Capítulo 56: Por ameaçar ir embora.

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Ajeitei a saia do vestido, enquanto Elowen se observava no espelho. Como eu imaginava, ele tinha ficado absolutamente perfeito nela e só precisei fazer algumas poucas mudanças. Aquilo era bom, porque eu estava precisando me distrair um pouco, ou ia acabar enlouquecendo naquele lugar.

—O que acha que Lucian está fazendo? —Elowen questionou, e eu comprimi meus lábios para não abrir um sorriso. Tinha contado a Lucian as minha ideias e ele quase passou mal por não acreditar. Deixei ele com Oren, porque sabia que o vampiro ia ajudar Lucian a ajeitar tudo da forma que ele queria.

—Deve estar encontrando alguma coisa que goste de fazer aqui. —Menti, dando de ombros. Elowen me encarou com as sobrancelhas erguidas, torcendo os lábios de leve como se estivesse incomodada.

—O que está acontecendo, Avery? Ontem a noite você desapareceu. E hoje você está tão silenciosa que está me dando vontade de gritar para que converse comigo. —Elowen se afastou, mesmo que eu não tivesse terminado meu trabalho naquele vestido ainda. Ergui a mão e esfreguei a testa, antes de ajeitar os cabelos atrás da orelha. —Pode, por favor, conversar comigo? Essa situação está sendo difícil pra todos nós e ficar assim não ajuda em nada.

—Eles bebem sangue humano. —Contei de uma vez, porque não era do tipo que guardava segredos de Elowen. Ela pareceu se assustar, olhando na direção da porta como se lembrasse de Lucian e com quem ele estava. —Não Oren. Você sabe que vampiros com laço de parceria só bebem sangue do parceiro.

—Mas e os outros? —Questionou, e ainda parecia muito disposta a sair correndo atrás do ex guarda.

—Estamos seguros aqui. —Falei, mesmo que não fosse bem isso que Elowen esperava ouvir. Quando ela relaxou só um pouquinho, me permiti contar a ela tudo que sabia sobre aquele lugar. As coisas que Morgana tinha me contado.

Não vi Kaden na manhã seguinte, mesmo que soubesse que ele passou a noite naquela poltrona. Ele desapareceu a manhã toda, o que me deixava aliviada e ao mesmo tempo com uma sensação estranha dentro do peito. Não sabia como lidar com aquela situação toda e só precisava de um tempo.

—Estou irritada, frustada e cheia de perguntas, mas nem sei quais elas são. —Afirmei, deixando a linha e a agulha de lado, porque não estava mais com cabeça para aquilo. Fingir que não estava acontecendo nada. —Nossa vida era simples demais antes de tudo isso acontecer, Elowen. Estou com medo de não me encaixar aqui.

—Porque você deseja se encaixar aqui, com eles. —Elowen sussurrou, e eu não confirmei nem neguei aquilo. Ela já sabia a resposta. Elowen se aproximou de mim, observando os desenhos de Oren sobre a mesa. Aquele mar de vestidos que ele tinha feito para que eu escolhesse o que costurar ou não. —Desde que estivemos naquela bruxa, fico me perguntando o que ela quis dizer com aquelas coisas sobre mim. Tenho medo do que elas significam. Tenho medo do que minha mãe sabia e do que ela era.

—Posso ver com Morgana se eles conhecem alguém que pode nos trazer alguma resposta para isso. —Sugeri, mas Elowen balançou a cabeça negativamente, como se não quisesse isso.

—Se eles soubessem, Kaden a teria te falado, não? —Indagou, e eu hesitei em responder, porque não tinha certeza disso. —Acho que se vamos encontrar respostas, vai ser no castelo.

—Não podemos voltar pra lá. —Afirmei, porque aquilo era perigoso demais. Elowen abaixou a cabeça e meu coração se apertou quando percebi que ela provavelmente sentia falta daquele lugar, mesmo que tudo estivesse bem aqui. Ou relativamente bem. —Posso pedir para Kaden tentar descobrir alguma coisa. Ele costuma ir até o reino ver como as coisas estão.

—A gente não poderia ir com ele? —Elowen questionou, e eu hesitei em responder, soltando um suspiro pesado com a forma que ela me olhou. —Sei que é perigoso, mas não quero viver presa nesse lugar.

—Vou conversar com ele. —Prometi, mesmo que quisesse manter distância de Kaden, porque as coisas entre nós eram caóticas demais. Não havia qualquer meio termo. Tudo era sempre demais entre nós.

[...]

Bati na porta do quarto de Kaden depois de me demorar tempo suficiente ali para me sentir uma boba. Ele com certeza já sabia que eu estava ali, então não fazia sentido hesitar. Abri a porta quando escutei a voz dele do lado de dentro, sentindo o calor atravessar meu corpo como se um líquido fervente estivesse escorrendo pela minha pele. Porque Kaden estava nu.

—Você podia ter se vestido antes de permitir que eu entrasse. —Afirmei, entrando e virando de costas para não olhar pra ele, enquanto fechava a porta. Kaden apenas riu, deixando minha boca seca quando o vi atravessar o cômodo até a lareira, secando os cabelos lentamente.

—Não é como se você não tivesse visto ou tocado em tudo isso. —Retrucou, e eu fechei meus olhos com força, sentindo minhas bochechas queimando. Olhei por cima do ombro, antes de desviar os olhos rápido quando percebi que ele não ia mesmo colocar uma roupa. —Veio me pedir desculpas?

—Ah, agora eu preciso pedir desculpas? Foi você quem escondeu coisas de mim e eu preciso pedir desculpas? —Me virei pra ele completamente incrédula, antes de me lembrar porque estava de costas. Aquilo estava me abalando, porque eu queria ter uma conversa séria com ele. —Por favor, pode pelo menos colocar uma calça? Não consigo falar com você assim.

Soltei um suspiro pesado quando ele soltou uma risada baixa que me deixou irritada, mas pelo menos desapareceu dentro do closet e voltou de lá com uma calça. Me virei pra ele, ajeitando meus cabelos enquanto tentava regular minha respiração pesada. Meu coração estava na minha garganta, porque era difícil demais ficar perto dele.

—Tem mais alguma coisa que eu precise saber sobre esse lugar? Alguma coisa que eu provavelmente não vou gostar? —Questionei, cruzando os braços na frente do peito, enquanto Kaden parava perto da cama e usava as mãos para pentear os cabelos úmidos.

—Os humanos são o ponto alto daqui. —Kaden deu de ombros, como se isso não fosse muita coisa pra ele. Rangi os dentes, porque sabia que ele só estava tentando me provocar. —E você deveria mesmo me pedir desculpas.

—Pelo que, exatamente? —Questionei, e Kaden me indicou com um movimento leve de cabeça.

—Por ameaçar ir embora. Por me privar de algo que eu desejo. —Afirmou, e eu fiquei sem palavras, porque não era aquilo que eu estava esperando ouvir dele. A expressão de Kaden era um mar cheio de ondas violentas, enquanto eu estava me afogando nele.



Continua...

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