Posso pedir um favor, Jimin?
Achei que a gente não estava mais se falando
Logo você estará livre de mim para sempre.
Mas preciso de ajuda uma última vez, e é bastante urgente.Que foi?
Onde é possível comprar artigos de cozinha no século XXI?
E pode me explicar como se chega lá?Ah MERDA
Esquecemos as panelas né?
Também vou precisar usar seu cartãozinho de plástico uma última vez.𝐄U desconfiava de que a ideia original da dona do Gossamer’s era de que fosse um café hipster e artístico, com obras de artistas locais nas paredes e apresentações de bandas independentes nos fins de semana. Ficava em um prédio antigo que os guias de Chicago gostavam de dizer que tinha “importância arquitetônica”, com vitrais bonitos dando para a rua e linhas perfeitas inspiradas no estilo de Frank Lloyd Wright. O mobiliário de segunda mão era descolado e o nome das bebidas sempre começava com “Somos” e terminava com uma qualidade inspiradora.
Ninguém que trabalhava lá entendia por que um café que atendia principalmente o pessoal do mercado financeiro se importava em seguir convenções hipsters de nomenclatura para suas bebidas totalmente genéricas.
Porque, apesar da minha desconfiança em relação aos planos originais da dona, o bairro em que o Gossamer’s ficava era muito mais terno-e-gravata que hipster. A localização — ao lado de uma estação da linha marrom do metrô — significa que nossos clientes estavam quase todos indo ou voltando do trabalho, fora um ou outro universitário.
É claro que eu preferiria trabalhar em um café hipster de verdade, mas bico era bico. E aquele não pagava tão mal.Mesmo que a comida fosse péssima e as bebidas tivessem nomes bobos.
As opções para o jantar estavam ainda mais limitadas quando cheguei para o meu turno. Em geral, às seis da tarde a maior parte da comida pré-pronta já foi vendida há um bom tempo. Os únicos sanduíches que restavam eram um triste e empapado de manteiga de amendoim e geleia e um de homus e pimentão vermelho no pão integral. Quem quer que fornecesse a comida do Gossamer’s precisava fazer amizade com o sabor. E a textura.
Ainda faltavam quinze minutos para o meu turno começar, portanto eu tinha o tempo exato para comer alguma coisa. Peguei o sanduíche de homus e pimentão — a menos trágica das duas opções — e abri caminho até uma das mesas ao fundo.
Havia apenas um cliente no café — um cara de uns trinta e cinco anos, com cabelo loiro-escuro e chapéu fedora tão inclinado para a frente que cobria metade do seu rosto. Tinha uma caneca com alguma coisa bem quente diante dele.
Senti que ele me olhava enquanto eu seguia até a mesa no canto em que costumava comer antes dos meus turnos.
O cara pigarreou.
— Hum — disse ele, para ninguém. — Vamos ver.
Agora o sujeito estava me encarando sem nem disfarçar, meio inclinado na minha direção, atento. Seu rosto, sua expressão, até mesmo sua postura — tudo no cara sugeria que ele estava me analisando. Avaliando. Não de um jeito sexual ou predatório. Era mais como se eu estivesse em uma entrevista de emprego e ele tentasse decidir se eu era a pessoa certa para a vaga.
Mesmo assim, era assustador.
Olhei para a porta do café, torcendo para que minha gerente, Katie, estivesse chegando. Depois de alguns instantes, o cara assentiu como se tivesse chegado a uma decisão.
— Não sei por que ele estava tão preocupado. Você deve servir.
Com a entrevista de emprego aparentemente concluída, ele voltou toda a sua atenção para o celular.
Às vezes apareciam uns tarados no turno da noite do Gossamer’s. Trabalhar em um café tinha dessas coisas. Geralmente, eu escolhia não interagir com eles e esperar que a gerente interviesse se a situação ficasse esquisita demais. Naquele momento, porém, eu estava exausta com a mudança e irritada demais com aquele comentário bizarro para esperar por Katie.
— O que foi que você disse? — perguntei, indo contra todo o meu bom senso.
— Eu disse que você deve servir — respondeu ele, sem tirar os olhos do celular e parecendo irritado com a interrupção.
— Como assim, eu devo servir?
— Exatamente assim.
O cara olhou para mim, sorrindo. Afastou a cadeira e se levantou. Notei, então, que ele estava usando um sobretudo azul-marinho até o chão, que não tinha nada a ver com o fedora preto. Por baixo, usava uma camiseta vermelho-vivo dizendo “Claro que estou certo, sou o Todd!”.
Provavelmente não era um tarado. Só um esquisitão mesmo. Às vezes eles também apareciam.
— Já vou indo — disse ele, em um tom importante, mas desnecessário. — Vou dar uma ajuda para um amigo numa loja de móveis.
Quando voltei a levantar o rosto, ele já tinha ido. O único sinal de que havia estado ali era a caneca de Somos Muitos ainda fumegando que o cara havia deixado para trás. O cappuccino mais caro que fazíamos. Completamente intocado.
Nossa. Os clientes que pediam cafés caros e nem bebiam era os mais irritantes. Irritada e de cara feia, levei a caneca de “Todd” até a tina de plástico azul que usávamos para transportar as coisas sujas.
Não tinha muita gente trabalhando aquela noite. Colocar as coisas no lava-louça provavelmente ia sobrar para mim. Mas eu podia fazer aquilo depois.
Eu ainda tinha alguns minutos antes do meu turno começar, e meu sanduíche de homus e pimentão não ia se comer sozinho.
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𝐌ⱺ𝗋α𐓣ᑯⱺ 𝐂ⱺꭑ υꭑ 𝐕αꭑρ𝗂𝗋ⱺ.
عاطفية𝐂𝗈𝗇𝖼𝗅𝘂𝗶𝗱𝗮 ㆐ 𝗟𝗼𝗻𝗴𝖿𝗂𝖼 ⤿𝐋𝗂𝗌𝗄𝗼𝗼𝗄᠉ 👩🏻🎨♡🧛🏻♀️ 🦇 𝐔ꭑ 𝗏αꭑρ𝗂𝗋ⱺ 𝖼𝖾𐓣𝗍𝖾𐓣á𝗋𝗂ⱺ ρ𝖾𝗋ᑯ𝗂ᑯⱺ 𐓣α ꭑⱺᑯ𝖾𝗋𐓣𝗂ᑯαᑯ𝖾. 𝐔ꭑα α𝗋𝗍𝗂𝗌𝗍α 𝖾𝗑𝖼ê𐓣𝗍𝗋𝗂𝖼α 𝖾ꭑ ᑲυ𝗌𝖼α ᑯ𝖾 υꭑ ᥣα𝗋. 𝗌𝖾𝗋á αꭑⱺ𝗋 α...