Satoru GojoBotamos o plano em prática na mesma noite.
Esperamos até o jantar ser encerrado e, depois, mais uma hora por segurança.
Nanami tenta vigiar os passos do zelador,
mas o perde de vista numa ronda no primeiro andar. Isso é uma boa notícia, já que a sala de Naobito fica no segundo. Mesmo assim, vamos precisar contar com um pouco de sorte para sairmos ilesos da empreitada.Quando a escola inteira vira um breu, nos esgueiramos com cuidado pelos corredores, sob as luzes da minha lanterna, até o
corredor da sala do professor de botânica.Deixamos nossos sapatos nos quartos para garantir que não faremos barulho, e o
chão frio castiga nossos pés desprotegidos pela ausência de meias.Alcançamos a sala do sr. Zenin. Nanami e Haibara ficam de guarda em cada uma das extremidades do corredor, para nos
alertar de qualquer aproximação, enquanto Suguru e eu nos encarregamos de invadir a sala. Enquanto estamos nos
afastando, Nanami diz entredentes:— Sejam rápidos.
Eu sei que está nervoso com a possibilidade de ser pego, mas foi decisão dele me acompanhar. Penso em dizer isso, mas seria apenas tempo gasto à toa, então assinto e sigo com meu trabalho.
Quando desenvolvi tanta antipatia pelo Nanami? O pensamento cruza minha mente enquanto me agacho em direção à fechadura da porta trancada. Não é como se eu quisesse pensar nessas coisas, mas elas me vêm sem serem convidadas.
Abandono a lanterna no chão. Retiro meus clipes de metal e o canivete do bolso. Talvez minha confiança em Haibara e Nanami tenha mesmo se quebrado desde que encontrei o rosto de Haibara naquele livro.
— O que cê tá fazendo? — sussurra Suguru ao me ver trabalhando no buraco da fechadura.
— Um truque que aprendi com oito anos — murmuro e, logo em seguida, ouço um clique.
Eu me levanto e abro a porta, com cautela, como se sentisse que há um monstro me esperando logo atrás dela. Mas não há. E, como esperado, a sala de Naobito está escura e fria. Sem a lanterna, não conseguiríamos ver nada. Entro
primeiro, e Suguru me segue logo atrás. Há um pequeno abajur na mesa, o filho do diretor o acende, melhorando a visibilidade, mas não o suficiente para denunciar nossa presença a qualquer um
que passe pelos corredores.Exploro o ambiente. Há uma mesa de canto com alguns livros apoiados, cercada por duas poltronas. Algumas réplicas de
quadros expressionistas penduradas nas paredes. Samambaias em vasos suspensos. Três estantes pequenas de livros. Tudo
muito bem organizado, mas nada fora do comum. É quase decepcionante. Imaginei que, logo ao entrar na sala, veria algo que o denunciasse.Suguru averigua as estantes e os livros presentes nelas. Está perdendo tempo. Me aproximo da mesa principal, onde está o
abajur, alguns papéis e canetas. Analiso as folhas. São testes, todos impressos. Droga.
Então dirijo a atenção às gavetas sob a mesa. Abro a primeira; mais papéis impressos e um livro pequeno. Apanho-o e
leio o título. Pequeno guia de bolso sobre plantas subaquáticas.Reviro os olhos.
Abro a segunda gaveta e, imediatamente, meu coração para.
Observo seu conteúdo sem conseguir mover um dedo, sentindo meu estômago se revirar. Por fim, consigo apanhar a primeira folha de papel nas mãos. Não passa do retalho de uma página de
livro. O retalho que eu reconheceria em qualquer lugar, porque tenho sua parte complementar.
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-» Entre neblina e desejo / Satosugu
Romance- A Academia Masters é um dos internatos mais prestigiados dos Estados Unidos. Escondido em uma ilha na costa da Flórida e cercado por muros impenetráveis, o internato recebe novas turmas anualmente. Mas, além dos alunos, abriga segredos sinistros e...