Capítulo 15 - Confissão dos meus pecados

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Scarlett despertou ao som suave do amanhecer entrando pelas frestas das cortinas. Ao seu lado, um corpo delicado e quente se movia levemente entre os lençóis. O ômega, de pele jovem e traços tão parecidos com os de Taehyung, respirava profundamente, ainda mergulhado em sonhos. O aroma adocicado dele pairava no ar, mas ao contrário do que deveria sentir - uma satisfação tranquila após a noite - o vazio em seu peito parecia pulsar ainda mais forte.

Ela se sentou na beira da cama, os olhos fixos no chão do quarto de hotel, as roupas jogadas pelo chão de maneira desordenada. O peso de seus próprios pensamentos pressionava sua mente, tornando o silêncio do quarto quase insuportável. Por um breve momento, havia tentado substituir Taehyung com aquele ômega, jovem e vibrante, na tentativa desesperada de silenciar o desejo crescente e incontrolável que sentia pelo rapaz. Mas não adiantou. Ele não era Taehyung.

Seus dedos deslizaram pelos lençóis antes de se afastar, com um último olhar vazio para o corpo ainda adormecido. Ela se vestiu rapidamente, a calça preta de linho deslizando facilmente por suas pernas longas, a camisa de seda fria contra sua pele quente. Ao olhar-se no espelho, ajustou os cabelos lisos, que caíam perfeitamente emoldurando seu rosto. Uma máscara de perfeição para esconder o caos interno. Mas por quanto tempo mais poderia fingir que tudo estava sob controle?

Ela deixou o quarto sem fazer barulho, fechando a porta suavemente atrás de si. Enquanto caminhava pelos corredores do hotel até o estacionamento, seu corpo parecia pesado, mas sua mente permanecia afiada. O conversível preto brilhava sob a luz suave da manhã, e quando Scarlett entrou no carro, sentiu uma leve sensação de alívio. Era o único lugar onde poderia estar completamente sozinha com seus pensamentos.

O motor ronronou suavemente enquanto ela saía do estacionamento. As ruas de Seul ainda estavam começando a despertar, e Scarlett dirigiu sem rumo por alguns minutos, o ar fresco da manhã açoitava seu rosto enquanto as lembranças de Taehyung voltavam, implacáveis. O modo como ele a olhava, como seus toques sutis inflamavam algo dentro dela que ela preferia ignorar. Ele era o que ela nunca poderia ter - mas, ao mesmo tempo, a única coisa que realmente queria.

Foi quando ela avistou o cemitério. Aquele cemitério.

Um aperto familiar tomou seu peito, uma dor fantasma que nunca desaparecia completamente. Suas mãos instintivamente giraram o volante, e antes que percebesse, ela já estava entrando no caminho de pedras que levava aos túmulos. Parou o carro abruptamente, as mãos trêmulas segurando o volante por um momento, antes de suspirar pesadamente. Ela não vinha aqui há tanto tempo. Não sabia ao certo por que, naquele dia, o impulso havia sido mais forte do que a razão.

Saiu do carro, caminhando lentamente até a floricultura ao lado daquele local tão mórbido. Escolheu algumas rosas brancas, as preferidas da falecida, e seguiu o caminho que já conhecia de cor. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, o ar ficando mais denso conforme se aproximava do túmulo de sua ex-esposa.

Quando chegou, o nome gravado na lápide parecia brilhar sob a luz do sol. Os dedos de Scarlett acariciaram levemente as letras frias, um gesto quase mecânico, antes de depositar as flores no local. Ela ficou ali em silêncio por alguns minutos, sentindo o vento suave agitar os fios do seu cabelo, enquanto pensamentos fragmentados e desconexos tomavam sua mente.

Finalmente, quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas cheia de amargura.

- Se eu nunca tivesse me casado com você... - começou ela, as palavras pesadas saindo como uma confissão que ela nunca fizera antes. - Talvez... eu tivesse tido minha própria família. Talvez eu tivesse tido filhos verdadeiramente meus. Não isso... não um ômega obcecado em se deitar comigo porque eu o criei na infância.

Scarlett respirou fundo, lutando contra a onda de emoções que ameaçava escapar. O peso de suas escolhas, do passado que ela tanto tentava controlar, parecia insuportável naquele momento. Ela se sentia como uma prisioneira das circunstâncias que ela mesma havia criado, amarrada pelos laços invisíveis de um passado que nunca conseguia enterrar completamente.

- Eu não sei se você imaginava que as coisas terminariam assim - continuou, a voz mais suave agora, quase um sussurro. - Eu tentei... tentei seguir em frente, reconstruir. Mas o que aconteceu comigo, com ele... mudou tudo.

Seus pensamentos flutuaram até Taehyung, e a dor no peito aumentou. Como ela poderia explicar? Taehyung não era mais aquele garotinho doce e inocente que ela havia cuidado. Ele era um homem agora - perigoso, sedutor, ciente do poder que tinha sobre ela. Scarlett sabia que ele a queria, mas não da maneira que um filho quer sua mãe. Ele a queria de uma forma que a fazia se sentir exposta, vulnerável. Ele a queria como um alfa deseja seu ômega, e essa realidade estava desestabilizando tudo o que ela achava que sabia sobre si mesma.

- O que eu faço agora?- perguntou ao vento, como se a lápide pudesse de alguma forma lhe dar respostas. - Eu não posso ter filhos agora. Não com a minha idade. Não com ele.

Mas a verdade era que o desejo por Taehyung era avassalador. Ela havia tentado resistir, tentado afastar esses sentimentos como se fossem uma mera distração, mas eles estavam cravados nela, como espinhos impossíveis de arrancar. A cada olhar, a cada toque, algo dentro dela clamava por mais.

Scarlett fechou os olhos, tentando expulsar as imagens de Taehyung que invadiam sua mente. Sua pele suave, seu aroma que a envolvia como um véu invisível. A lembrança da última vez que o viu, da provocação sutil, do controle que ele exercia sobre ela sem sequer tentar.

- Eu não deveria querê-lo... - murmurou, seus punhos cerrando-se ao lado do corpo - Mas eu quero. Mais do que já quis qualquer coisa.

Ela abriu os olhos novamente, fixando o olhar na lápide à sua frente, como se esperasse uma absolvição para os seus pecados. Mas o silêncio era sua única resposta.

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