Capítulo 10

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Pete estava preso em um pesadelo no qual ratos gigantes com narizinhos inquietos a perseguiam por um labirinto enquanto ele empunhava uma frigideira em chamas. Então, quando escutou a batida na porta na manhã seguinte, seu pensamento ao despertar foi: "O rei rato veio me buscar." Ele se sentou rapidamente e bateu com a cabeça na cama de cima do beliche com tanta força que fez barulho.

— Ai — reclamou, levantando a máscara dos olhos até a testa e sentindo com o dedo o lugar onde havia batido. Já estava inchado.

Um bocejo veio de cima.

— Bateu a cabeça de novo?

— Bati — murmurou Pete, tentando se lembrar do motivo para ter acordado. Não era como se muita luz solar conseguisse passar peles janeles ou pelo prédio ao lado. Não quando mal um centímetro a separava da parede do vizinho. O apartamento estava todo escuro. O sol nem devia ter nascido ainda.

Bateram dois vezes na porta, e Pete gritou, a mão voando para o peito.

— Rei rato — ofegou. Porsche riu.

— O quê?

— Nada. - Pete se concentrou e encarou a porta, cautelosa.

— Quem é?

— É o Vegas.

— Ah.

Ele olhou para cima e soube que Porsche também estava franzindo o cenho, como ele, mesmo que não conseguissem se ver. Do que o capitão razinza precisava que não podia esperar até um horário de gente normal? Toda vez que Pete pensava que eles tinham se visto pele última vez, ele voltava a aparecer, impossível de ignorar. Confundindo-o.

Pete não havia mentido sobre não saber como agir na presença dele. De modo geral, era fácil seduzir, flertar, elogiar e colocar os homens na palma da sua mão. Até eles se entediarem e seguirem em frente, o que pareciam fazer cada vez mais rápido. Mas essa não era a questão. Vegas havia roubado essa sua cartada de sedutor, e agora não dava mais para usá-la.

Ele já tinha visto demais. Na primeira vez que se encontraram, Pete estava num estado lamentável, toda molhado e ofendeu sua querida Pattaya. No segundo encontro, ele ofendeu sua falecida esposa. Da terceira vez, ele quase queimou aquele relíquia de prédio.

Apesar de que comer com ele tinha sido... legal. Talvez essa não fosse a palavra correta.

Diferente. Com certeza tinha sido diferente. Ele tinha conversado com um homem sem tentar exibir seu melhor ângulo e rir do modo certo o tempo todo. Ele pareceu interessado no que ele tinha a dizer. Será que estava mesmo?

Claro, Vegas não se encantara de imediato com sua aparência. Os olhares sedutores ensaiados por Pete só o tinham deixado mais rabugento. Quem sabe ele quisesse que fossem amigos! Tipo, com base no caráter dele. Não seria legal?

— Hum — murmurou Pete, em meio a um bocejo. — Amigos.

Balançando as pernas na beira da cama, ele enfiou os pés na sandália preta de veludo Dolce & Gabbana e andou até a porta. Antes de abri-la, cedeu à vaidade e limpou as remeles no canto dos olhos. Abriu a porta e esticou o pescoço para olhar para o rosto do capitão carrancudo.

Pete começou a dizer bom-dia, mas Vegas pigarreou alto e se virou, encarando o batente da porta.

— Vou esperar até você se vestir.

— O quê...? — Com o nariz franzido, ele olhou para a blusa regata e calcinha que vestia. — Ah.

— Aqui — chamou Porsche, sonolento, jogando um travesseiro para Pete.

NAQUELE VERÃO - VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora