JÚLIA
Eu acordei com um mal-estar estranho, uma sensação que nunca havia sentido antes. Naquela manhã, me preparei para o trabalho voluntário, tentando ignorar o enjoo que me acompanhava. Talvez fosse só cansaço, ou quem sabe algo que comi na noite anterior. Beto ainda dormia quando saí de casa.
No caminho até a comunidade, o enjoo aumentou, mas eu me forcei a ignorá-lo. Quando cheguei ao centro comunitário, encontrei-me com Dona Marta, uma das mães que sempre estava por lá, buscando ajuda para os filhos.
— Bom dia, Dona Marta! Como a senhora tá? — tentei manter a conversa leve, mesmo sentindo o enjoo me perseguindo.
— Bom dia, Júlia! bem, e você? Parece um pouco pálida... — ela comentou, com um olhar preocupado.
Antes que eu pudesse responder, um forte enjoo tomou conta de mim. Senti meu estômago revirar e, sem conseguir me controlar, corri para o banheiro mais próximo. Vomitei tudo o que tinha no estômago, minhas pernas tremendo e a cabeça girando.
Fiquei alguns minutos no banheiro, tentando me recompor. Quando saí, Dona Marta estava me esperando na porta, ainda mais preocupada.
— Menina, você tá bem? Isso não parece normal...
Balancei a cabeça, tentando tranquilizá-la.
— Acho que só comi algo que não caiu bem, Dona Marta. Mas estou bem, vou terminar o que vim fazer e já já estou em casa.
Apesar da minha insistência em continuar, não consegui me concentrar mais no trabalho. Cada vez que tentava me levantar, o mundo parecia rodar. Decidi que era melhor ir para casa e descansar um pouco. Talvez fosse só um mal-estar passageiro.
Quando cheguei em casa, o enjoo me atacou novamente. Corri para o banheiro e vomitei mais uma vez. Dessa vez, fiquei preocupada de verdade. Beto ainda não tinha chegado, o que me deu um tempo para tentar me acalmar. Mas, enquanto me olhava no espelho, pálida e fraca, uma ideia horrível começou a se formar na minha mente.
Eu poderia estar grávida.
O pânico tomou conta de mim. Não, isso não podia estar acontecendo. Não agora. Não estava pronta para isso. Minha cabeça girava com pensamentos desencontrados, e o medo de que minha vida mudasse completamente me fez tremer. Eu não estava pronta para ser mãe. Um bebê agora iria estragar tudo.
Mas não podia ficar nessa dúvida. Peguei minhas coisas e corri até a farmácia mais próxima. Comprei um teste de gravidez, minhas mãos tremendo enquanto entregava o dinheiro para o atendente. Tudo parecia estar em câmera lenta, como se eu estivesse presa em um pesadelo.
Quando voltei para casa, sentei-me no sofá, o teste na mão. Fiquei ali, encarando-o, com medo do que viria a seguir. E foi assim que Beto me encontrou quando chegou.
— Júlia... — a voz dele estava cheia de preocupação ao me ver ali, encolhida no sofá. — O que está acontecendo?
Olhei para ele, as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto.
— Eu... eu acho que tô grávida, Beto.
A expressão dele mudou imediatamente, de preocupação para um tipo de choque misturado com esperança. Ele se ajoelhou na minha frente, pegando minha mão.
— E você fez o teste?
Balancei a cabeça negativamente, ainda sem conseguir falar.
— Então vamos fazer isso juntos, ok? — ele sugeriu, sua voz suave, mas firme. — Seja qual for o resultado, vamos lidar com isso.
Entramos no banheiro, e eu fiz o teste. Aqueles minutos de espera pareceram uma eternidade. Eu não conseguia parar de pensar no que aquilo significaria para nós. E se eu estivesse grávida? Como seria a nossa vida? Eu estava tão assustada.
Finalmente, o teste deu positivo.
Meu coração afundou, e eu comecei a chorar. Beto, ao contrário, parecia em choque, mas seus olhos brilhavam com uma alegria que eu não conseguia compartilhar naquele momento.
— Nós vamos ter um bebê, Júlia! — ele exclamou, puxando-me para um abraço, sua voz transbordando de emoção. — Eu não acredito, eu vou ser pai!
Mas eu não conseguia compartilhar da felicidade dele. Minha mente estava em pânico, as palavras saindo da minha boca antes que eu pudesse controlá-las.
— Eu... eu não sei se posso fazer isso, Beto. Um bebê agora? Isso vai estragar tudo! Eu não estou pronta... Eu... talvez seja melhor... interromper.
Ele congelou, o sorriso desaparecendo de seu rosto. A atmosfera ficou pesada, e ele se afastou um pouco, ainda me segurando pelos ombros.
— Você não está falando sério... — disse ele, a voz grave.
— Eu... eu não sei o que fazer. Isso é muito pra mim! — eu gritei, a raiva e o medo se misturando. — Como vou lidar com isso? Não estou pronta para ser mãe! Eu não quero... não agora...
Beto fechou os olhos por um momento, respirando fundo, como se estivesse tentando manter a calma. Quando ele abriu os olhos de novo, estavam cheios de determinação.
— Se você realmente não quer esse bebê, Júlia... — ele começou, a voz trêmula de emoção e raiva contida. — Eu não vou te obrigar. Mas, se você decidir interromper, me entrega esse bebê, deixa comigo. E se você quiser, pode ir embora, seguir sua vida. Mas eu... eu quero essa criança, Júlia. Não posso acreditar que você tá falando isso... não posso acreditar que estamos discutindo isso...
— Beto, eu... eu não sei! — eu gritei, sentindo meu coração se partir enquanto falava. — Eu tô com medo! Tô apavorada! Como a gente vai lidar com isso?
Ele me puxou de volta para os braços dele, segurando-me firme enquanto eu chorava. Ele beijou o topo da minha cabeça, repetindo, vez após vez.
— Eu te amo, Júlia... Eu te amo tanto. Vamos passar por isso juntos. Vai ficar tudo bem, eu prometo.
Eu não sabia se acreditava nisso naquele momento, mas o calor dos braços de Beto ao meu redor, o jeito como ele me segurava como se não quisesse nunca me deixar ir, me fez sentir, pela primeira vez desde que tudo começou, que talvez, só talvez, nós pudéssemos passar por isso juntos.
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Laços Invisíveis | capitão nascimento
FanficQuando o vi pela primeira vez, não sabia que aquele homem duro e imponente mudaria minha vida para sempre. Eu, Julia, uma jovem com tantos princípios, sempre sonhei em fazer justiça, mas nunca imaginei que minha luta me levaria a um amor tão intenso...