CAPITÃO NASCIMENTO
Uma semana havia passado desde a última grande discussão. A tensão ainda pairava no ar, mas o amor que sentíamos um pelo outro nos mantinha juntos. Para tentar relaxar, decidimos almoçar fora em um restaurante italiano, um dos nossos favoritos. Era uma tentativa de quebrar o gelo e encontrar um pouco de paz.
Sentados à mesa, o ambiente aconchegante e o aroma de massa fresca preencheram o espaço ao nosso redor. Júlia parecia distante, apesar de tentar esconder.
— Já sabe o que vai pedir? — perguntei, tentando puxar conversa e aliviar a tensão.
Ela levantou os olhos do cardápio e deu um sorriso fraco.
— Acho que vou de lasanha, como sempre. E você?
— Carbonara, como sempre também. — Respondi, sorrindo de volta, mas sabendo que havia mais naquela conversa.
Depois de fazer nossos pedidos, Júlia suspirou e colocou o cardápio de lado, mostrando que tinha algo sério para dizer. Senti sua mão tocar a minha.
— Beto, eu decidi voltar ao trabalho voluntário na comunidade. Não consigo mais ficar sem fazer nada enquanto vejo tanta coisa acontecendo — disse ela, seus olhos mostrando a determinação de sempre.
Meu coração apertou. Aquele assunto já havia surgido entre nós.
— Júlia, já conversamos sobre isso. Eu entendo que você quer ajudar, mas não dá para ignorar o perigo. Não quero te ver se arriscando assim — falei, tentando manter a calma, mas sentindo a preocupação subir.
Ela franziu a testa, claramente irritada.
— Beto, eu sei que você está preocupado, mas essa é a minha decisão. Eu não estou te pedindo permissão, só estou te avisando.
Engoli em seco, tentando não deixar a frustração tomar conta.
— Não é só sobre permissão. É sobre a sua segurança. Você sabe como as coisas são complicadas por lá.
— Eu já tomei minha decisão, Beto. Não vou mudar de ideia só porque você está preocupado. Isso é importante para mim — respondeu ela, com firmeza.
Eu queria argumentar mais, mas ela cortou a conversa com um gesto decidido.
— Não estou pedindo a sua opinião. Só queria que você soubesse.
Não tinha mais o que falar. Ela estava decidida, e eu só podia aceitar. O restante do almoço foi mais silencioso, cada um perdido em seus pensamentos.
Mais tarde, voltei para o trabalho. A operação do dia estava programada para uma comunidade com ligações conhecidas com milícias. Quando cheguei ao ponto de encontro, o ambiente estava carregado de tensão. A relação entre a PM e o BOPE estava longe de ser tranquila, especialmente quando havia suspeitas de envolvimento com a milícia.
O Tenente Lima, da PM, parecia particularmente nervoso.
— Capitão Nascimento, estamos discutindo os detalhes da operação. A situação lá é complicada — disse Lima, tentando manter o tom neutro.
Eu o encarei, com uma pitada de sarcasmo.
— Complicada? O que você sabe sobre o envolvimento da PM com a milícia?
Lima hesitou, e outro policial, claramente desconfortável, tentou intervir.
— Estamos lidando com informações limitadas, Nascimento. As coisas estão mudando rápido, mas não temos tudo claro ainda.
— Então, a PM está se mexendo, mas parece que vocês têm algo a esconder — retruquei, sentindo a frustração aumentar. — Vocês têm ou não contato com a milícia?
Lima se endireitou, tentando manter a postura.
— Olha, Nascimento, a nossa colaboração é complexa. Não estamos aqui para facilitar a vida dos criminosos.
— Sei que não estão facilitando, mas a falta de clareza de vocês complica tudo — respondi. — E essa não é a primeira vez que enfrento essa falta de cooperação da PM.
O clima ficou ainda mais pesado, mas eu sabia que aquela conversa não podia se prolongar. A operação exigia foco, e eu precisava manter a cabeça no lugar.
Depois de um dia chata e exaustivo, voltei para casa. A operação havia terminado sem grandes incidentes, mas a tensão ainda estava no ar. Entrei direto no chuveiro, deixando a água fria aliviar o cansaço e a frustração. Quando saí, ouvi Júlia chegando em casa.
Ela entrou na sala e me viu ainda com a toalha enrolada na cintura, secando o cabelo.
— Oi, vida. Como foi o dia? — perguntou, enquanto deixava a bolsa no sofá.
— Tenso, como sempre. E o seu? — perguntei, tentando esconder a preocupação que ainda pesava em mim.
— Cansativo, mas consegui resolver algumas coisas. Precisamos conversar sobre o voluntariado — disse ela, sem rodeios.
— Júlia, por favor, podemos deixar isso para outro dia? — pedi, tentando evitar mais uma discussão.
— Não, Beto. Eu já tomei minha decisão. Vou voltar ao trabalho voluntário, e não estou te pedindo permissão — respondeu ela, firme.
Eu sabia que insistir não adiantaria, então resolvi ceder.
— Tá bom. Só quero que você se cuide — disse, com um suspiro.
— Eu vou, prometo — respondeu ela, com um tom mais suave, me dando um selinho.
Sentamos no sofá, tentando encontrar um pouco de paz depois do dia intenso. Decidimos pedir uma pizza para o jantar. Abrimos uma garrafa de vinho, na tentativa de relaxar e esquecer das preocupações por algumas horas. Conversamos sobre coisas leves, mas eu ainda notava um cansaço em Júlia, algo que me deixava em alerta.
Durante o jantar, Júlia começou a parecer desconfortável. Quando se levantou para pegar mais um pedaço de pizza, parou, segurando a cabeça como se estivesse tonta. Meu coração disparou.
— Tá tudo bem? — perguntei, observando com preocupação.
Ela forçou um sorriso, mas seus olhos mostravam que algo estava errado.
— Só um pouco de tontura. Deve ser o cansaço, ou talvez o vinho...
— Quer deitar um pouco? — sugeri, tentando ajudar.
— Não, acho que é melhor eu descansar um pouco aqui. Vamos terminar o vinho e assistir a um filme?
Concordei, mas algo me dizia que havia mais acontecendo. Após mais alguns goles de vinho, Júlia de repente se levantou e correu para o banheiro, com a mão na boca. Ouvi o som inconfundível de náusea, e meu coração apertou.
Quando ela voltou, estava pálida, e parecia um pouco envergonhada.
— Desculpa... acho que a pizza não caiu muito bem — disse ela, tentando minimizar a situação.
Eu sabia que ela estava tentando não me preocupar, mas o mal-estar de Júlia não era algo que eu podia ignorar.
— Júlia, você tá bem? Isso não parece só indigestão, vamos no hospital? — perguntei, mais sério agora.
— Eu... não sei, Beto. Talvez seja só o estresse. — Ela tentou me tranquilizar.
Decidimos encerrar a noite cedo, mas enquanto Júlia se deitava ao meu lado, a preocupação não me deixava. Algo estava acontecendo com ela, e o pensamento de que isso poderia ser algo maior do que apenas cansaço ou má digestão não saía da minha cabeça.
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Laços Invisíveis | capitão nascimento
FanfictionQuando o vi pela primeira vez, não sabia que aquele homem duro e imponente mudaria minha vida para sempre. Eu, Julia, uma jovem com tantos princípios, sempre sonhei em fazer justiça, mas nunca imaginei que minha luta me levaria a um amor tão intenso...