Noiva

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Taeyong não se importou que ficassem mais um pouco na casa, tinha café da manha para todos.

A cozinha exalava uma aura nostálgica, suas paredes de um amarelo desbotado, testemunhas silenciosas de muitos anos de convivência. Ao centro, uma mesa de madeira envelhecida reunia quatro figuras, suas silhuetas suavemente delineadas pela luz amarelada do lustre antigo que pendia do teto, projetando sombras longas e suaves pelo ambiente.

      O canto direito revelava uma cozinha compacta, mas funcional. Armários brancos de portas ligeiramente amareladas pelo tempo alinhavam-se acima de uma pia abarrotada de louça. Ao lado, um fogão com marcas de uso intenso e uma geladeira robusta completavam a cena, decorada com ímãs e lembranças dispersas.

        O chão de pedra polida refletia vagamente a luz, contrastando com os tapetes floridos que adornavam as janelas, oferecendo um resquício de cor e alegria. Cadeiras de madeira, desgastadas, mas ainda firmes, cercavam a mesa, cada uma com sua história para contar.

Era aconchegante. Qualquer lugar que não fosse a casa de Karina era aconchegante para ela. Tomava café ao lado de Minjeong, estava quieta, apenas observava o fluxo da conversa. Eles pareciam gostar muito da mais nova.

— Yujin perguntou por você — Taeyong disse limpando as mãos, sujas da geleia do pão, na camisa.

              — Ah, sim — Minjeong sorriu de canto, coçando a sobrancelha com o polegar.

               Franziu a testa. Quem era Yujin?

— Ela não deve ter te encontrado na muvuca.

— Eu já tava ocupada — Sorriu mais ainda. Referia-se a Karina — A proposito, tem uma calça pra me emprestar?

— O que aconteceu com as suas?

Karina escondeu o sorriso na xicara de café.

— Sujei sem querer.

— Bom, acho que devo ter algo do seu tamanho que alguma das meninas deixou — Taeyong se levantou — Vem comigo.

Minjeong seguiu o mais velho, deixando Karina sozinha com o barman. Um silencio se instalou na cozinha.

— Então... "normal", né?

— Vai se fuder — Karina mostrou o dedo do meio.

— E você ainda tá em negação... De boa, essa fase é foda mesmo.

— Não tô em nenhuma fase — Franziu a testa.

— Então tu é hetero não praticante?

Antes que Karina pudesse xinga-lo, uma figura entrou na cozinha. Era uma garota, um pouco mais baixa, os cabelos eram longos e castanhos, o nariz arrebitado, corpo magro e com curvas. Usava roupas coladas por baixo de um enorme casaco veludo imitando pele de onça, o barulho do salto chamou atenção dos dois.

— Olha só quem apareceu — O garoto sorriu — Como foi a noite?

— Uma merda, movimento péssimo, e tudo que eu consegui foi cinquenta por bater uma pra um tio numa van. 

— Sinto muito, quem sabe da próxima vez você tenha mais sorte.

— Quem é a bonita? — Apontou para Karina, que arqueou as sobrancelhas pelo elogio — Legal a tatuagem.

— Boa pergunta — O garoto voltou-se para a Yu — Quem é você?

Talvez fosse pela ressaca, ou o cheiro do café amargo entrando pelo nariz chegando no cérebro, mas aquela pergunta começou a parecer muito mais existencialista do que deveria. Naquele momento, sentada tomando café com um barman, uma provável prostituta, na casa de um gay depois de passar a noite transando com uma garota, Karina também não se reconhecia. Talvez por não ter que esconder todo tempo o que tinha vontade de fazer, estava fazendo e pronto. E isso deixava seu estomago agitado, estava gostando.

Teenager Sucks - WinrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora