· Romeu

69 10 26
                                    


Satoru Gojo

A porta à minha frente é aberta e então percebo que estou numa escadaria escondida que leva ao teto da Masters. A luz da lua invade o local, banhando as paredes de pedra exposta ao redor e
batendo no garoto que lidera o caminho, o que faz uma sombra longa se esticar, indo de seus sapatos até os meus.

Ele salta o último degrau até o teto e segura a porta aberta para mim. Me apresso pelo corredor diagonal apertado até estar livre.

A brisa noturna fria atinge meu rosto com violência – uma violência refrescante.

Inspiro fundo, sentindo os pulmões
expandindo com ar puro. Giro no mesmo lugar, observando todo o cenário à minha volta. Estamos no topo de uma das torres –
desse ângulo, parece a Sul. As árvores da floresta balançam e balançam numa dança ritmada com o vento. Ao fundo, o mar se
mistura de maneira indistinguível com o céu escuro, criando uma cortina que se estende em todas as direções. É uma visão
bela; no entanto, profundamente solitária.

Suguru fecha a porta que nos deu passagem para este lugar e então dá uma corridinha até o balaústre que delimita todo o teto,
formando uma espécie de mezanino. Os arquitetos provavelmente sabiam que, de qualquer forma, jovens estúpidos como nós subiriam até aqui.

O filho do diretor observa a vista por alguns instantes e logo se volta para mim:

— Então, o que acha? — indaga, com um sorriso orgulhoso nos lábios, seus fios negros bagunçados pela brisa cobrindo
metade de seu rosto.

Eu me aproximo do balaústre, ficando ao lado dele.

— É lindo.

— É mesmo. — Juntos, observamos a floresta quiescente. A porção mais próxima do prédio é iluminada pelas luzes artificiais que vazam pelas janelas. — Essa passagem ali — diz Suguru, apontando para trás com a cabeça — é uma que só os veteranos conhecem, então não sai espalhando, ainda mais pros seus dois amigos.

— O Haibara e Nanami são tranquilos.

— Mesmo assim — ele se aproxima até que seu ombro toca no meu —, fica entre nós.

Concordo em silêncio.

Desvio o olhar para o horizonte outra vez, só então me dando conta de algo.

— Todos aqueles olhares no refeitório… — murmuro. — Esteve planejando me trazer aqui o tempo todo?

— Não, na verdade foi uma decisão de última hora.

— Por quê?

— Porque eu queria te encontrar de novo, e você saiu do refeitório antes que eu pudesse chegar em você pra te falar isso.

— Tinha algo que eu precisava fazer.

Ele franze o cenho.

— Cheio de mistérios — balbucia, com certa ironia.

Esfrego meus braços. Aqui fora está frio, mas nem de longe tão frio quanto naquele corredor com o demônio da floresta.

O que Suguru acharia se eu contasse sobre a figura agora?

Tentaria me convencer, mais uma vez, de que é só um truque da minha mente?

-» Entre neblina e desejo / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora