[6] Tenta acreditar

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🤸‍♀️⚽

JADE BARBOSA

Realmente fiquei surpresa quando Geo apareceu aqui do nada, sem avisar.

Estava planejando apenas vê um pouco de TV e dormir, já que as meninas saíram, fugiram na verdade, pois Chico nem sonha que a essa hora elas estão em um restaurante fora da Vila Olímpica.

Eu que não vou querer ficar ouvindo sermão.

Sentei na minha cama, Geovana sentou do meu lado. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Ela parecia dispersa, mesmo me encarando.

- Tudo bem? - Perguntei preocupada, ainda segurei sua mão.

- Tudo é que... só estou um pouco avoada - Suspirou, abaixando a cabeça, logo me olhando de novo - Você está bonita.

- Estou de pijama Geo - Eu rir, mas ela continuava séria.

- Continua linda - Deu de ombros, limpei a garganta sem graça.


- E como foi o jogo? - Mudei de assunto, eu nem tinha assistido, não teria graça assistir sem ter Geovana em campo.

- Foi legal, não tem muito o que dizer vendo de uma sala apertada e quente - Deu de ombros.

- A Paloma disse alguma coisa? - Perguntei, sabia que por terem levado suspensão simultaneamente, as duas seriam obrigadas a assistir no mesmo lugar.

- Só as mesmas bobagens de sempre - Cruzou os braços, olhando a janela do meu quarto - Mas não liguei muito.

- Que bom, continue assim - Dei tapinhas em seu ombro, arrancando uma risada dela - Já que você veio para conversar, por quê não me conta de onde surgiu sua vontade de jogar futebol?

Então ela se aconchegou na minha cama, tirando os sapatos e ficando na posição de índio. Fiz o mesmo, estávamos de frente uma para a outra.

- Quando o meu pai era vivo ele era apaixonado pelo Flamengo, tinha tudo, coleção de camisas, copos, enfim, sempre que sobrava algum dinheiro ele ia até o Maracanã, quando eu fiz dois anos, ele começou a me levar junto - Soltou uma risada parecendo nostálgica - Eu adorava a atmosfera, a torcida vibrando pelo time, descobri que eu queria viver aquilo, ser admirada, virar ídola de alguém - Brincou com os dedos - A partir dos 7 anos, eu vivia dizendo que iria virar jogadora de futebol, jogava bola na rua com os garotos, treinava em casa, nos meus aniversários eu sempre pedia chuteiras novas ou uma bola de futebol, minha mãe sempre foi contra, sido criada de mesma forma, queria que eu arranjasse um marido e saísse de casa para ter "independência".

Balancei a cabeça, prestando atenção em cada detalhe da sua história. Conversei com a psicóloga dela e a mesma me disse que eu deveria prestar mais atenção na Geo, poderia ajudar no seu processo.

Sabia o quanto era importante para ela compartilhar suas memórias, queria que ficasse bem.

- Meu pai ao contrário adorou a idéia, inclusive me levou para São Paulo, estava tendo testes para a base do Corinthians mas na época eu não consegui, tentei em outros lugares mas fui rejeitada várias vezes. Mas, quem disse que eu desisti? - Parecia empolgada a cada frase - Já tinha feito alguns testes no Flamengo também mas nunca passava, depois de 4 tentativas em vão, eu finalmente passei! Desde então eu ainda jogo por esse clube - Sorrir

- Seu pai parecia ser uma pessoa incrível - Falei, a mulher de repente murcha um pouco.

- Sim, ele era como um pilar na minha vida - Diz melancólica - Minha mãe nunca apoiou minha carreira mas usufruir do dinheiro que eu ganhava, isso foi desgastando o casamento deles, até que separaram. Foi um inferno, a pior fase da minha vida, e tudo só piorou quando eu tinha 17 anos, ele descobriu uma câncer no estômago e perdeu a batalha - Vejo seus olhos brilharem em lágrimas, a abracei, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto, finalmente ela desabou.

A fiz deitar a cabeça no meu ombro , ouvindo ela chorar.

- Ele era o único que acreditava em mim - Disse chorosa, fazendo meu peito se apertar.

- Respira, calma - Sussurrei, alisando suas costas.

- Eu me sentia tão sozinha quando o perdi, minha família me odeia...

- Mas você não está mais sozinha Geo - Falei baixinho, segurando seu rosto molhado pelas lágrimas - Eu estou aqui. Eu sempre vou está aqui por você.

- Obrigado...- Sussurrou - Obrigado por ter aparecido na minha vida Jade, sem você eu não sei se estaria aqui agora - Beijei sua testa com carinho.

Não conseguia falar nada além de começar a chorar junto, logo estávamos as duas uma bagunça de sentimentos.

Ficamos assim por vários minutos, quando finalmente Geo se acalma, limpando o rosto inchado, fungando, enquanto eu fazia a mesma coisa.

- Eu vou ganhar essa medalha de ouro - Disse com determinação - Vou ganhar por ele e por você.

Acabo me desconcentrando e derrubo meu celular no chão, o pegando logo em seguida, meio nervosa.

- Por mim? - Perguntei surpresa, com o coração batendo rápido, quando Geovana se aproxima de mim, com o mesmo semblante abatido.

Tentei me afastar, mas acabei parando na cômoda do quarto, estava encurralada.

- Sim - Finalmente tinha chegado perto de mim - Gosto muito de você Jade.

- T-Também gosto de você Geo - Droga, porquê eu gaguejei, acorda Jade, é só a Geovana tendo seus momentos de afeto e compaixão.

Poderia estar enlouquecendo mas ela aproximava seu rosto lentamente do meu, via a hora do meu coração saltar para fora de tão forte que estava.

- Geo...- Chamei incerta do que estava acontecendo, encarava seus olhos tão profundos e melancólicos - O que você...

- Acho que estou enlouquecendo - A mesma me corta, dando uma olhada rápida nos meus lábios.

Eu não deveria sentir aquilo, mas eu queria o que estava por vir, e minha mente já imaginava antes mesmo de acontecer.

Mas algo acontece.

- Aí fala sério, pessoal daquele restaurante é mau educado demais - Flávia exclama ao entrar. Nos pegou no flagra, Geovana se separou rápido com os olhos arregalados - O que está acontecendo?

Logo Rebeca, Lorrane e Júlia também entram.

- Nada, eu vou embora - Geovana diz meio nervosa, logo me olhando - Boa noite para vocês - Saiu igual um foguete.

- Seus olhos estão inchados, estava chorando? - Rebeca pergunta preocupada, finalmente eu desgrudo da cômoda, assumindo uma postura de uma mulher mais velha.

- Geovana e eu estávamos conversando sobre o passado, apenas isso - Respondi curta e ainda confusa com o que acabou de acontecer - Vou dormir, não façam muito barulho.

Deitei na minha cama, me cobrindo rápido, elas não disseram nada, na verdade isso só aumentou a desconfiança delas.

Não posso acreditar nisso.

Geovana em um dia é como uma irmã para mim, uma pessoa que eu admiro pela força e resistência, o que nos aproximou foi a minha vontade de querer ajudá-la na sua jornada.

Mas eu queria tanto aquele beijo, que nem sei direito se ela iria me beijar ou minha mente me pregando peças.

Fechei os olhos com tanta força que minha cabeça doeu, e adormeci tendo Geovana como principal dos meus pensamentos.

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Geovana sofre, coitada.

E essa interação? 👀

Espero que tenham gostado deixem seus votos e comentários!

𝐎 𝐂𝐀𝐎𝐒 𝐃𝐎 𝐍𝐎𝐕𝐄  • 𝐉𝐀𝐃𝐄 𝐁𝐀𝐑𝐁𝐎𝐒𝐀 Onde histórias criam vida. Descubra agora