Capítulo 7

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Após a última parada desconfortável no meio do dia, tivemos poucas paradas que foram rápidas, e silenciosas. No começo da noite paramos em uma caverna, ascendemos uma fogueira para nos manter aquecidos. Embora estivéssemos bem longe da floresta congelada a noite estava muito fria.

— Se preferir deite-se mais perto da fogueira. - Sugeriu Kayden.

— Estou bem.

— Não parece estar bem pelo tanto que se remexe.

— Só não estou acostumada a dormir em chão de caverna em mundos desconhecidos.

— Você logo acostuma.

— Não seja tolo, não é porque eu não gostava do orfanato que eu não gostaria de voltar para casa.

— Se você odeia tanto por que está tanto voltar?

— Pela minha irmã, não gostaria de deixá-la naquele inferno sozinha. — Me virei de lado, de costas para a fogueira encarando Kayden que estava deitado a poucos metros de distância. — Nunca tivemos para onde ir, crescemos juntas e o que ameniza tudo que passávamos lá, é por sempre ter uma à outra, algumas das meninas são terríveis e agora estando sozinha não sei como ela vai passar por toda essa merda.

— Posso perguntar o que acontecia dentro daquele orfanato para odiarem tanto? — Kayden perguntou com receio.

— O maior problema sempre foi a Sra. Antonella, ela sempre foi muito rigorosa com as regras e os castigos, está certo que é sempre bom manter a ordem entre várias jovens, mas os métodos dela era sempre fazer com que todas sofressem o máximo possível.

— Ela torturava vocês é? — Perguntou, fechando os olhos.

Eu o encarei, ele perguntava tão casualmente que parecia uma coisa normal de se acontecer. Eu o olhei por alguns minutos, soltei a respiração que saiu mais pesada do que o normal, Kayden abriu os olhos no mesmo instante, seus olhos pareciam se escurecer enquanto me encarava novamente.

— Vamos considerar que era mais uma tortura psicológica.

— O que ela fazia com vocês Penellope? O que ela fazia com você? — A voz dele parecia ter saído como um rosnado.

— Por castigo mais leve, quando Sra. Agnes estava presente ela nos fazia limpar lugares abandonados da casa, mas, quando a mesma não estava, Sra. Antonella trancava a gente em uma solitária, fazia com que a gente ficasse trancada em um quarto escuro e abandonado, muito sujo, a ponto de ter ratos e insetos e às vezes até mortos. — Outro longo suspiro. — Ela nos deixava dias assim, dava restos do que sobrava do almoço e janta para comermos. — Estremeci. — Aquele lugar era frio, dormíamos no chão e é um lugar muito antigo, aquele quarto sempre me pareceu um tipo de prisão, tinha dias que parecia que eu estava entre almas que ficaram presa naquele lugar.

— E mesmo com tudo você ainda gostaria de voltar para estar do lado de sua irmã... Ela é a amiga da boate?

— Exatamente.

— Aquela noite nos atrasamos por minha culpa. — Kayden sorriu e senti meu rosto esquentar. — Fomos pegas por Sra. Antonella pois a puxa saco dela nos dedurou e acabamos ficando com o castigo de limpar o orfanato todo, Emy caçou briga com a puxa saco da velha e acabamos tendo que limpar o sótão, eu vim parar aqui através de um espelho que estava por lá, me assustei quando vi o que o mesmo fazia e uma das senhoras estava indo até lá me chamou e aconteceu o típico que acontece sempre comigo. — Soltei um risinho contido. — Eu tropecei...

— Tropeçou em meus braços também. — Os olhos de Kayden brilharam quando ele sorriu.

— Sim, tropecei, levei tudo comigo, puxando até o espelho, não sei o que aconteceu por lá em seguida, acredito que o mesmo tenha se quebrado ao cair em cima de mim, fazendo com que eu o atravessasse.

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