· Slenderman

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Satoru Gojo

Alguns dias depois

É uma manhã anômala, fria e nublada. O céu, que costuma ser de um azul vibrante, está cinza. A janela está embaçada pela
umidade, obstruindo a visão do restante da ilha. Meus dedos estão enrugados - como estavam quando meu corpo estava submerso na piscina.

Tento não pensar demais naquele dia. Não posso, senão enlouquecerei. A única conclusão a que cheguei é que a pessoa
que tentou me matar voltou ao salão depois que Suguru me salvou, substituiu a lona e limpou a água. Isso significa que ela sabia não apenas onde uma lona reserva era armazenada, mas também como trocá-la. Ou seja, só pode ser alguém com mais
conhecimento sobre os funcionamentos do prédio do que um aluno comum. Um adulto; um funcionário; um professor. É o
Naobito Tenho certeza disso.

Mas essa explicação não serve de nada. Ainda sou visto como o lunático que se machucou na piscina e inventou a história de um serial killer. Ninguém acredita em mim além de meus amigos e Suguru. E o Sukuna, é claro. No meio de tudo, o
desgraçado ainda saiu impune.

Pisco demoradamente. Pela primeira vez desde que cheguei a este lugar, não tenho forças para começar um novo dia. Meus
ombros estão pesados. Pareço ter chumbo em vez de ossos nos pés. Meus músculos e minha mente doem, latejam. Só quero
encontrar o Calvin e parar com esse pesadelo. Para isso, no entanto, preciso seguir em frente.

Expiro fundo.

Em minha cama, me sento calado e distraído, com a mensagem que Calvin me deixou antes de desaparecer numa
mão e, na outra, a de "S". Meus olhos estão fixos nos fragmentos de papel, mas minha mente está longe, longe daqui.
Por que "S" tentaria me matar depois de me dizer para procurar Calvin fora do castelo? Quer ou não quer que eu encontre meu irmão? Se ele é o responsável pelo
desaparecimento de Calvin, por que quer me ajudar a encontrá-lo?

Nada faz sentido. E, quanto mais tento desembaralhar os nós em minha cabeça, mais ela dói, e mais longe me sinto de
chegar a qualquer conclusão que faça sentido. Tudo o que tenho são suposições e desconfianças. Não tenho provas reais de nada e preciso me apressar a consegui-las caso a pessoa da piscina resolva terminar o que começou.

Engulo em seco. Pego um dos livros didáticos de botânica sobre a escrivaninha, uma folha de papel em branco, uma
caneta. Uso minhas coxas de apoio. Escrevo uma resposta ao bilhete de "S".

"Sinto que estou enlouquecendo. Me dê algo concreto com que possa trabalhar, algo que me ajude a provar que há coisas erradas acontecendo aqui, comigo. Já me falaram tantas vezes que meus olhos e minha mente estão me pregando peças que estou começando a acreditar.

- Satoru."

Dobro o bilhete e o coloco no meio do livro. Me levanto e entro no banheiro. Não posso desistir. Não ainda.

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Pulo o café da manhã. Vou direto do quarto para a biblioteca.

Nanami e Haibara sentirão minha falta, mas minha ansiedade não me permitiria aproveitar uma refeição em paz. Preciso agir, mesmo que isso signifique me corresponder com a pessoa que possivelmente tentou me matar algumas noites atrás. Entro no largo espaço preenchido por livros, estantes, mesas de estudo e um aroma de âmbar característico. Como esperado, está vazio, à exceção do bibliotecário de meia-idade
distraído em seu balcão. Passo por ele, que nem sequer me dirige o olhar. O velho exala a mesma aura de negligência da
enfermeira. Deve ser ótimo ser tão ignorante dos terrores que ocorrem neste prédio.

-» Entre neblina e desejo / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora