A ultima melodia

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O dia havia chegado. O lançamento do álbum *Anti-Herói* estava nas mãos do mundo, e João sabia que, a partir daquele momento, as músicas não seriam mais só suas. Era um alívio e um fardo ao mesmo tempo. Ele passara meses derramando sua alma em cada nota, em cada verso, esperando que, de alguma forma, isso o libertasse da dor que carregava. Mas, no fundo, sabia que não era tão simples.

João acordou cedo, o estômago embrulhado de ansiedade. Mesmo que tentasse se distrair com a rotina, era impossível ignorar o peso daquele dia. Ele sabia que Pedro iria ouvir. Sabia que as palavras que havia escolhido com tanto cuidado iriam ecoar nos ouvidos de quem, um dia, fora o amor de sua vida. A dor que ele queria esquecer seria revivida com cada música que Pedro tocasse, e essa certeza o acompanhou enquanto ele vagava pela casa, tentando se preparar para o impacto.

Em algum lugar da cidade, Pedro estava sozinho em seu apartamento, as mãos tremendo ao segurar o celular que exibia o álbum de João. Havia tentado resistir, pensado em não ouvir, em se proteger da avalanche de emoções que sabia que viria. Mas no fundo, ele não tinha escolha. *Anti-Herói* era mais que música; era uma despedida, uma tentativa desesperada de João de se conectar com ele uma última vez.

Pedro apertou o botão de play, e as primeiras notas suaves preencheram o silêncio do quarto. Uma melodia familiar, cheia de tristeza e saudade. Ele fechou os olhos, permitindo que as lágrimas caíssem antes mesmo de a letra começar. Quando a voz de João ecoou pelo ambiente, foi como se cada palavra fosse uma faca, cortando fundo em seu coração.

"Em quem você pensa enquanto me beija, beija, beijaa..."João cantava, sua voz carregada de emoção. Pedro lembrava-se de cada momento em que aquela solidão havia invadido o relacionamento deles, de como João se afundava nela, mesmo quando estavam juntos. Agora, essa solidão era tudo o que lhes restava.

A cada música que passava, Pedro sentia o peso das lembranças o esmagando. As noites que passaram juntos, as promessas que fizeram, tudo voltava com uma clareza dolorosa. As músicas eram confissões, palavras que João nunca teve coragem de dizer cara a cara, mas que agora ressoavam nas paredes vazias do apartamento de Pedro.

"Uma noite pra viver tudo, uma noite acordados..."A voz de João parecia um sussurro no ouvido de Pedro, trazendo de volta o aroma familiar que ele havia tentado esquecer. Aquela sensação de conforto, de pertencimento, que só João podia proporcionar.

Pedro afundou-se no sofá, abraçando o próprio corpo enquanto as lágrimas continuavam a rolar. Cada música parecia mais difícil que a anterior, cada palavra era uma lembrança dolorosa do que tinham e do que perderam. Era como reviver o término, mas desta vez, não havia escapatória.

A quarta música começou a tocar, e Pedro reconheceu os acordes imediatamente. Era a música que eles sempre ouviam juntos nas noites frias, quando o mundo parecia estar contra eles. João havia reescrito a letra, transformando-a em um adeus devastador.

"Essa eu fiz pra cada passo nosso, cada dia lindo da nossa história, e sendo essa sobre o nosso amor a também de sendo o dia em que você foi embora..." A voz de João falhava na gravação, e Pedro sabia que era porque ele estava chorando enquanto cantava. A dor de João estava ali, crua e visível, e Pedro sentiu-se culpado por tudo o que tinham passado. Queria poder voltar no tempo, mudar as coisas, mas agora era tarde demais.

A música seguinte era a mais dolorosa de todas. Chamava-se "Nota de Voz 8", e era o verdadeiro adeus de João. Pedro mal conseguia respirar enquanto ouvia as palavras que sabia serem dirigidas a ele.

"Minhas melodias tão vazias, longe dos teus escritos... eu não devia questionar, me desculpa mesmo..."A voz de João estava carregada de emoção, e Pedro sentiu o peso de cada palavra. Ele sabia que João estava tentando seguir em frente, tentando se despedir, mas a dor era quase insuportável. Cada nota, cada verso era um grito de dor, uma tentativa desesperada de se libertar do amor que ainda os prendia.

Pedro não conseguiu mais conter as lágrimas. Chorava alto, soluçando, sentindo-se como se estivesse perdendo João de novo, mas de uma maneira ainda mais definitiva. O amor que compartilhavam estava ali, nas músicas, mas agora era algo distante, inalcançável.

Quando a última música acabou, Pedro ficou em silêncio, encarando o vazio. Não havia mais o que fazer, não havia mais para onde correr. Ele sabia que aquele álbum era a despedida de João, mas também sabia que, por mais que tentasse, nunca conseguiria dizer adeus de verdade.

Do outro lado da cidade, João estava sozinho em seu estúdio, segurando o telefone e esperando uma ligação que sabia que nunca viria. Ele imaginava Pedro ouvindo as músicas, chorando como ele havia chorado enquanto as escrevia. Era uma dor que ele nunca desejou sentir, mas sabia que era necessária. Precisava se libertar, mesmo que isso significasse cortar o último fio que os conectava.

Mas mesmo assim, enquanto as horas passavam e o silêncio preenchia o espaço ao seu redor, João sabia que nunca superaria Pedro. *Anti-Herói* era seu grito de socorro, seu último ato de amor, mas também era uma confissão de que, no fundo, ele ainda pertencia a Pedro, mesmo que o mundo tentasse convencer do contrário.

E assim, enquanto a noite caía sobre a cidade, João e Pedro permaneceram em seus próprios mundos, separados pelo destino, mas conectados pela dor. Eles sabiam que aquela era a última vez que suas almas se encontrariam nas notas de uma canção, e isso era mais doloroso do que qualquer coisa que já haviam enfrentado juntos. A música havia acabado, mas a dor, essa nunca iria embora.

Um amor "Proibido"-PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora