Verdades precisam ser ditas as vezes

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Rhaenyra se encontrou em um sonho vívido, imersa em um ambiente nebuloso e sombrio. Estava dentro de uma caverna profunda em Dragonstone, onde a escuridão parecia palpável, como se se pudesse tocá-la. O chão rochoso sob seus pés parecia vibrar com uma energia antiga e poderosa. Ao longe, uma voz ressoava, mais parecendo um rugido do que uma fala. Era uma chamada imperiosa, que a atraía para o interior da caverna.

O som era quase hipnótico, fazendo com que cada passo dela fosse dado com uma mistura de medo e curiosidade. Rhaenyra avançava, sentindo uma sensação de urgência crescente à medida que se aproximava da origem do chamado. A caverna parecia interminável, suas paredes adornadas com fragmentos de cristal que refletiam a luz em padrões que dançavam ao seu redor.

Quando estava prestes a alcançar o centro da caverna, onde a voz parecia se concentrar, ela acordou com o som familiar das criadas preparando seu banho. O despertar abrupto fez com que a sensação de mistério e chamado desaparecesse, deixando-a com uma estranha sensação de insatisfação. A voz da criada chamou sua atenção.

— Sua alteza, o rei pede sua presença na sala do pequeno conselho... — Elinda sua criada mais próxima a chama com ternura na voz.

Rhaenyra se levantou, tentando espantar os ecos do sonho enquanto se preparava para o dia. Após um banho revigorante, vestiu um dos vestidos que pertencia à sua mãe. A peça era uma seda azul, com bordados dourados que refletiam a luz de maneira sutil e elegante. Seu cabelo, agora mais longo do que se lembrava, foi trançado em uma linda trança deixando uma parte dele solta caindo sob seus ombros. Ela sorriu ao se olhar no espelho, admirando como estava se parecendo com Aemma, sua mãe. As semelhanças eram marcantes, e o sentimento de proximidade com ela era reconfortante, ela sabia que aquela semelhança iria mexer com seu pai e isso lhe arrancou um breve sorriso.

“Isso é bom, quem sabe assim ele entende o que realmente é importante pra ele.”

Para completar o visual, Rhaenyra escolheu usar o colar que seu tio Daemon lhe dera, um presente carregado de memórias e significados. Também usou os anéis que haviam pertencido a sua mãe, cada um deles um símbolo de sua herança e das perdas que carregava. As jóias pareciam encaixar-se perfeitamente, não apenas em termos de aparência, mas também como um lembrete de quem ela era e de onde viera.

Quando finalmente chegou à sala do Pequeno Conselho, Rhaenyra foi recebida pelo olhar fixo e atônito de seu pai. Viserys, que estava de costas, se virou para ver a filha entrar, e por um instante, seu semblante ficou paralisado. O impacto da visão de Rhaenyra, vestida como Aemma, mexeu profundamente com ele. Ele estava à beira de uma reunião crucial, mas a visão de sua filha, tão parecida com sua amada esposa, trouxe à tona uma onda de emoções que ele não esperava enfrentar.

Rhaenyra percebeu a reação do pai, o choque e a tristeza que estavam refletidos em seu rosto. Ela hesitou por um momento, sentindo o peso das expectativas e da dor que havia sido trazida à tona. Mas, com uma determinação silenciosa, ela avançou e tomou seu lugar, pronta para enfrentar a discussão que sabia que se seguiria.

Viserys, ainda abalado pela semelhança, respirou fundo e tentou se recompor, começando a falar com um tom mais grave e calculado do que o habitual.

— Rhaenyra, — começou ele, a voz um pouco trêmula mas que logo se firmou — agradeço por vir. Precisamos discutir vários assuntos importantes.

Rhaenyra, embora sentindo a complexidade das emoções de seu pai, manteve a compostura e preparou-se para a conversa que se seguiria. Viserys, ainda um pouco abalado pela visão de Rhaenyra, tentou se recompor e começou a discutir o assunto que o preocupava mais naquele momento.

— Precisamos falar sobre a situação nas Stepstones, — disse ele, endireitando-se na cadeira e buscando um tom autoritário. — Daemon e Lorde Corlys estão envolvidos em um conflito cada vez mais intenso com a Triarquia, uma guerra que não teve o consentimento da coroa. O Engorda Caranguejo está tomando controle da região, e isso ameaça o livre comércio e o domínio dos mares. Já faz tempo que os rumores de suas vitórias chegam à corte, mas Daemon não pediu, nem aceitou, o apoio do trono. Ele está agindo por conta própria, e isso... é problemático.

A Herdeira Das Chamas | A casa do dragão Onde histórias criam vida. Descubra agora