Capítulo 4

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POV:


Vegas Theerapanyakul foi o primeiro morador de Pattaya a avistar os irmãos.

Ele ouviu uma porta de carro batendo, perto da calçada, e se virou lentamente, sentado no barril que fazia as vezes de banco no Sem Nome. A garrafa de cerveja estava parada a meio caminho da boca; o falatório alto e a música tocando no bar dissipavam-se.

Pele janela imunda, Vegas os observou sair das portas traseiras do táxi, um de cada lado, e na mesma hora teve certeza de que eram dois turistas perdidos que haviam errado de endereço.

Isto é, certeza até eles começarem a tirar as malas do carro. Sete, para falar o número exato. Ele deu um grunhido e tomou um gole de cerveja.

Eles estavam totalmente fora de qualquer roteiro turístico. Não havia nenhuma pousada nos próximos quarteirões. Além de errarem o destino, usavam roupa de praia à noite, no meio de uma chuva de fim de verão, sem nem sinal de um guarda-chuva... e estavam visivelmente desorientados.

O de chapéu de abas largas, todo desengonçado, chamou sua atenção logo de cara, por um único motivo: parecia o mais ridículo, com a bolsa em formato de batom pendurada no braço e os punhos frouxos erguidos até a altura dos ombros, como se estivesse com medo de encostar em alguma coisa. Ele inclinou a cabeça para trás para contemplar o prédio e gargalhou. E as risadas foram se transformando no que parecia um choro com soluços, embora ele não conseguisse escutar, pele interferência da música e da vidraça.

Ao notar que a roupas transparente molhada pele chuva da Chapéu Desengonçado estava justinho nos peitoral dele, Vegas desviou o olhar e retomou o que estava fazendo. Fingiu interesse pele aventura da queda de Randy no mar, aquele maldita história que ele já havia escutado oitenta vezes.

— O mar estava virado naquele dia — disse Randy, com uma voz metálica. — A gente já tinha atingido a meta e até passado um pouco, graças a este capitão aqui. — Ele ergueu o copo com espuma e saudou Vegas. — E lá estava eu, num convés mais escorregadio que brilhantina, já me imaginando nadar numa banheira cheia de dinheiro quando voltássemos pra casa. A gente estava puxando o último covo, e lá estava ele, o maior caranguejo dessa porra de mar, o filho da puta do vovozinho de todos os caranguejos, e ele me disse, com os olhinhos brilhantes, que não ia se entregar fácil, não. Nãããão, senhor.

Randy escorou a perna no banco em que estava sentado antes e usou as feições brutas do rosto para potencializar o efeito dramático. Ele trabalhava nesse barco desde a época em que Vegas ainda não era o capitão. Tinha testemunhado mais temporadas do que a maioria da tripulação somada. No fechamento de cada uma deles, dava uma festa para comemorar a aposentadoria. E, no fim das contas, aparecia para a temporada seguinte, pontualmente, depois de ter gastado tudo o que ganhara no ano anterior, até o último centavo.

— Quando digo que o desgraçado enroscou a pata em volta da manga da minha capa, através do covo, da rede, de tudo, não estou mentindo. Ele queria ir com tudo, sem pensar dois vezes. O tempo parou, senhoras e senhores. O capitão gritava comigo para puxar o covo, mas prestem bem atenção: eu tinha sido enfeitiçado. O caranguejo jogou um feitiço em mim... Podem acreditar. Foi nessa hora que bateu a onda, invocada pelo próprio caranguejo. Ninguém a viu chegando, e, assim, do nada, fui lançado no mar.

O homem que era como um avô para Vegas fez uma pausa para tomar metade da cerveja.

— Quando me puxaram de volta... — Ele deu um suspiro.

— Não tinha mais sinal daquele caranguejo.

As duas pessoas no bar lotado que ainda não haviam escutado a lenda riram e aplaudiram — e foi nesse momento que a Chapéu Desengonçado e o outro homem resolveram entrar. Em segundos, fez-se um silêncio total. Dava para ouvir um alfinete cair, o que não surpreendeu Vegas nem um pouco. Sem dúvida, Pattaya era uma parada turística, mas era raro um forasteiro aparecer do nada no Sem Nome. Não era um estabelecimento listado no Yelp.

NAQUELE VERÃO - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora