Capítulo 30

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Vegas estava parado no convés do Della Ray, encarando Pattaya. O lugar para onde seguiam naquele momento. Ele não via nada da água infinita à sua frente. Não via os homens puxando linhas e consertando iscas ao seu redor, o baixo ressoante do Black Sabbath reverberando pelos alto-falantes do passadiço. Ele estivera preso num estado de entorpecimento desde a manhã de sábado, quando saíram do porto.

Ele não apareceu.

Tinha dado tempo paro Pete pensar, e ele concluiu que estar com ele requeria muito sacrifício e tomara sua decisão. Ele sabia que era bom demais para ser verdade. Ele desistir de tudo, de sua vida inteira, só por ele. Sua jugular doía com o peso de seu coração. Era nisso que ele pensava a cada minuto do dia. Ter Pete em sua vida tinha bom além do imaginável. Tão melhor do que ele achava que poderia ser a vida.

Só não tinha sido assim para os dois lados.

Mais de uma década como pescador e ele nunca tinha enjoado no mar, porém seu estômago se remexia de forma ameaçadora naquele momento. Vegas tinha conseguido se distrair do golpe devastador, da lembrança do cais vazio, durante os últimos dois dias, pressionando demais os homens e a si mesmo, concentrando-se em mapas digitais e até trabalhando na sala de motores enquanto Kinn ocupava o passadiço. Mas, se ele parasse de se mover ou pensar, lá estava ele, e, caramba, ele a tinha perdido.

Não. Ele nunca o conquistara, para começo de conversa. Esse era o problema.

Era tarde de segunda-feira. Dia do Trabalho. Pete estaria se arrumando para abrir o bar. Ele ainda o esperava lá? Ou presumira que ele ficaria afastado, já que ele tinha decidido seguir em frente? Utilizar o novo bar como uma viagem de volta para a casa. Se ele aparecesse no Cross e Filhos, poderia ficar no caminho dele.

Pete poderia não o querer lá. Vegas enfiou os nós dos dedos nos olhos, as imagens de Pete o matando por dentro. O Pete desgrenhado e ranzinzo de todas as manhãs. Pete confuso no mercado. Pete segurando uma frigideira em chamas, chorando em cima dele no hospital, gemendo em seu travesseiro. Cada uma das versões dele era como uma facada no seu peito, até que ele jurou que pular e submergir até o fundo congelante do oceano era melhor do que viver com as lembranças... e não ter o homem de verdade.

Mas ele tinha feito a coisa certa para si. Não tinha? Ele tinha que respeitar isso? Respeitar que o homem que queria como esposo iria embora? Meu Deus. Talvez nunca mais o abraçasse.

Um chuvisco se iniciou, mas ele não se mexeu para entrar e pegar uma capa de chuva. Encharcar-se e morrer de pneumonia parecia um bom plano no momento. Porém, um instante depois, Sanders passou e entregou o casaco impermeável para Vegas. Apenas para fazer algo com as mãos, ele o vestiu e deslizou as mãos nos bolsos.

Algo molhado tocou seus dedos.

O capitão puxou o que quer que fosse, e lá estava Pete sorrindo para ele.

Uma foto deles. Uma que ele não tinha visto ele tirar.

Pete havia tirado uma foto escondido enquanto ele o segurava na estação de recarga. Seus olhos estavam cheios de luxúria e extasiados. Felizes. Apaixonados. Com um machado dividindo sua jugular ao meio, Vegas virou a foto e viu que ele havia escrito uma mensagem.

Para seu beliche, Capitão. Volte para mim em segurança. Te amo muito,

Pete.

Ele ficou sem ar.

Uma onda balançou o barco, e Vegas mal conseguiu equilibrar as pernas. Toda a energia funcional tinha deixado seus membros, pois seu coração precisava de tudo para bater de forma tão violenta. Ele fechou olhos e apertou a foto no peito, sua mente vasculhando milhões de lembranças de Pete para achar aquele dele parada em sua porta. A última vez que o vira.

NAQUELE VERÃO - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora