo bem. Mas se você não quiser...

— Cala a boca e escuta, pode ser? — Ele concorda com a cabeça, compreensivo.

— Ok... — Respiro fundo. — Você não é trouxa. Sabe que, quando éramos mais novos, eu era apaixonada pelo Lucky e...

— Vocês não dormiram juntos, né?!

— Cala a boca, Antonie!

— Desculpe.

— Enfim... Naquela época, nós ficávamos de vez em quando, e isso virou um tipo de namorico escondido. Há quatro anos, alguns dias depois daquela maldita festa para me apresentar ao meu "futuro noivo" — Faço aspas no ar, revirando os olhos. — Eu tive o pior e melhor choque de realidade da minha vida.

— Eu estava passando...

Ouvimos um barulho de algo se quebrando, e eu e Antonie levantamos na mesma hora.

Vimos uma movimentação na garagem da casa, e Antonie fez um sinal para que eu ficasse dentro do salão de jogos. Quando Antonie pôs o pé para fora da sala, o som de um tiro veio até mim, me fazendo abaixar e cobrir a cabeça, olhando assustada na direção de Antonie, que também estava abaixado.

Logo em seguida, outro tiro foi ouvido e mais um. Antonie fez um sinal para que eu ficasse em silêncio, colocando o indicador na frente dos lábios.

Ele pôs a cabeça para fora da porta e voltou rapidamente. Fez um sinal para que eu me aproximasse e, assim que o fiz, ele começou a sussurrar.

— Tem alguém na casa. Devem ser só alguns ladrões. Você está com o celular?

Balanço a cabeça negando.

— Então você vai dar a volta pela garagem e vai sair daqui, entendeu?

— Não! Tá maluco?

— Você vai chamar a polícia e eu vou ficar aqui. Está tudo bem.

— Não está, não. Você não ouviu? Foram tiros. Eu vou repetir caso não tenha entendido: ti. ros. Essa pessoa está armada. Você vai junto comigo, Antonie.

— Tudo bem. Vem.

Ele puxou meu braço e atravessamos o jardim abaixados para não sermos vistos das janelas da casa. Quando chegamos na garagem, me deparei com um homem caído. O motorista de Lucky.

Quase soltei um grito ao ver a poça de sangue abaixo da cabeça dele e a marca clara de um tiro na testa. Coloquei as duas mãos na boca para abafar qualquer barulho que eu pudesse fazer.

— Antonie! Esse cara... Esse cara é amigo do Lucky. Já vi eles juntos algumas vezes...

Olhei para Antonie, encarando fixamente a arma ainda na mão do homem.

— Não!

— É nossa única chance. — Ele pegou a arma da mão do homem. Ouvimos barulhos na frente da casa sentido a garagem e, sem pensar, abri a porta que dava acesso da garagem para a cozinha. Antonie veio atrás de mim.

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