Prólogo

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A chuva caía incessante naquela noite, os pingos batendo contra as janelas do grande apartamento como se tentassem invadir o silêncio que reinava dentro dela. Kim Taehyung, então com apenas oito anos, estava sentado no chão da sala de estar, abraçado ao seu ursinho de pelúcia. O escuro da noite fazia com que o apartamento parecesse ainda maior, mais vazia, e a ausência da mãe criava um buraco em seu pequeno coração.

Ela havia saído às pressas, dizendo que precisava resolver algo importante, deixando-o sozinho em casa. Não era a primeira vez, e provavelmente não seria a última. O menino já estava acostumado a esses momentos de solidão, mas aquela noite era diferente. O trovão ressoava alto lá fora, e ele não conseguia afastar o medo que crescia em seu peito.

Foi então que a porta da frente se abriu, e Scarlett entrou. Seus cabelos negros estavam encharcados, assim como o casaco de couro pesado que ela costumava usar. Ela parecia exausta, os olhos pesados de quem havia passado o dia inteiro entre estudos e trabalho. Scarlett era jovem possuía apenas vinte e oito anos, era formada em ciências econômicas e agora defendia uma tese de mestrado na universidade nacional.

Scarlett era brilhante, e provavelmente se tornaria uma grande economista, pelo menos era aquilo que as pessoas que apostavam em si, costumavam dizer.

Mas inteligência não colocava comida na mesa, então a alfa trabalhava em um escritório de economia pela manhã e a tarde prestava serviços de tutora particular, e a noite estudava integralmente para terminar rapidamente seus estudos, para dar uma boa vida a ômega de quarenta e dois anos com quem havia se casado a quatro anos por obrigação, quando a mulher engravidou acidentalmente depois de uma noite que alfa nem se lembrava de ter acontecido.

Um filho que nunca nasceu.

Mas ela tinha a alegria de ter Taehyung ao seu lado, um filhote ômega de sorriso gentil que lhe dava forças para continuar todos os dias.

Ele era o único motivo para ela continuar naquele casamento sem amor, baseado apenas em interreses.

Taehyung era a única pessoa que a amava.

A amava como um filho, ou era assim que ela costumava pensar.

Mas ao ver Taehyung ali, encolhido no chão, seu semblante mudou para uma expressão enfurecida.

Não para o pequeno filhote, mas sim pela ômega que provavelmente havia corrido para algum de seus amantes deixando o pequeno em casa sem se importar. Quantas horas Taehyung estaria sozinho?

— Taehyung? — A voz dela era suave, mas carregada de preocupação. Ela largou a bolsa no chão e se aproximou, ajoelhando-se ao lado do menino, não se importando se molharia o tapete sobre o chão — O que você está fazendo aqui sozinho?

Ele levantou os olhos para ela, as lágrimas se acumulando, mas sem cair. Tentou ser forte, mas a presença dela, a única pessoa que lhe trazia conforto, fez com que o nó em sua garganta apertasse ainda mais.

— A mamãe saiu… — murmurou ele, quase como um sussurro.

Scarlett franziu o cenho, mas rapidamente o pegou no colo, sentando-se com ele no sofá. Mesmo exausta, ela era uma figura de calma e segurança para Taehyung. Ele se agarrou a ela, sentindo seu cheiro familiar e reconfortante.

— Ela não deveria ter te deixado sozinho assim — disse ela, acariciando os cabelos do menino. — Mas eu estou aqui agora, e não vou te deixar.

Taehyung se aninhou mais perto, sentindo o calor do corpo de Scarlett. Ela começou a balançá-lo suavemente, cantando uma melodia baixa e calma, algo que ele mal reconhecia, mas que sempre o fazia sentir-se protegido.

— Quando eu crescer… e for grande como você e a mamãe — Ele começou, a voz um pouco trêmula, como se estivesse fazendo uma promessa para si mesmo — Você pode se casar comigo, eu vou fazer você muito feliz, muito mais que a mamãe.

Ela sorriu, um sorriso que Taehyung não pôde ver, mas que aqueceu seu coração.

— Ah, meu querido, você já me faz feliz. — Ela inclinou a cabeça, beijando suavemente a testa dele. — Quem sabe, um dia, quando você for grande, nós dois poderemos cuidar um do outro.

Scarlett prometeu inocentemente, quando Taehyung crescesse, ela já estaria velha e provavelmente muito longe da família Kim, talvez ela nem o visse crescer.

Taehyung, meio adormecido, agarrou-se àquela promessa com todas as suas forças. E mesmo quando Scarlett o colocou na cama mais tarde, ajeitando os cobertores ao seu redor, ele se manteve firme naquelas palavras.

Ele seria o ômega dela, aquele era o seu maior desejo.

Scarlett não lembraria daquelas palavras, mas Taehyung? Ele jamais as esqueceria.

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