Capítulo 25: Me surpreenda.

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Não precisei voltar para os meus aposentos sozinha, porque Oren apareceu um segundo depois, como se soubesse que eu havia sido liberada. Ele sorriu pra mim e me levou de volta para meus aposentos, onde encontrei uma mesa cheia de comida pra mim. Ainda iria perguntar pra ele quem as fazia, mas por enquanto eu só precisava ficar sozinha por um tempo. Tinha passado tempo demais com Morgana.

Ela não me convocou aquele dia novamente, e nem pelos dias seguinte. Os dias foram se passando como um borrão ao meu redor, até eu perder as contas de quanto tempo eu estava lá. Não lembrava se fazia uma semana, duas, ou apenas um punhado de dias aleatório. O tempo parecia passar diferente ali. As horas eram o badalar de um relógio, enquanto eu esperava alguma coisa acontecer.

—Você não está costurando. —Oren afirmou, caminhando pela sala até o amontoado de tecidos esquecidos em uma das mesas. —Algum problema, Avery?

Ele havia preparado uma sala só pra colocar tudo que eu poderia precisar quando estivesse costurando. E havia tantos tecidos diferentes, linhas, agulhas e lantejoulas. A sala ficava perto dos meus aposentos e aquele tinha sido meu caminho até então, do quarto até ali e depois de volta para o quarto.

—Só estou entediada. —Falei, dando de ombros, porque minhas mãos também estavam um pouco doloridas de costurar sem parar. Estava mesmo entediada, porque tinha feito aquilo sem parar desde que Oren arrumou o que eu pedi. Estava com saudades de Elowen. De Lucian. Estava com saudades até na neve infinita.

—Fiz mais alguns desenhos pra você. —Oren veio se sentar ao meu lado no sofá. Eu estava encolhida aí, encarando as portas abertas da varanda e a visão que ela me trazia do mar. Olhei pra ele quando ele estendeu os papéis, abrindo um sorriso ao ver os vestidos magníficos que ele desenhava, cheio de cores e camadas.

—Você desenha muito bem. —Peguei os desenhos das mãos dele, olhando cada um deles com atenção. —É o seu hobby como vampiro?

—Temos que ter algum, ou a eternidade se torna entediante. —Oren afirmou, me fazendo soltar uma risada, porque humanos não precisavam se preocupar com a eternidade se tornando chata. Normalmente nos preocupávamos em viver um dia de cada vez, antes que s morte chegasse. —Mas não costumo desenhar vestidos. Estou fazendo isso por você. Normalmente eu desenho animais. Gosto de estuda-lós. Tenho uma coleção de espécimes de borboletas.

—Jura? —O olhei com pura surpresa, porque não estava esperando ouvir aquilo. —Vivas?

—Vivas e mortas. —Ele balançou a cabeça, parecendo se divertir com o meu espanto. Mas não esperava que vampiros pudessem ter desejos e um hobby como esse. Parecia algo delicado perto da tensão que eles emanavam. —Morgana gosta de dançar. Ela é uma das dançarinas mais belas que já vi. Parece estar flutuando quando se junta a melodia.

—E Valerian? —Questionei, vendo-o abrir um sorriso doce com a menção do parceiro, enquanto seus olhos chegavam quase a brilhar de emoção.

—Música e livros. Ele gosta de qualquer coisa que remeta a guerras e inteligência. Ele costuma dizer que precisa ser inteligente para saber tocar e mais inteligente ainda para se vencer uma batalha. —Afirmou, e eu me perguntei como seria ver eles nesses momentos, fazendo coisas completamente humanas. —Kaden gosta de silêncio. Ele sempre foi o mais afastado dos irmãos. Gosta de ter o próprio espaço e apreciar a quietude.

—Acho que posso imaginar isso, desde o dia que eu cheguei eu não o vi mais. Tenho a sensação de que ele está por perto, mas nunca o vejo. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, enquanto tentava não me sentir incomodada com aquilo. Mas eu tinha a sensação que ele fazia de propósito. —As vezes, quando eu estou sozinha, tenho a sensação de que ele está me algum lugar me observando, mas nunca o encontro e ele nunca aparece.

Oren absorveu o que eu disse com uma expressão curiosa e distante, como se estivesse pensando em algo que não gostaria de dividir comigo. Mordi o lábio, me arrependendo de ter contando aquilo a ele. As coisas com Kaden pareciam bem diferentes do que com ele ou Morgana. Havia uma tensão esquisita sempre que ele estava por perto. Uma faísca que podia iniciar um incêndio. Além da promessa de descobrir todos os meus segredos.

—Por que Morgana não me chamou mais? Achei que ela queria saber tudo sobre o castelo. —Troquei de assunto, achando que era bem melhor assim. Oren pareceu despertar dos seus pensamentos, apertando um pouco os lábios.

—Ela está ocupada. A guerra com os lobos está longe do fim. Tivemos um embate a poucos dias. Perdemos alguns dos nossos e conseguíssemos capturar dois deles. —Oren me olhou com cautela, como se estivesse tomando cuidado com as palavras que iria usar. —Morgana está no calabouço com Kaden, interrogando os prisioneiros. Esse deve ser um dos motivos pelos quais você também não o viu mais.

Senti um arrepio atravessar meu corpo inteiro, porque podia imaginar que tipo de interrogatórios eles estavam fazendo, se Kaden era aquele que sujava as mãos. Oren se levantou ao meu lado, e eu deixei os vestidos na mesinha ao lado do sofá, apertando minhas mãos com força sobre o colo.

—Preciso ir. Tente costurar mais um pouco. Você também cria vestidos muito bonitos. —Oren afirmou, e eu abri um sorriso pequeno em agradecimento, ainda abalada com o que tinha ouvido. Antes que ele pudesse ir embora, tomei coragem para pedir algo.

—Depois, quando você puder, pode me mostrar sua coleção de borboletas e os outros desenhos que faz? —Questionei, vendo-o que o peguei de surpresa com aquele pedido, mas ele não parecia incomodado.

—É claro. —Oren abriu um sorriso contido e caminhou até a porta, antes de parar e olhar pra mim mais uma vez. —Você precisa de mais alguma coisa, Avery?

—Não, eu... —Parei, olhando para todos os desenhos que ele tinha feito pra mim e deixado ali. Os vestidos eram muito mais bonitos do que aqueles que a realeza usava no reino humano. Eram elegantes de uma beleza única por conta da qualidade dos tecidos. Selene ficaria apaixonada se os visse. Mas havia mais alguém que merecia algo como aquilo. —Pode fazer o desenho de um vestido de noiva?

—Um vestido de noiva? —Oren repetiu, confuso, e eu balancei a cabeça positivamente. Sabia que não havia casamentos para os vampiros. Não como acontecia com os humanos. Era um pedido incomum para o lugar onde eu estava. —Tem alguma ideia inicial que gostaria de compartilhar comigo?

—Me surpreenda. —Soltei, vendo o sorriso dele ficar maior antes de se retirar da sala. Minhas bochechas doeram quando pensei em Elowen e sorri, antes de sentir um aperto no peito, esperando que ela estivesse bem.

Mordi a ponta do dedo de leve, pensando no que Oren tinha acabado de me contar. Kaden não estava desse lado do castelo, assim como Morgana estava muito ocupada no momento. Me levantei do sofá até a mesa cheia de desenhos, procurando pelo mapa que Oren tinha gentilmente me dado, para que eu não me perdesse na torre sul.

Quando o encontrei, observei todos os pontos marcados onde eu poderia ir se quisesse, além de um específico marcado em vermelho. Ele não havia me dito o que era, mas eu já podia imaginar. Caminhei até a parede e peguei uma das tochas, antes de sair da sala em direção aos aposentos de Kaden. Se ele queria descobrir meus segredos, então eu iria atrás dos dele.


Continua...

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