Capítulo 29: Ela está bem?

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Sai dos meus aposentos apenas para ir até a sala de costura. Para o meu alívio, Oren não apareceu em nenhum momento. Acho que eu não saberia falar com ele depois da cena que tinha visto mais cedo. Mas encontrei vários desenhos de vestidos de noiva sobre a mesa, além de uma variada quantidade de tecidos brancos que eu poderia escolher.

Comecei a costurar assim que escolhi um dos vestidos, mesmo que isso não afastasse todos os pensamentos conturbados que tomavam conta de mim. As vezes, quando eu acabava me deixando levar por aqueles pensamentos e os sonhos da última noite, sentia um calafrio atravessar meu corpo inteiro. Aquela sensação poderosa que queimou meu corpo ameaçando voltar.

Balancei a cabeça, puxando o ar com força antes de me concentrar no que precisava fazer. Quando ficava com fome, ia até meus aposentos, onde encontrava a mesa posta pra mim. Ainda não sabia de onde ela vinha e nem quem as fazia. Não havia perguntado a Oren também, mesmo que isso estivesse na lista de coisas que eu gostaria de perguntar a ele.

Quando me sentia por satisfeita, voltava ao trabalho, sabendo que aquele vestido me levaria o dobro do tempo se eu quisesse que ele ficasse perfeito. E eu queria, porque a dona dele merecia o melhor de tudo, mesmo que eu não soubesse se um dia poderia lhe dar ele. Soltei um suspiro pesado e encostei a cabeça no encosto do sofá, me sentindo tão sozinha naquele instante.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha quando aquela saudade que eu evitava pensar demais surgiu com tudo, esmagando meus ossos. Limpei a lágrima rápido, pegando mais linha e a colocando na agulha para voltar a costurar. Precisava ocupar minha mente, porque sabia que aquele lugar já estava começando a mexer comigo.

Soltei um murmúrio baixo, apertando meus lábios com força quando a ponta da agulha mergulhou no meu dedo em um momento de atenção. Afastei a mão rápido, não querendo sujar o tecido branco de sangue. Uma gota se formou na ponta do meu dedo e eu o enfiei na boca, limpando os resquícios dele, antes de olhar para a porta e depois para a varanda.

Um arrepio atravessando meu corpo quando pensei que os vampiros poderiam sentir cheiro de sangue a quilômetros de distância. Fiquei rígida no sofá, ainda com o dedo dentro da boca. Os lábios pressionando o pontinho de sangue, enquanto eu aguardava alguma coisa acontecer. Mas ninguém apareceu, o que me fez relaxar os ombros e afastar a mão.

O furo era pequeno o suficiente para não voltar a sair sangue, mesmo que eu o sentisse latejando de leve. Afastei as coisas do meu colo, deixando tudo no sofá antes de me levantar. Já estava começando a anoitecer no horizonte. Eu poderia me demorar em um banho bem longo e frio, antes de ir me deitar para dormir. O peso da última noite mal dormida já estava caindo sobre mim.

Peguei uma tocha na parede e sai da sala, caminhando silenciosamente pelos corredores. Minha mão fechada em punho e a outra tremendo ao redor do suporte da tocha, porque eu estava com a estranha sensação de estar sendo observada. Apertei o passo, odiando ainda não ter gravado direito o caminho certo. Tinha esquecido o mapa na sala e não queria voltar lá para buscar.

—Pode parar com isso? —Falei para a escuridão, sabendo que Kaden deveria estar ali, apenas tentando brincar comigo. —Para um lorde vampiro, você tem muito tempo livre para ficar se esgueirando pelos corredores testando minha paciência.

Para a minha surpresa, não foi a voz de Kaden que eu escutei da escuridão, e sim um rosnado alto que gelou até a ponta dos meus dedos. A tocha caiu das minhas mãos quando uma sombra acinzenta saltou ao meu lado, caindo praticamente em cima de mim. Eu caí para trás, prendendo a respiração quando encarei o imenso logo cinzento que olhava pra mim e rosnava, como se quisesse me despedaçar.

Um grito escapou pela minha boca quando cambaleei para ficar de pé, disparando pelo corredor escuro quando a tocha se apagou por completo. Não conseguia ver nada na minha frente, além dos meus gritos parecerem ecoar por todo aquele castelo enquanto eu tentava encontrar alguma porta, com minhas mãos tateando as paredes desesperadamente.

A saia do vestido se embolava na minha perna enquanto eu corria, sentindo o gelo do medo atravessando meu sangue. Os rosnados ficando cada vez mais altos, deixando claro que ele me alcançaria a qualquer momento. Soltei um suspiro de alívio ao encontrar uma porta, a empurrando com força para entrar.

Quase caí no chão, antes de me virar para fechá-la. O corpo do lobo se chocou contra ela com força, me jogando para trás quando a porta se partiu ao meio e ele entrou. Me arrastei para baixo da cama quando percebi que aquele era outro aposento vazio. O lobo se ergueu no chão, uivando de uma forma que fez lágrimas grossas molharem minhas bochechas quando pensei que iria morrer.

Ele soltou sobre a cama. O peso fazendo as travas estalarem sobre mim. Gritei quando pensei que a cama iria desabar só de mim, antes da sombra de alguma coisa arrancar o corpo do lobo de cima dela. Vi apenas quando ele se chocou contra uma penteadeira, que se desfez por inteira com o peso dele. Sai de baixo da cama, correndo para dentro do closet, onde encontrei um canto para me esconder atrás da porta.

Não vi quem estava ali, mas me encolhi inteira contra a porta, tremendo dos pés a cabeça. Escutei a briga do outro lado da parede. Móveis sendo estraçalhados e membros sendo quebrados, até o lobo rugir e choramingar, antes de tudo cair em um silencio pesado e mórbido. Fechei meus olhos com força, contando minha respiração enquanto tentava me acalmar.

Escutei o som de passos se aproximando e fiquei rígida contra a parede, antes da porta ser afastada de mim e meu esconderijo descoberto. Me assustei quando alguém me tocou, tentando me afastar, antes de abrir os olhos e ver que era Kaden. Ele estava abaixado na minha frente, sujo de sangue pelos braços e pelo rosto. Mas não me importei com isso quando senti um alívio tão grande. Quando percebi que estava me sentindo segura de novo.

Me inclinei pra frente, até meu rosto estar escondido no peito dele. As batidas do meu coração martelando no meu peito quando senti ele passar o braço ao redor de mim e me pegar no colo. Escondi o rosto na garganta dele, puxando o cheiro dele com força para dentro de mim, enquanto ainda tremia sem parar.

—Ela está bem? —Valerian questionou, de algum lugar do cômodo. Não me afastei para olhar pra ele, sentindo as mãos de Kaden apertarem ao meu redor.

—Vai ficar. —Foi a resposta de Kaden, antes de me tirar dali.


Continua...

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