CAPITÃO NASCIMENTO
O peso da notícia ainda pairava sobre a casa, e o silêncio parecia esmagador. O teste de gravidez, com o resultado positivo marcado, estava na mesa da sala, um símbolo inescapável da nova realidade. Júlia ainda estava sentada no sofá, encolhida, com os olhos perdidos, lágrimas escorrendo ininterruptamente pelo seu rosto. Ela parecia alheia a tudo ao seu redor, como se o mundo tivesse parado no momento em que o resultado apareceu.
Eu a observava, uma mistura de preocupação e frustração crescendo dentro de mim. Eu queria entender o que ela estava sentindo, queria poder ajudá-la a encontrar um caminho, mas cada tentativa parecia esbarrar em um muro de silêncio e lágrimas. Respirei fundo, tentando manter a calma, mas o nervosismo estava começando a tomar conta.
— Júlia, você precisa falar comigo — insisti, minha voz soando mais tensa do que eu gostaria. — Ficar assim não vai ajudar em nada. A gente precisa conversar sobre o que vamos fazer, é o nosso futuro.
Ela não respondeu. Continuou apenas olhando para o vazio, as lágrimas molhando sua camisa. Aquele estado de choque me deixava cada vez mais inquieto. Era como se ela estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar, e eu, impotente, não sabia como trazê-la de volta à realidade, ou pelo menos tranquiliza-lá.
— pelo amor de Deus, fala alguma coisa! — Minha voz elevou-se, a impaciência transparecendo. — Você não pode simplesmente ignorar isso, não pode fugir dessa situação! A gente precisa tomar uma decisão!
Ela finalmente levantou o olhar para mim, mas o que vi em seus olhos não era a mulher forte e decidida que eu conhecia. Era uma Júlia assustada, perdida, completamente quebrada pela situação. E as palavras que saíram de sua boca foram um golpe que eu não estava preparado para receber.
— Você... você é louco, Beto. Um doente! — ela gritou, a voz embargada pelo choro. — Como você pode querer isso? Como você pode achar que um bebê vai resolver alguma coisa? Isso vai acabar com tudo!
Fiquei paralisado por um momento, absorvendo o impacto das palavras dela. A raiva que brotava dentro de mim era misturada com uma profunda tristeza. Eu não queria brigar, não queria que as coisas chegassem a esse ponto, mas a pressão da situação estava nos empurrando para o limite.
— Eu não sou louco, Júlia! — rebati, tentando manter a voz firme, mas sentindo a raiva transbordar. — Eu quero tentar fazer isso dar certo, mas você... você só vê o lado ruim, só pensa em como isso vai te atrapalhar! Você acha que pode simplesmente fingir que nada disso está acontecendo?
— Eu não estou pronta para isso! — ela gritou de volta, levantando-se do sofá em um movimento abrupto. — Eu não quero um bebê agora! Isso vai destruir a minha vida, Beto, e você é louco se acha que eu posso simplesmente aceitar isso!
A intensidade da discussão estava me sufocando, e eu sabia que precisávamos parar, mas era impossível segurar a torrente de emoções que vinha à tona.
— Se você não quer, tudo bem — falei, minha voz trêmula de raiva e dor. — Mas não me chame de louco por querer lutar por isso! Se você não consegue encarar essa realidade, então talvez você devesse ir embora! Eu vou criar essa criança sozinho, se for preciso!
Júlia recuou um passo, chocada com minhas palavras, e a expressão de dor em seu rosto foi como um soco no estômago. Eu sabia que tinha ido longe demais, que aquelas palavras eram cruéis, mas elas escaparam antes que eu pudesse controlá-las.
Ela estava devastada, chorando descontroladamente, e eu não sabia mais o que fazer para aliviar a dor que sentíamos. As palavras ditas não podiam ser retiradas, e o silêncio que se seguiu era ensurdecedor.
— Beto, isso não vai funcionar... — ela sussurrou entre soluços, suas mãos tremendo enquanto tentava limpar as lágrimas. — Eu não sei se consigo fazer isso, e... e se eu estragar tudo?
Ver Júlia naquele estado de completo desespero quebrou algo dentro de mim. A raiva que eu sentia começou a se dissipar, dando lugar a um sentimento profundo de compaixão e amor.
— Júlia, por favor, não precisa decidir nada agora. — Minha voz saiu mais suave desta vez, quase um pedido. — Mas por favor, não me afasta. Eu te amo, e eu... eu quero muito tentar. Mas se você realmente não puder, eu vou respeitar, mas isso vai me destruir.
Ela ficou em silêncio por um momento, tentando controlar o choro. Então, finalmente, ela se aproximou de mim e, hesitante, deitou a cabeça no meu peito. Eu a abracei com força, sentindo as lágrimas dela molharem minha camisa, mas desta vez eu não me importei.
Ela se agarrou a mim, seus braços ao redor do meu corpo, como se estivesse se segurando a algo sólido em meio à tempestade de emoções que a envolvia.
— Beto, por favor, não me abandona... — ela sussurrou, a voz quase inaudível de tão fraca. — Eu não sei o que fazer... Me perdoa, por favor, me perdoa...
Ela repetia os pedidos de desculpas entre soluços, e a dor em sua voz era tão profunda que me partia o coração. Eu a segurei ainda mais forte, tentando transmitir a segurança que ela tanto precisava.
— Eu nunca vou te abandonar, Júlia. Nunca — prometi, sentindo meus próprios olhos encherem-se de lágrimas. — A gente vai passar por isso, eu prometo. Eu estou aqui, sempre estarei aqui.
Júlia continuava a chorar, mas havia algo diferente agora, uma rendição à realidade que não tínhamos antes. Ela estava quebrada, sim, mas eu também sentia que estava disposta a tentar, que no fundo ela queria acreditar que poderíamos fazer isso dar certo.
Ficamos assim por um longo tempo, em silêncio, apenas nos segurando. Eu sabia que havia muito ainda para resolver, muitas dúvidas e medos a enfrentar, mas, naquele momento, tudo o que importava era que estávamos juntos.
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Laços Invisíveis | capitão nascimento
FanfictionQuando o vi pela primeira vez, não sabia que aquele homem duro e imponente mudaria minha vida para sempre. Eu, Julia, uma jovem com tantos princípios, sempre sonhei em fazer justiça, mas nunca imaginei que minha luta me levaria a um amor tão intenso...