Vegas trancou a porta da casa e verificou o relógio mais uma vez. Oito e quinze, em ponto. Parou um momento para analisar o céu, a temperatura e a densidade do tempo, um hábito adquirido na vida de capitão. Pelo jeito, o sol dissiparia a névoa lá peles dez, então estaria bem fresco para uma manhã de agosto enquanto estivesse resolvendo o que precisava na rua. Ele colocou o gorro e virou à esquerda, caminhando em direção à avenida West Ocean, pelo mesmo caminho de sempre. Pontualidade fazia toda a diferença para um pescador, e ele gostava de estar afiado quanto a isso, mesmo nos dias de folga.
As lojas abriam as portas, os guinchos das gaivotas famintas se misturavam ao tilintar dos sinos, que tocavam conforme os funcionários entravam. Cavaletes com quadros rangiam ao serem arrastados para a calçada, de onde anunciariam os peixes e frutos do mar frescos, parte deles capturados pele própria tripulação de Vegas na última ida ao mar. Os comerciantes se cumprimentavam com um bom-dia sonolento. Dois jovens acendiam o cigarro em um grupinho em frente à cervejaria, já prontos para ir à praia.
Como a alta temporada estava acabando, vários estabelecimentos divulgavam descontos para chapéus de pescador, cartões-postais e o prato do dia. Ele apreciava o ciclo das coisas. A tradição. A previsibilidade do clima e o fato de a troca de estações fazer as pessoas terem uma rotina. A questão era a harmonia daquele lugar. Duradoura, assim como o oceano que ele amava. Nascido em Pattaya, ele jamais havia cogitado sair de lá.
Sentiu ondas de irritação ao se lembrar da noite anterior. A pedra arremessada contra as águas tranquilas de como as coisas eram feitas. Forasteiros não chegam do nada e reivindicam a posse de algo por ali. Em Pattaya, os moradores trabalhavam para conquistar tudo o que tinham. Não se conseguia nada de graça, sem sangue, suor e lágrimas.
Para ele, aqueles dois garotos não pareciam o tipo de pessoa que valoriza a comunidade e o passado sobre o qual ele foi construído. O trabalho árduo necessário para tirar o sustento do mar, permeado por seus caprichos e imprevisibilidades — e executar esta tarefa com excelência.
O bom era que eles não iam ficar muito tempo na cidade. Ele se surpreenderia se Pete aguentasse passar a noite ali sem sair correndo para o hotel cinco estrelas mais próximo.
Posso estar numa sala cheia de gente que conheço e ainda assim não me sentir parte do lugar.
Por que não conseguia tirar isso da cabeça? Ele havia passado tempo demais remoendo aquilo durante a noite, e de manhã também. É que não fazia sentido, e ele não gostava quando isso acontecia. Um garoto bonito — com um humor afiado, é verdade — como Pete poderia fazer parte de qualquer círculo social que escolhesse, não poderia?
Menos ali.
Vegas aguardou o sinal fechar e cruzou a Montesano. Passou rápido pele porta automática do mercado, e a expressão irritada se suavizou ao ver que estava tudo em ordem ali. Acenou para Carol, a funcionária que costumava ficar no caixa. As gaivotas de papel penduradas no teto balançaram com a corrente de ar que entrou junto com ele. Ainda não havia muitas pessoas no mercado, e era por isso mesmo que ele gostava de chegar cedo. Nada de conversas ou perguntas sobre a próxima temporada do caranguejo. Se ele esperava pescar uma boa quantidade, se já sabia qual seria a rota. Se a tripulação do Della Ray iria ganhar dos russos. Mas falar dos seus planos só traria má sorte.
Como marujo, Vegas dava muita importância a esse tipo de coisa. Ele sabia que não era possível controlar tudo. Podia montar um cronograma completo, escolher a direção do barco, mas cabia às águas decidirem como e quando eles entregariam seus tesouros. Como a temporada do caranguejo estava bem próxima, só lhe restava torcer para a sorte estar ao lado deles mais uma vez, como acontecia desde que tinha substituído o sogro no posto de capitão, oito anos atrás.
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NAQUELE VERÃO - VEGASPETE
FanficPete Saengtham, um dos boys mais influentes de Bangkok, vive chamando atenção nos eventos e nas redes sociais. Depois de levar um fora do namorado, ele invade a cobertura de um hotel e faz uma festa que acaba saindo do controle, seu padrasto decide...