A ultima noite...

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Pedro estava em casa, o silêncio pesando como nunca. O apartamento, antes cheio de vida e memórias, agora parecia uma sombra do que já fora. João havia saído à tarde, sem dizer muito, e Pedro sabia que ele só voltaria na manhã seguinte, como costumava fazer. Mas essa noite estava diferente. Pedro sentia isso no fundo do peito, uma angústia que não sabia explicar.

De repente, o celular vibrou. Uma notificação inesperada. Pedro pegou o aparelho e, ao ver o nome de João na tela, seu coração deu um salto. João nunca mandava mensagens quando saía. Nunca.

Mensagem on:

J:pepe

J:sobe aqui em cima do prédio

J:vem ficar comigo, pfv

J:to aqui desde cedo sozinho

P:tudo bem

Mensagem off.

Pedro não pensou duas vezes. Pegou um casaco, saiu do apartamento e subiu as escadas que levavam ao telhado. O ar estava frio, e cada passo ecoava o medo e a incerteza que preenchiam seu coração. Ao abrir a porta para o telhado, ele o viu. João estava sentado no chão, encostado na parede, o rosto iluminado pela luz fraca da lua.

P:Oi...

J:Oi... - respondeu João, a voz soando cansada, quase apagada.

Pedro se aproximou e, sem hesitar, sentou-se ao lado dele. O silêncio entre eles era ensurdecedor, mas não precisavam de palavras. A presença um do outro era suficiente para transmitir tudo o que sentiam naquele momento.

Foi então que Pedro percebeu algo incomum em João. Ele estava segurando um cigarro, algo que Pedro nunca imaginaria ver nas mãos dele.

J:Quer um? - perguntou João, estendendo o maço de cigarro para Pedro.

Pedro hesitou, mas por alguma razão, aceitou. Talvez fosse o desejo de entender o que se passava na mente de João, de estar mais próximo dele, mesmo que fosse através de algo que ele jamais aprovaria.

O cheiro forte do cigarro encheu o ar ao redor deles. Estavam lado a lado, fumando, uma cena que parecia saída de um pesadelo ou de um momento perdido no tempo.

P:Não sabia que fumava...

J:É... já experimentei tanta coisa que nem imagina... - a voz de João estava carregada de algo sombrio, como se ele estivesse falando de uma outra versão de si mesmo, uma versão que Pedro nunca conhecera.

P:Sabe... eu queria poder imaginar. - respondeu Pedro, sentindo o peso daquelas palavras.

J:Não iria gostar. - João deu um trago profundo, deixando a fumaça sair lentamente de sua boca, como se estivesse exalando todas as mágoas e dores que carregava.

Depois de um tempo, João se deitou no peito de Pedro. Pedro podia sentir o coração dele batendo, mas havia algo diferente, como se o ritmo estivesse alterado, como se aquele coração estivesse desistindo de lutar.

J:Eu não quero te perder, Pedro, eu não posso te perder... - a voz de João tremeu, quase implorando, como se aquelas palavras fossem a última coisa que ele pudesse dizer antes de desmoronar.

P:Eu também não quero, meu amor, mas tá tão difícil... - Pedro sentiu os olhos marejarem. O peso das escolhas, dos erros e do passado estava sobre eles, esmagando qualquer esperança de um futuro juntos.

J:Eu... eu te amo, Pedro, se eu te perder, todos vão me perder também... - João finalmente olhou para Pedro, seus olhos refletindo uma dor tão profunda que parecia não haver saída.

P:Não faz isso, por favor... - Pedro segurou o rosto de João, tentando ancorá-lo na realidade, afastando qualquer pensamento sombrio.

P:Me promete que vai ficar bem?

J:Não... - João sussurrou, quase inaudível, a confissão de sua incapacidade de prometer algo que ele não sabia se poderia cumprir.

Pedro fechou os olhos, sentindo o desespero apertar seu coração. Era como se estivesse segurando areia, que escapava lentamente entre seus dedos, e não havia nada que ele pudesse fazer para impedir.

P:Então, saiba que eu nunca vou te esquecer, meu bem. - as palavras saíram com dificuldade, como se cada uma fosse uma facada em seu próprio coração.

Eles ficaram ali, lado a lado, conversando como se fossem estranhos se reencontrando, como se estivessem se despedindo de um amor que havia se perdido em meio à dor e ao sofrimento. O cigarro queimava lentamente entre os dedos de Pedro, mas o fogo dentro dele estava se apagando.

A noite avançou, e a conversa se tornou cada vez mais melancólica, quase resignada. Pedro sabia que algo estava mudando, que talvez aquela fosse a última vez que estariam juntos assim. O céu escuro parecia testemunhar sua despedida silenciosa.

Finalmente, João quebrou o silêncio.

J:Sabe, Pedro... eu não sei o que vai acontecer amanhã, mas eu sei que te amo. E se um dia eu não estiver mais aqui, quero que saiba que você foi tudo para mim. - as palavras saíram carregadas de uma tristeza profunda, como se ele estivesse dizendo adeus.

Pedro não conseguiu responder. Ele só o abraçou, apertando-o com força, tentando gravar aquele momento em sua memória para sempre. Não queria deixá-lo ir, não queria aceitar que o fim poderia estar tão próximo.

Mas, ao olhar nos olhos de João, ele viu a verdade. Viu a dor, o cansaço, o desespero. E viu que talvez não houvesse mais nada que ele pudesse fazer para salvá-los.

A noite foi se arrastando, cada minuto parecendo uma eternidade. Eles ficaram ali, juntos, até que o cansaço os venceu. João adormeceu no peito de Pedro, e Pedro ficou ali, acordado, velando por ele, temendo o que o futuro traria.

E enquanto as estrelas brilhavam silenciosamente no céu, Pedro sussurrou:

P:Eu nunca vou te esquecer, João... nunca. - e, com essas palavras, ele fechou os olhos, permitindo que as lágrimas silenciosas caíssem, marcando aquela noite como uma das mais difíceis de sua vida.

A despedida que eles nunca quiseram, mas que talvez fosse inevitável, estava ali, pairando entre eles como uma sombra que não poderia ser ignorada.

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Noite de despedida. Sem promessas de um amanhã, apenas o peso de um amor que, mesmo forte, estava sendo corroído pelas circunstâncias.

Um amor "Proibido"-PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora