O som do despertador vibrou suavemente às cinco da manhã, uma batida familiar no coração silencioso do quarto. Scarlett abriu os olhos, piscando contra a escuridão ainda presente, sentindo a realidade do novo dia cair sobre seus ombros como um manto pesado. A madrugada parecia segurar seu fôlego lá fora, e por um instante, ela permaneceu imóvel, sentindo o corpo no leve torpor do despertar.
Ao seu lado, um corpo adormecido se mexeu sob os lençóis de seda. Scarlett virou a cabeça, sem qualquer emoção particular, para observar a figura feminina que compartilhara sua cama naquela noite. Uma ômega. De cabelos castanhos e macios, o cheiro de flores e suavidade ainda pairava no ar ao redor dela. Mas, além disso, não havia mais nada. Não havia nome, não havia lembrança. Apenas um vazio confortável que Scarlett, há anos, aceitara como parte de sua vida. A companhia da noite anterior não importava, não passava de um fragmento fugaz, algo que já começava a se dissolver com os primeiros sinais do dia.
Ela se levantou, cuidadosa para não acordar a mulher que ainda dormia tranquilamente, e caminhou descalça até o banheiro. A água fria que lavou seu rosto foi um choque bem-vindo, um ritual que a conectava de volta ao controle e à disciplina que ela cultivava desde os seus vinte anos. Enfrentar o dia significava, para Scarlett, encarar o espelho e ver não apenas seu reflexo, mas o tempo que se mostrava em cada linha fina e discreta em seu rosto.
Ali, no vidro impecavelmente polido, estava a alfa que o mundo reverenciava: Scarlett, uma mulher de presença quase imperial, com uma beleza ainda forte, mas amadurecida pelos anos. Seu olhar, ainda afiado, estava mais profundo, como um lago de águas escuras que escondia segredos inumeráveis. O tempo havia suavizado alguns aspectos de sua aparência, mas também lhe dera uma aura de poder que poucas alfas poderiam igualar. E no entanto, em momentos como este, quando o mundo ainda dormia, ela se via confrontada pela inevitável marcha do tempo. Havia uma sombra de algo, talvez arrependimento ou apenas a consciência de que o controle era uma ilusão - um sopro contra as forças maiores do destino.
Enquanto ajeitava os cabelos lisos perfeitamente ao redor de seu rosto e colocava o tailleur meticulosamente alinhado, Scarlett notou uma linha de pensamento, uma lembrança antiga, começando a se infiltrar em seus pensamentos. Era como se, ao olhar para si mesma, algo dentro dela fosse puxado para o passado.
Taehyung.
O nome soou em sua mente com uma suavidade perturbadora. Como uma melodia há muito esquecida que surgia de repente. Fazia anos desde que ela pensara naquele menino, o pequeno ômega que sempre a seguia pela casa, que a observava com olhos grandes e atentos, cheios de uma devoção silenciosa que Scarlett nunca soube exatamente como processar.
O que teria acontecido com ele?
A pergunta flutuou na mente de Scarlett enquanto ela se movia pelo quarto, preparando-se para o dia. A ômega ainda dormia, alheia ao turbilhão de pensamentos que corria pela cabeça de Scarlett. Ela já havia deixado para trás tantas pessoas, tantas histórias inacabadas. Então, por que, agora, Taehyung voltava com tanta força? Ele era apenas uma memória, uma parte de um capítulo que ela já havia encerrado, não era? Talvez fosse o retorno a Seul, esta cidade cheia de lembranças, ou talvez o fato de que ele era um daqueles poucos que ela havia deixado com uma promessa.
Ela imaginou brevemente como ele estaria agora. Não era mais uma criança, certamente. Ele teria crescido. Seria ele feliz? Bem-sucedido? Havia algo dentro de Scarlett que queria saber, algo que a incomodava como um espinho em sua pele. Talvez porque, em algum nível, ela sabia que a promessa feita a Taehyung, de uma forma ou de outra, ainda pairava sobre ela, como um fio que não havia sido cortado.
Com um suspiro, Scarlett colocou o último anel no dedo e dirigiu-se à porta. A ômega na cama não receberia mais do que um olhar rápido antes de Scarlett sair para o dia que a aguardava. Como sempre, o trabalho era sua fuga e seu foco. Não havia tempo para reflexões prolongadas sobre o passado.
Quando chegou ao escritório de sua empresa, o prédio estava silencioso, ainda esvaziado pelos primeiros raios da manhã. Scarlett gostava de chegar cedo, antes de todos, quando a sede de sua corporação era apenas sua. Caminhou pelos corredores com passos firmes e decididos, sentindo a familiaridade de cada canto, de cada som.
Sua secretária, Ji-eun, já estava em seu posto, sempre eficiente, sempre pontual. Ao ver Scarlett, ela imediatamente se levantou, com uma prancheta em mãos e pronta para os próximos comandos.
- Bom dia, senhora Scarlett - Ji-eun a cumprimentou com um tom profissional, mas respeitoso.
- Bom dia, Ji-eun - Scarlett respondeu com um aceno. - Preciso que faça algo para mim.
Ji-eun, sempre pronta, começou a anotar enquanto Scarlett falava:
- Quero que você encontre um ômega. O nome dele é Kim Taehyung. Preciso de um relatório completo sobre ele - onde estudou, onde trabalha, com quem se relaciona. Tudo o que puder encontrar.**
Ji-eun piscou, um pouco surpresa, mas manteve a compostura.
- Kim Taehyung? Senhora, você sabe quantos Kim Taehyung existem na Coreia?
Scarlett, que raramente se envolvia em trivialidades, olhou diretamente para Ji-eun com um brilho calculado nos olhos.
- Esse é filho de Kim Seokjin e Park Minyoung. Nasceu em abril, tem sangue tipo O, aroma de cerejeira no início da primavera. Ele estudou em uma pequena creche no distrito de Mapo. Era uma criança pequena e delicada, com olhos escuros que pareciam enxergar além das palavras. Ele vai se destacar.
Houve um silêncio momentâneo enquanto Ji-eun processava as informações. Havia algo no tom de Scarlett que a fez perceber que esse pedido não era como os outros. Havia um peso, um significado que ela não compreendia completamente, mas sabia que era importante.
- Entendido, senhora. Vou providenciar isso imediatamente - Ji-eun respondeu, com a mesma eficiência de sempre.
Scarlett se recostou em sua cadeira, observando sua secretária sair da sala. O pedido estava feito. Logo, ela teria as respostas que procurava. Mas, no fundo, uma parte de si se perguntava se realmente queria saber. Talvez Taehyung tivesse seguido em frente, talvez ele tivesse esquecido aquela promessa que ela havia feito em um momento de fragilidade.
Mas o fato de que ele estava em seus pensamentos, de que seu nome tinha voltado com tal força, dizia outra coisa. Scarlett não podia simplesmente ignorar isso. Havia algo entre ela e aquele ômega, algo inacabado, algo que precisava ser confrontado. E ela sabia que, uma vez que tivesse as informações, o encontro seria inevitável.
Enquanto o dia se desdobrava ao redor dela, Scarlett voltou sua atenção para as inúmeras responsabilidades que a aguardavam. Mas, lá no fundo, o nome Kim Taehyung ecoava, e a imagem daquele menino, agora certamente um homem, continuava a assombrar seus pensamentos, como uma sombra persistente que ela ainda não conseguia dissipar.
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Pecado sombrio
RomanceKim Taehyung é um ômega conhecido por sua amabilidade e gentileza, sempre irradiando uma aura de inocência e calor. No entanto, por trás de seu sorriso doce, esconde-se uma mente calculista e uma obsessão profunda que ele nutre em segredo. Desde cri...