Noite na praia

10 1 0
                                    

A praia de São Paulo estava silenciosa naquela noite, apenas o som das ondas quebrando na areia quebrava a tranquilidade. João, ainda imerso na tristeza que o show e sua vida lhe causavam, se encontrava sentado na areia, um pouco afastado da água. A lua iluminava seu rosto, enquanto ele bebia e fumava, tentando afogar a dor que parecia interminável. Seus pensamentos eram um emaranhado de arrependimento e solidão.

Pedro, por outro lado, também estava na praia, um pouco distante, tentando encontrar alguma paz em meio à escuridão. Após o término do show, ele decidiu ir até lá, como se o lugar pudesse oferecer algum consolo. As memórias de momentos passados na praia, junto com João, vinham à tona, trazendo uma mistura de dor e nostalgia.

A brisa fria fazia a areia se mexer ao redor deles, e Pedro estava prestes a se levantar e ir embora quando notou a figura de João. Ele hesitou por um momento, mas, movido pela preocupação e pelo desejo de rever um antigo amor, decidiu se aproximar.

— Oi, João — Pedro disse suavemente, sentando-se ao lado de João, que não percebeu sua chegada de imediato.

João levantou a cabeça, surpreso ao ver Pedro ali. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar.

— Pedro? O que você está fazendo aqui? — perguntou João, tentando esconder sua surpresa e o olhar de dor.

— Eu estava apenas... tentando encontrar alguma paz. Vi você aqui e achei que poderia me sentar — respondeu Pedro, acendendo um cigarro, como se isso pudesse trazer um pouco de conforto.

Ambos ficaram em silêncio por alguns momentos, o som das ondas se misturando ao silêncio deles. Pedro olhou para o lado, tentando entender o que estava acontecendo com João.

— O show foi bom, não foi? — Pedro quebrou o silêncio, tentando iniciar uma conversa.

João deu um sorriso triste e meio forçado.

— Sim, foi. Mas não importa muito, não é? Só mais uma noite...

Pedro notou que a manga do casaco de João estava um pouco levantada, revelando cicatrizes e marcas que João parecia tentar esconder.

— Seu braço... o que aconteceu? — Pedro perguntou com um tom de preocupação genuína, o olhar fixo nas marcas.

João imediatamente abaixou a manga, como se pudesse esconder a dor e os sinais do que estava passando.

— Não é nada, Pedro. Apenas... bobagem. Não se preocupe com isso.

Mas Pedro não estava convencido. Ele sabia que aquelas marcas não eram apenas "bobagem".

— João, você sabe que pode me falar. O que está acontecendo com você?

João suspirou profundamente, um misto de cansaço e desespero em sua voz.

— Eu... eu não sei mais. Às vezes, sinto que a dor é a única coisa que consigo sentir. É mais fácil lidar com isso do que com a solidão.

Pedro se aproximou um pouco mais, colocando uma mão gentil no ombro de João.

— João, não é assim que você deve lidar com isso. A dor não deve ser a sua companhia constante. A solidão pode parecer insuportável agora, mas há outras formas de lidar com isso. Você não está sozinho, mesmo que pareça. Você tem amigos que se importam, e eu ainda me importo.

João balançou a cabeça, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Às vezes, parece que nada vai melhorar. Eu sinto que estou preso em um ciclo sem fim de tristeza e dor.

Pedro olhou para João com um olhar de empatia profunda, seu coração apertado pela dor que via nos olhos de seu ex.

— Eu entendo que é difícil agora, mas você precisa buscar ajuda. Falar com alguém pode fazer uma grande diferença. E, por favor, não se machuque mais. Você merece sentir algo bom, mesmo que não pareça possível agora.

João respirou profundamente, ouvindo as palavras de Pedro. Um leve alívio parecia se formar em meio à sua dor, como se aquelas palavras fossem um fio de esperança.

— Vou tentar... tentar buscar ajuda. Mas é difícil, Pedro.

Pedro deu um sorriso triste, sua própria dor visível em seus olhos.

— Eu sei que é difícil. Só... cuide-se, João. Não se perca mais do que já se perdeu.

Ambos ficaram em silêncio novamente, o som das ondas sendo a única companhia deles. Finalmente, Pedro se levantou, dando um último olhar para João.

— Eu preciso ir agora. É tarde, e eu... ainda tenho muito o que pensar.

João assentiu, um pouco mais calmo, mas ainda com a dor evidente em seu olhar.

— Obrigado por... vir até aqui e por suas palavras.

Pedro se afastou lentamente, sua figura se misturando com a escuridão da praia. João permaneceu ali, sentado na areia, enquanto as lágrimas continuavam a cair. O encontro, embora breve, trouxe um momento de clareza e um leve alívio, mas a solidão e a dor ainda estavam presentes, como ondas que nunca cessam.

A noite continuava, e ambos se afastavam, mas com a sensação de que ainda havia algo a ser resgatado, mesmo que não soubessem o que era exatamente.

Um amor "Proibido"-PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora