Mais tarde, naquele noite, Pete encarou a bandeja de carne moída e tentou reunir coragem para tocá-la com as próprias mãos.
— Não acredito que carne crua parece cérebro. Todo mundo sabe disso?
Porsche se aproximou por trás do irmão e apoiou o queixo no ombro de Pete.
— Não precisa fazer isso, sabe.
Ele pensou na cara de convencido de Vegas.
— Ah, preciso, sim. — Deu um suspiro e cutucou a maçaroca vermelha com o dedo indicador. — Ainda que a gente conseguisse fazer caber no orçamento pedir comida toda noite, você precisa de refeições caseiras. — Balançando de um lado para o outro, ele sacudiu as mãos e respirou fundo. — Eu sou o irmão mais velho e vou garantir que você se alimente bem. Além disso, você limpou sozinho esse banheiro dos infernos. Na minha opinião, merece ganhar um jantar e ser canonizado.
Ele sentiu o irmão se arrepiar.
— Isso eu não vou contestar. Tinha mancha que estava ali há um século.
Depois da reunião virtual de trabalho, Porsche deu uma passada no armazém para comprar produtos de limpeza. Eles haviam encontrado vassoura, pá e uns panos em um armário no andar debaixo, no bar, mas só isso. Assim, foram obrigados a gastar uma parte do dinheiro comprando um esfregão, um balde, alvejante, papel-toalha, esponjas, produtos de limpeza e, ainda, esponja de aço para bloquear os oito buracos usados pelos ratos. Quando arrastaram o beliche para longe da parede, viram que as tábuas sob a cama pareciam um queijo suíço.
Eles começaram a fazer a faxina no meio da tarde. Embora não houvesse solução para parte daquele sujeira toda, a quitinete estava com uma aparência bem melhor. E Pete admitia sentir até certa satisfação depois de ter dado esse passo para a frente. Por fazer parte de um antes e depois que não tinha nada a ver com maquiagem ou com exercícios físicos orientados pelo personal trainer.
Não que ele quisesse se acostumar a fazer faxina. Mas mesmo assim...
Agora o ambiente tinha aroma de limão, não de lixo apodrecendo, e o mérito era dos irmãos Saengtham, de Bangkok. Em casa, ninguém iria acreditar. Sem falar que a manicure de Pete teria um faniquito se visse o esmalte descascado nas suas unhas. Assim que eles se ajeitassem, encontrar um salão com serviços de cabeleireiro, manicure e depilação a cera seria a prioridade número um.
Mas, primeiro, o molho à bolonhesa.
Ver os ingredientes enfileirados fez Pete se lembrar da sessão de compras surpresa no mercado ao lado de Vegas, naquele manhã. Nossa, ele foi arrogante. Até a hora em que ele mencionou a falecida esposa dele. Depois disso, ele mudou. Ficou mais para incomodado. A mulher havia falecido há quanto tempo?
Como Vegas ainda usava a aliança, a morte devia ser recente. Nesse caso, ele teve aquele comportamento pavoroso por um bom motivo.
Apesar da sua antipatia pelo pescador corpulento, ele não conseguiu evitar a onda de compaixão que sentiu por ele. Quem sabe eles conseguiriam aprender a se cumprimentar e sorrir um para o outro na rua pelos próximos três meses. Se ele tinha aprendido alguma coisa por ter crescido em Bangkok, foi a fazer "amigos". Na próxima vez que eles se esbarrassem, não teria problema nenhum em lhe contar que já estava craque no molho à bolonhesa e que havia passado para os suflês e o coq au vin.
Vai saber? Talvez ele descobriria que cozinhar era sua vocação.
Pete acendeu a boca do fogão e segurou a respiração, conforme ele dava uns estalidos. E mais outros. As chamas dispararam do metal preto, e ele deu um gritinho e esbarrou de costas no irmão, que, por sorte, a amparou.
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NAQUELE VERÃO - VEGASPETE
FanfictionPete Saengtham, um dos boys mais influentes de Bangkok, vive chamando atenção nos eventos e nas redes sociais. Depois de levar um fora do namorado, ele invade a cobertura de um hotel e faz uma festa que acaba saindo do controle, seu padrasto decide...