Acordo de Sangue Cruel

Capítulo 20: Que tipo de ajuda?

Fiquei quase sem folego ao ver os três juntos. Não precisava saber que eram irmãos para ver a semelhança entre eles. Os três sentados lado a lado, em três tronos iguais posicionados sobre alguns degraus de pedra. Kaden estava na ponta esquerda, sentado em um dos braços do trono, enquanto seus pés estavam no estofado vinho onde ele realmente deveria se sentar. Mas ele não parecia se importar muito em parecer um líder.

Sua irmã estava sentada no trono do meio, com as pernas cruzadas e um vestido elegante de tom prata. Os cabelos eram do mesmo tom negro que os de Kaden, mas lisos em uma altura abaixo dos ombros. Ela parecia quase uma pintura de tão imóvel que estava, como se nem mesmo precisasse respirar. E os olhos, aquele mesmo tom de vermelho profundo que me deixava curiosa.

Valerian estava no trono direito, sentado confortavelmente com a cabeça escorada no punho fechado. Ele me observava com a mesma curiosidade que a irmã, mas havia alguma coisa mais suave nas feições dele. Era tão parecido com Kaden que chegava a doer olhar pra ele. Mas seus cabelos eram mais curtos e mais arrumados, mesmo que houvesse um tom rebelde na forma que se portava.

—Obrigada por traze-la para nós, Oren. —Morgana murmurou, e Oren abriu um sorrisinho, passando por mim e subindo os degraus até onde eles estavam. Umedeci os lábios com a língua enquanto o via parar ao lado do trono de Valerian, antes dos dois trocarem um olhar carregado que me lembrava muito aqueles que Elowen e Lucian trocavam.

—Parece que você gosta de bisbilhotar. —Kaden sibilou na minha direção, enquanto meu rosto queimava. Fiquei feliz por eles não conseguirem notar meu constrangimento, porque eu estava mais dura que uma árvore. Preferi ignorar ele, assim como ele tinha feito nas horas que passei naqueles aposentos desde que cheguei.

—Eu não sou a princesa. Já tinha dito isso a ele. —Afirmei, olhando para Morgana, porque ela era a única que parecia incomodada com a minha presença ali. —Foi tudo um mal entendido que depois se tornou uma mentira porque o rei desejou que fosse assim. Mas eu jamais quis entrar nisso e me envolver com vocês.

—Você fala "vocês" como se fossemos uma praga. —Valerian retrucou, em meio a uma risada divertida, como se isso o agradasse.

—E vocês são, assim como nós humanos somos uma praga comestível pra vocês. —Dei de ombros, vendo Morgana torcer o lábio como se quisesse conter alguma coisa, enquanto a risada de Valerian se tornava maior. Oren olhou pra ele, com um sorriso dançando nos lábios e uma expressão de pura adoração.

—Pelo menos ela é corajosa. —Morgana falou, como se estivesse feliz por eu não ser covarde e muito menos chorona. Eu era essas duas coisas, mas quando estava nervosa tinha as péssimas decisões de ser imprudente.

—E sempre tem muito a dizer. —Kaden retrucou, adicionando mais um detalhe em mim. Lancei a ele um olhar atravessado, me perguntando o que diabos ele queria dizer com aquilo.

—Nosso irmão nos disse que você se encontrou com Varek em nome do seu rei. —Morgana passou a mão pelo vestido, parecendo procurar pelas palavras certas. —Você tem certeza de que era realmente ele?

—Nunca tinha o visto na minha vida, então não posso te dar certeza de nada. Ele me disse que seu nome era esse e o rei não estranhou quando o chamei assim logo após retornar do encontro. —Falei, porque não tinha qualquer motivo para esconder aquilo. Já tinha contado a Kaden e era óbvio que ele iria repassar tudo aos irmãos.

Engoli em seco quando ela ficou de pé. O vestido prata revelando muito mais partes do corpo dela do que eu esperava. Mas era um vestido elegante, digno de uma rainha. Morgana desceu os degraus e se aproximou de mim. Valerian parecia ocupado em uma conversa silenciosa com Oren, porque os dois estavam com os olhos um no outro. Mas Kaden estava observando a irmã com atenção, como se estivesse em alerta com os movimentos dela.

—Muito bem, Avery. Talvez você esteja falando a verdade, talvez não. A questão aqui é que precisamos decidir o que fazer com você agora que meu irmão teve a brilhante ideia de traze-la para dentro do nosso lar. —Morgana afirmou, parando na minha frente. Os olhos parecendo um predador prestes a agarrar uma presa. —Você estaria disposta a nos ajudar?

—Que tipo de ajuda? —Questionei, erguendo minha cabeça em desconfiança, sentindo minha pulsação disparar. Morgana olhou por cima do ombro, na direção de Kaden, como se quisesse saber a opinião dele. Quase pude vê-lo dizer para que ela fosse em frente.

—Seu rei está envolvido com um de nossos inimigos. Estamos em guerra com eles a muito tempo e a adição dos humanos na história só deixou a situação mais perigosa. —Morgana prosseguiu, enquanto eu apertava as mãos com força ao lado do corpo. —Se nos ajudar a conseguir informações sobre nossos inimigos, podemos dar a você algo que você queira muito.

—Como posso ter certeza de que não vão me matar? —Questionei, e Morgana abriu um sorrisinho afiado, que deixava claro que nenhum deles me daria certeza sobre aquilo. Apertei meus lábios com força, sabendo que não tinha outra alternativa. —Se eu os ajudar, deixarão os humanos em paz? Não envolveram nenhum inocente nisso?

—É isso que você mais deseja? —Morgana indagou, e eu sabia que aquilo ali era um teste. Ela queria saber até onde eu estava disposta a ir. Mas eu só conseguia pensar naqueles que tinha deixado para trás. Nos meus amigos. Os dois provavelmente tinham acordado na manhã seguinte e se desesperado ao perceberem que eu tinha sumido. Mas se eu estivesse certa, e eu esperava que sim, os dois seguiriam nosso plano inicial.

—Eu nasci naquele castelo. Minha mãe morreu dentro daquelas paredes horas depois de me dar a luz. Cresci vendo a realeza de perto, sabendo que jamais seria valiosa como eles. Servi aquelas pessoas com lealdade, esperando de volta apenas segurança. —Sussurrei, sabendo que Morgana iria ouvir cada uma das minhas palavras, por mais baixas que elas fossem. —Mas aquele rei não me deu qualquer segurança, me jogando para o meio disso como se esperasse que eu morresse. Vou ajudar vocês, se isso for poupar o meu povo de ter alguém como ele na coroa.

Continua...