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𝐄SPEREI chegar à biblioteca pública, à tarde, para entrar em contato com a pessoa que anunciou o aluguel de duzentos dólares

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𝐄SPEREI chegar à biblioteca pública, à tarde, para entrar em contato com a pessoa que anunciou o aluguel de duzentos dólares.

De todos os bicos não relacionados à arte que eu vinha conciliando desde que concluí  a pós-graduação, aquele era meu preferido. Não que eu amasse todos os aspectos do trabalho. Embora ficar cercada por livros, fosse ótimo, eu trabalhava na seção de livros infantis. Então alternava entre atender no balcão, guardar livros sobre dinossauros, gatos guerreiros e dragões e responder a perguntas de pais frenéticos enquanto seus filhos pequenos davam chilique.

Eu sempre tinha me dado bem com crianças mais velhas. Gostava do conceito abstrato de pequenos humanos e entendia — na teoria, pelo menos — por que alguém poderia querer um em sua vida. Mas, ainda que Bam e eu pensássemos nos gatos mimados dele como seus filhos, ninguém na minha vida tinha um filho humano ainda. Lidar com crianças pequenas vinte horas por semana em um cargo de atendimento ao público vinha sendo uma introdução cansativa a elas.

No entanto, trabalhar na biblioteca ainda era meu trabalho preferido por causa de todo o tempo livre que implicava. Eu não tinha nem de perto tanta folga nos meus turnos no Gossamer’s, o café que ficava perto do que logo seria meu antigo apartamento — e esse era o pior aspecto daquele trabalho em particular.

— As coisas estão tranquilas hoje — comentou Grace, sentada na cadeira ao meu lado.

Ela era minha gerente, uma mulher agradável de cinquenta e muitos anos que na prática comandava toda a seção infantil. Comentar que as coisas estavam tranquilas de tarde era meio que uma piada interna nossa, porque todas as tardes eram tranquilas ali. Entre uma e quatro, a maior parte do nosso público estava dormindo ou ainda na escola.

Eram duas horas. Apenas uma criança havia entrado nos noventa minutos anteriores. Não apenas aquilo não era digno de nota como era perfeitamente normal.

— Estão mesmo — concordei, sorrindo para ela. Então me virei para o computador do balcão de empréstimos e devoluções.

Em geral, eu usava o tempo livre na biblioteca pesquisando futuros empregadores em potencial e me candidatando a vagas. Não era muito exigente. Me candidatava a quase tudo — mesmo que não tivesse nada a ver com arte — o que prometesse mais dinheiro e mais horas fixas que minha situação desconjuntada atual.

Às vezes, eu usava aquele tempo para pensar em projetos artísticos futuros. A iluminação era bem ruim no apartamento onde eu morava, por isso era muito difícil desenhar e pintar as imagens que formavam a base dos meus trabalhos. E, embora eu não pudesse pôr meus projetos em andamento na biblioteca, porque minhas pinturas faziam sujeira demais e os últimos passos envolviam incorporar objetos descartados, o balcão de empréstimos e devoluções era grande e iluminado o suficiente para que eu pelo menos produzisse rascunhos iniciais, a lápis.

Naquele dia, no entanto, eu precisava usar o tempo livre para responder ao anúncio problemático de apartamento. Poderia ter feito aquilo antes, mas não fiz — em parte porque continuava cética, mas principalmente porque, para economizar, havia cortado o wi-fi fazia algumas semanas.

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