Capítulo 52: Esse lugar é perfeito.

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Quando Oren me disse que queria me mostrar um lugar, estava esperando um jardim florido e bonito dentro do castelo. Mas ele me levou para dentro das cavernas do clã, onde as paredes não eram mais feitas daquelas rochas desenhadas e cortadas, e sim de uma terra negra que formava túneis dentro da montanha.

Depois de sair da torre sul, não me surpreendi quando tudo ficou escuro de novo, até aquelas cavernas fazerem um eco com o som dos nossos passos, além do som de goteiras. O cheiro de terra grudou no meu nariz, assim como algo doce que eu imaginava ser de flores. Aqueles túneis foram ficando claros a medida que chegávamos ao final dele.

Em vez de encontrar a saída de uma caverna aberta, o lugar estava coberto por uma cortina verde de folhas. Oren sorriu quando viu minha reação, afastando as folhagens para me deixar ver o lado de fora. Sol, árvores, arbustos e o som de uma cachoeira. Quase fiquei sem fôlego ao perceber que aquilo era praticamente um vale dentro do Clã Velmont.

Um espaço aberto dentro da montanha, rodeado pelo castelo. Pisei na grama, sentindo o sol tocando na minha pele e a aquecendo. Ele já estava se ponto atrás das colunas que formavam as torres do castelo, mas ainda iluminava as árvores ali. Uma floresta escondida. Sorri ao ouvir o som da cachoeira, vendo que ela surgia no horizonte e a água desabava dentro de um poço enorme, escondido pelas árvores.

—Acha que eles podem se casar nesse lugar? —Oren questionou, e eu confirmei com a cabeça, me aproximando de uma roseira que havia na lateral da entrada da caverna. As flores tão vermelhas quanto o sangue.

—Esse lugar é perfeito. —Afirmei, abrindo um sorriso que fez minhas bochechas doerem, porque não estava acostumada a me sentir tão bem ou tão feliz como estava me sentindo. Era quase como se tudo pudesse ser bom. —Vocês tem literalmente uma floresta e uma cachoeira só pra vocês. Mas aposto que ninguém vem aqui.

—Eu venho. Costumo encontrar minhas borboletas aqui, além de algumas outras espécies interessantes. —Oren retrucou, e eu mordi o lábio para não rir da expressão felizinha dele ao dizer aquilo. —Temos uma pequena faixa de terra em outra parte do castelo, como essa. Mas a visão é do deserto e montanhas escuras. Acho que não seria um bom lugar pra um casamento.

—Com certeza não. —Falei, percebendo que não conhecia nada daquele clã além da torre de Kaden e uma parte da torre de Valerian. Não sabia o que havia no lado onde Morgana morava e muito menos nas cavernas do restante do clã, onde viviam os outros vampiros.

Olhei para Oren quando ele suspirou, passando a mão no rosto como se estivesse um pouco tenso. Ele pareceu se concentrar em algo, antes de olhar pra mim e engolir em seco muito lentamente. Já o tinha visto fazer aquilo uma vez, antes de me deixar sozinha. Logo depois o encontrei nos braços de Valerian. Os dois se beijando como se fossem morrer um pelo outro.

—Preciso fazer uma coisa. Acha que consegue encontrar o caminho de volta sozinha? —Oren questionou, e eu abri um sorriso e confirmei com a cabeça, vendo-o disparar para dentro da caverna como se pensasse que eu poderia mudar de ideia.

—Acho que eu posso me acostumar com isso. —Soltei, pensando que Oren e Valerian agindo daquele jeito deveria ser super comum. Kaden e Morgana provavelmente estavam acostumados com isso. Deveria imaginar que sim, já que Kaden não demostrou surpresa alguma com o que eles faziam naquela sala aquele dia.

Engoli uma onda de calor que atravessou o meu corpo, pensando nas coisas que nos dois andávamos fazendo juntos. Ele nunca ia além comigo, além daqueles toques e beijos que eram o suficiente para que eu me desmanchasse. Sabia que havia mais do que isso e que Kaden estava se segurando, provavelmente para não me machucar. Não sabia até onde ia o controle dele.

Fiquei naquele lugar por um bom tempo, caminhando entre as árvores e conhecendo cada pedaço daquele pequeno vale escondido ali. Quando a noite enfim caiu por completo, voltei para a caverna na intenção de voltar para a torre sul, porque Elowen e Lucian deveriam estar estranhando o fato de eu não ter aparecido para jantar com eles.

Não fui muito longe, porque assim que cheguei a sala circular que dava o caminho para cada ala diferente do clã, escutei alguns sons que me pareceram tão estranhos e ao mesmo tempo muito assustadores. Vinham da parte do castelo que eu sabia pertencer ao restante dos vampiros do clã. A ansiedade, misturada com medo e curiosidade me deixava com vontade de sair correndo dali, mas eu também queria descobrir o que mais aquele lugar escondia.

Olhei ao redor, para os corredores escuros, me perguntando onde Kaden estaria e o que estava fazendo. Me virei para o corredor de onde vinha os sons e segui em frente, com o coração martelando na garganta. Da última vez que tinha feito isso, as coisas não saíram muito bem. Mas eu já estava coberta de surpresas até a cabeça, acho que poderia suportar mais uma.

Desci os degraus que surgiam logo a frente, tomando cuidado para não cair e me machucar, já que eu não conseguia ver muita coisa. Senti um arrepio atravessar meu corpo quando escutei o que parecia ser um grito de puro pavor. Aquilo me fez congelar no meio do movimento de seguir em frente, percebendo que havia uma porta entreaberta a poucos metros de mim.

Puxei o ar com força, sentindo meu corpo tremer quando segui em direção aquela porta, vendo que o cômodo era parcialmente iluminado. O cheiro de sangue chegou ao meu nariz, deixando minha barriga gelada, principalmente porque entendi o que eram aqueles sons. Eram vampiros se alimentando.

Minha garganta ficou seca quando parei ao lado da porta e a empurrei um pouco, sentindo meu sangue gelar dos pés a cabeça, enquanto meu corpo ficava completamente paralisado, quando vi o que acontecia lá dentro. O medo abrindo um buraco no meu peito, junto com a verdade de algo que eu estava tentando evitar.

Porque os vários vampiros dentro daquela sala, estavam se alimentando de humanos. Homens e mulheres que eram segurados e mordidos sem qualquer pena. Sangue escorrendo para o chão quando alguns dos vampiros ficavam ansiosos demais e acabavam deixando alguns deles escaparem em meio a gemidos de agonia e desespero. Pelo chão, corpos pálidos e vazios, estavam espalhados como um lembrete de quantos eles já haviam matado para saciar a vontade de sangue.



Continua...

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