A chuva caía pela janela. Trazia em cada gota a lembrança viva de um passado nunca esquecido. Natália se lembrava, todo dia, da mesma história. Fazia seis anos agora, mas parecia que tudo havia acontecido ontem.
Ela tinha saído do Rio de Janeiro com uma dor no peito, e deixando uma história para trás. Seu casamento da adolescência tinha chegado ao fim. Oito anos casada com Emiliano. O único homem de sua vida, e ainda assim, Natália nunca tinha sido realmente feliz. Seu maior desejo de ser mãe, ia cada dia morrendo naquele casamento, até que chegou a hora de terminar tudo.
Para esquecer e encontrar um novo caminho na vida, ela decidiu ir estudar inglês em Nova York. Sua irmã e tia deram todo seu apoio, e contra os conselhos da mãe, Natália partiu para uma temporada longe de tudo.
Nova York foi a melhor escolha da sua vida. Além dos estudos, que iam super bem, Natália conheceu uma vida que nunca sonhou em ter. Tinha feito amigos novos e de todos os lugares do mundo. E por um desses novos amigos ela conheceu Sofia. A tão badalada e famosa Sofia. Seu nome não era tão conhecido na fotografia, mas nas mesas de bar, não tinha quem não suspirasse por aquela mulher.
A linda moça de cabelos loiros, olhos azuis e pele branca como a neve, logo a conquistou. Ela falava do mundo com a experiência de alguém com seus sessenta anos, mas Sofia tinha a mesma idade de Natália. Sua liberdade, seu desejo de viver era contagiante, e Natália não se lembra ao certo, quando aquela aventura, aquele tempo de descoberta, tinha se transformado em amor.
Amor que era recíproco. A conquistadora Sofia tinha se acalmado, seus olhos e atenção eram todos para Natália.
Com o fim do curso de inglês, Natália estendeu seu visto e ficou trabalhando como assistente de Sofia. Compartilhavam seus sonhos e desejos para a vida. Natália ainda não lembra como teve coragem, quando pediu para Sofia ser a mãe dos filhos dela.
O olhar vivo de Sofia, a alegria que tomou conta da mulher. Natália lembrava de tudo. Aquele perfume inesquecível, aquela pele macia. Tantas noites de amor que vieram depois daquele pedido. Tanto amor naquela tristeza que se abateu.
Por alguma razão, Natália não conseguia manter a gravidez. Já tinham tentando todas as formas de inseminação, trocado o doador, mas o terceiro mês chegava, e a criança morria. A infelicidade, o sentimento de frustração, saber que todos aqueles anos em que ela secretamente havia culpado o ex-marido por não ter um filho, era na verdade culpa dela.
Então, Sofia mais uma vez foi altruísta demais. Entregou seu óvulo e deixou que Natália tivesse a gravidez desejada.
Passou o terceiro mês, e a cada mês sua barriga ia crescendo. Aquela vida ali dentro era calma, mas era o mais puro amor. Se seu sorriso tinha voltado, seu casamento com Sofia tinha voltado aos tempos gloriosos. As noites eram cheias de amor, e os dias uma espera infinita pelo nascimento daquele ser tão amado pelas suas mães.
Foi na trigésima sétima semana que o trabalho de parto se iniciou. Aquela dor, aquele momento que parecia eterno. Horas gritando, para no fim tudo se acalmar e ser celebrado com um choro. O primeiro choro, o primeiro contato. Natália se sentiu completa quando segurou sua linda bebezinha no colo pela primeira vez.
Sofia seguia como a autentica mãe de primeira viagem. Se a bebê respirasse diferente, ela já sabia, e estava com o telefone na mão, pronta para ligar para o médico, caso se repetisse. Os choros da madrugada, as trocas de fraldas. Tudo era motivo de alegria. Tudo elas aprendiam juntas.
Tudo era amor, então Natália não soube o que aconteceu. Ela sentia o amor. Mas ele não parecia ser suficiente. E Nova York ficou sufocante. Aquela vida naquele apartamento ficou sufocante. Sofia e a bebê ficaram sufocantes. E foi num dia de chuva, que ela saiu. Bateu aquela porta, e nunca mais voltou.
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Born To Die - Stalia
RomanceNatália e Sofia se conheceram durante uma viagem da dona de casa pra Nova York. Sofia é uma fotógrafa em ascensão, e Natália recém-separada tentando se reencontrar, ambas com 25 anos na época. A paixão foi imediata, e logo tudo que começou como uma...