Capítulo 2 - Nostalgia do seu toque

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Scarlett nunca gostou de voltas. Para ela, a vida sempre foi um movimento constante para frente, como uma flecha disparada que nunca deveria retroceder. No entanto, ali estava ela, de volta à Seul onde havia começado sua jornada. Era estranho estar ali novamente, depois de tantos anos. Cada canto daquele lugar guardava uma memória, e embora ela tivesse se convencido de que havia superado tudo, uma pequena parte de sua alma sabia que o passado jamais se desvanece por completo. Ele permanece, adormecido, até que algo o desperte.

O conversível deslizou suavemente pelas ruas bem pavimentadas da cidade, e Scarlett observava os arranha-céus que pareciam mais altos do que nunca, um símbolo da ascensão econômica que a cidade tinha experimentado desde que ela partiu. Ela se manteve distante desse crescimento, preferindo construir seu próprio império em lugares que não guardassem tantas recordações. Mas agora, a vida e talvez um toque de nostalgia a trouxera de volta.

Ela suspirou e cruzou as pernas com elegância, ajeitando as calças de linho preto que vestia sobre as pernas longas, um modelo sob medida, feito para exalar poder e classe, uma marca registrada sua. Afinal, a alfa não era qualquer uma; ela era uma alfa de renome, uma mulher que, apesar de sua juventude, havia conquistado tudo o que sempre desejara. Não, ela não permitia que o passado a dominasse. Scarlett era uma conquistadora.

Mas o retorno era inevitável. Havia negócios a serem resolvidos, alianças a serem firmadas e, talvez, algumas contas a acertar. Seus olhos, frios e calculistas, desviaram para o convite que repousava ao lado dela no assento de couro do conversível. Um evento de gala. Uma celebração para marcar o retorno de vários aristocratas que, como ela, haviam deixado a cidade em busca de novas oportunidades. Era esperado que ela comparecesse, claro. Sua presença era sempre notada, comentada, reverenciada. E embora soubesse que sua aparição causaria rebuliço, Scarlett também sabia que este era o primeiro passo para reconquistar seu espaço na cidade.

No entanto, enquanto pensava na gala, uma sombra do passado cruzou sua mente, uma lembrança que ela não esperava revisitar tão cedo. Taehyung. O nome, há muito esquecido, surgiu em sua memória com uma nitidez surpreendente. Lembrou-se dele como o pequeno ômega que sempre estava por perto, um menino doce, mas assustadoramente calado, que parecia se apegar a ela com uma devoção incomum. Scarlett sempre fora gentil com ele, afinal, ele era o filho de sua então esposa, e na época, ela havia acreditado que seria capaz de criar uma família feliz.

Mas o destino tinha outros planos, e o casamento com a ômega Kim não durou mais que quatro anos. Ela se lembrava claramente do momento em que deixou o grande apartamento localizado no centro de Seul, com nada mais que uma mochila em suas costas e um pequeno ursinho que o pequeno ômega insistira que ela levasse como uma lembrança de si.

Agora, tantos anos depois, Scarlett se perguntava se ele ainda estaria na cidade, e o que teria acontecido com ele. A vida de um ômega podia ser complicada, especialmente um com uma mente tão sensível quanto a de Taehyung. Ele sempre fora um menino introspectivo, calado, mas ela lembrava-se de como ele a olhava, como se ela fosse o centro de seu universo, havia algo de tocante e perturbador naquela adoração, algo que Scarlett jamais admitiria, mas que ela havia apreciado na época.

Ele era seu devoto mais fiel.

Porém, Scarlett não tinha tempo para nostalgia, ela era uma mulher de negócios, uma alfa de influência, e não podia se dar ao luxo de se perder em pensamentos sobre um garoto que, muito provavelmente, havia se perdido na vida. Mesmo assim, não pôde evitar que uma ponta de curiosidade se instalasse em sua mente.

O quanto ele teria crescido? O que ele estaria fazendo agora? Estaria casado? Feliz? O pensamento de que ele pudesse estar feliz sem ela lhe provocou um leve desconforto, algo que ela não soube ao certo de onde vinha.

O carro parou em frente a um dos hotéis mais luxuosos da cidade, onde Scarlett se hospedaria durante sua estadia. Ela precisou de alguns segundos para desembarcar do carro para organizar seus pensamentos, seu rosto imperturbável, uma máscara de indiferença que ela vestia com perfeição. O porteiro a cumprimentou com uma reverência, e a alfa apenas acenou com a cabeça, sua mente ainda parcialmente presa em lembranças que ela achava que havia deixado para trás.

Enquanto subia no elevador, Scarlett refletia sobre o que a aguardava naquela noite. Seria interessante rever velhos conhecidos, medir o quanto todos haviam mudado, ou não mudado, desde a última vez que os vira. Talvez até se divertisse, embora diversão não fosse algo que buscasse com frequência, para ela, tudo era uma questão de estratégia, de posicionamento. Cada movimento, cada palavra, eram calculados para obter o máximo benefício.

A muito tempo ela havia deixado de ser a jovem ingênua que saiu de Seul após uma humilhação pública daquele nível, ela era uma alfa que havia sido tratada como inferior por um ser de uma casta tão baixa como um ômega.

Ela era patética. 

Ao entrar naquele quarto de hotel tão vazio, a primeira coisa que pode notar foi o espelho que refletia sua imagem madura. Ela estava velha demais para coisas como aquela. 

Quarenta e oito anos, e nenhuma verdadeira realização. 

Ela não possuía família, seus pais haviam morrido a muito tempo.

Ela não tinha nada, aquele era seu ponto fraco. 

A solidão e o vazio, eram o seu refugio, a sua verdade. 

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