Capítulo 2

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A cadeia era um lugar frio e escuro.

Pete estava em pé no meio da cela, tremendo e abraçando os cotovelos para não encostar, sem querer, em nada que a fizesse precisar tomar uma vacina antitetânica. Até então, a palavra "tortura" era somente uma descrição vaga de algo que ele nunca iria compreender. Mas, após quase seis drinques, tentar não fazer xixi em um vaso sanitário todo mofado era um tormento pelo qual nenhum homem como ele deveria passar. A situação do banheiro do Coachella no fim da noite não chegava nem perto daquele vaso sanitário imundo zombando de Pete de um canto da cela.

— Com licença? — pediu Pete, cambaleando no salto alto até as barras. Não havia nenhum guarda à vista, mas ele estava escutando barulhinhos que só podiam ser do Candy Crush vindos de perto dali. — Oi, sou eu, o Pete. Tem outro banheiro que eu possa usar?

— Não, príncipe — respondeu uma mulher, com um tom bastante entediado. — Não tem, não.

Ele se balançou de um lado para o outro; a bexiga reclamava para ser esvaziada.

— Qual é o banheiro que você usa? - Um som de escárnio.

— O das pessoas que não cometeram crimes.

Pete choramingou, embora a guarda tivesse passado um pouquinho dos limites ao dar uma resposta tão agressiva, sem hesitar.

— Mas eu não cometi nenhum crime — insistiu Pete. — Isso aqui é um grande mal-entendido.

Gargalhadas estridentes ecoaram por aquele corredor monótono. Quantas vezes ele já tinha passado em frente à delegacia na Wilcox Norte? E agora era uma das detentas.

Mas, sério, foi uma festa e tanto.

A guarda caminhou devagar até a cela de Pete, com os dedos enfiados na cintura da calça do uniforme bege. Bege. Quem quer que fosse o responsável pelo estilo dos agentes da lei deveria ser condenado por impor essa punição cruel e peculiar.

— Então, para você, duzentas pessoas invadindo a piscina de um hotel de madrugada é um mal-entendido?

Pete cruzou as pernas e respirou fundo. Se por acaso ele se mijasse todo em um Valentino, faria questão de permanecer na cadeia.

— Acredita que o cartaz com os horários da piscina estava meio escondido?

— Essa é a defesa do advogado que vai te cobrar uma nota? — Dava para ver que a guarda estava achando graça.

— Alguém teve que quebrar a porta de vidro para ter acesso e deixar os outros riquinhos entrarem. Quem foi que fez isso? O Homem Invisível?

— Eu não sei, mas vou descobrir — prometeu Pete, solenemente.

A guarda abriu um sorriso.

— Tarde demais pra isso, meu bem. Sua amiga do cabelo roxo nas pontas já disse que você foi a líder do grupo.

Tay.

Só podia ser ela.

Na festa, era a única com as pontas do cabelo pintadas de roxo. Pelo que Pete lembrava. Em algum momento, entre brincar de briga de galo na piscina e soltar fogos de artifício ilegais, ele perdeu a noção do número de convidados que estavam chegando. Mas deveria saber muito bem que não dá para confiar em Tay. Pete era amiga dela, mas não tão próxima a ponto de Tay mentir para a polícia para protegê-lo. A relação das dois se baseava em comentários em posts nas redes sociais e no incentivo para fazer compras absurdas, como uma bolsa de 4 mil dólares em formato de batom. Na maioria das vezes, esse tipo de amizade superficial era valioso, mas não naquele noite.

NAQUELE VERÃO - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora