Feliz aniversário

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Karina chegou em casa quase à beira das lágrimas.

Não terminou de chorar pois a mãe estava em casa. Passou a porta da frente esfregando com força os olhos marejados.

Sua mãe estava na sala assistindo tv e fumando um cigarro, não parecia muito preocupada em notar a presença da filha. Antes que fosse direto para seu quarto, olhou para o objeto esmagado na mesa frente ao sofá.

Seu telefone, todo quebrado.

Encarou o objeto por uns minutos, lembrando de algumas noites anteriores quando sua mãe pegou Minjeong enviando mensagens para seu número. Fazia tempo, mas quem apanha nunca esquece.

Até hoje sentia o peso da mão fria sob sua orelha, um tapa tão forte que só uma policial anos treinada poderia dar. Depois de mais agressões, a mulher mais velha pegou a garrafa da cerveja e quebrou o telefone.

— Suas tias vêm pra cá nesse fim de semana — A mulher falou sem tirar os olhos da tv — É melhor você não inventar nenhuma gracinha.

Ah sim, também seria aniversário da sua mãe.

Karina acenou e esfregou o nariz, subindo as escadas que davam para seu quarto.

Não parecia mais tão certo estar ali. Aquilo era uma casa, mas não um lar. Tirou o casaco e jogou de qualquer forma pelo chão indo em direção ao banheiro. Depois da tentativa idiota se ver Minjeong sua cabeça estava fora do lugar. Quem aquela idiota pensava que era para lhe fazer chantagens, ficar de joelhos implorando por ela, parecia até piada.

Tirou o restante das roupas jogando pelo trilho, fazendo uma trilha delas até o banheiro. Mal conseguia se olhar no reflexo do espelho, sabia que seus olhos estavam vermelhos por causa da porra de Minjeong, se odiava por ficar repetindo cada fala dela na sua cabeça, como uma maldita fita. Queria parar de ouvir sua voz, aquelas palavras que lhe deixaram com tanto medo e não sabia por quê.

Ligou o chuveiro. E daí se fosse embora? Era melhor assim, sem ela.

Se enfiou na água fria, fechando os olhos de alívio. A água escorria pelo seu corpo, maltratava suas feridas recém feitas, ardia as marcas de cigarro queimadas pela mãe na sua costa. Suspirou fundo. Seria melhor assim, sem Minjeong.

Estava começando a ficar irritada de verdade, porra, não conseguia parar de pensar nela.

— Vadia — Murmurou esfregando o rosto, talvez tomar uma bebida depois fizesse bem. Ficar metade do tempo bêbada estava ajudando a lidar com esse inferno. Pegou o xampu e esfregou no couro cabeludo, agressiva, sem paciência para aquilo. A casa batida de dedos na nuca, um flash da maldita Kim falando que iria embora.

Seus olhos ardiam novamente, não pelo xampu que caiu neles, por perceber o que aquilo realmente queria dizer. Parece que não veria Minjeong por um longo tempo. Talvez fosse melhor assim.

Não tinha nada para oferecer aqui. Pela primeira vez admitiu, não era nada. Minjeong sempre foi tudo.

(...)

— Puta que pariu, você cresceu! — Sua tia berrou assim que abriu a porta. Irmã mais velha da sua mãe, tinha acabado de sair da cadeia, Yu Chaeni.

— Ei — Karina sorriu forçada, abraçando a mulher menor que si.

—  Onde eu deixo essas malas? —  Perguntou já entrando na casa — Junto com essas outras malas aí? —  Apontou brincando com o polegar para o restante das mulheres que entravam pela casa.

Teenager Sucks - WinrinaOnde histórias criam vida. Descubra agora