Enquanto Alara seguia Tharok pela floresta, o ar ao redor parecia mudar. O frescor matinal que antes trazia um alívio sutil agora tornava-se denso, quase sufocante. As árvores se fechavam como guardiãs de um segredo que Alara não compreendia, mas podia sentir. Cada passo parecia ecoar como um chamado distante, uma voz ancestral que os puxava para algo desconhecido.
Tharok, sempre tão firme e seguro, desacelerou. Ele olhava ao redor, as sobrancelhas franzidas em concentração, como se estivesse tentando ouvir algo além dos sentidos humanos. O rosto dele, geralmente impassível, agora exibia uma tensão que Alara nunca tinha visto antes.
“Tharok, o que está acontecendo?” Alara perguntou, sua voz cheia de preocupação.
Antes que ele pudesse responder, um tremor leve sacudiu o solo abaixo de seus pés. As árvores ao redor balançaram, e o som de folhas farfalhando transformou-se em um ruído mais alto, quase como um sussurro que vinha de todas as direções. Alara sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
De repente, o chão sob seus pés começou a rachar. Alara deu um grito involuntário, pulando para trás enquanto o solo parecia se dividir como um quebra-cabeça. O que estava acontecendo ali não era natural. As rachaduras no chão formavam um círculo perfeito ao redor deles, e, em um instante, a terra cedeu.
Tharok agarrou Alara pela cintura, segurando-a firme enquanto o chão parecia engolir os dois. Eles caíram, mas não em um abismo escuro como ela esperava. Ao invés disso, foram envolvidos por uma luz dourada e quente, como se o sol estivesse dentro do coração da terra.
Eles caíram em um lugar que não deveria existir — uma caverna subterrânea, mas ao mesmo tempo, algo muito maior. Estavam em uma clareira iluminada por cristais flutuantes que pairavam no ar, emanando uma luz etérea. Ao redor deles, paredes cobertas de vinhas brilhantes se estendiam, e em cada folha, pequenas gotas de néctar cintilavam como joias.
Alara piscou, tentando entender o que estava vendo. O que era aquele lugar? Como tinham chegado ali? Ela olhou para Tharok, que estava igualmente surpreso, seus olhos escuros refletindo o brilho das pedras ao redor.
“Esse lugar… eu nunca vi nada assim,” ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela.
Antes que Alara pudesse responder, algo se moveu nas sombras além das luzes. Uma figura esguia e alta emergiu da escuridão. Seus olhos brilhavam como faróis, e sua pele era translúcida, refletindo as cores do ambiente ao redor, como se a criatura fosse parte daquele mundo. Ela flutuava graciosamente, movendo-se com uma serenidade quase alienígena.
“Vocês chegaram ao coração da floresta,” a criatura disse, sua voz ecoando de maneira musical, como se cada palavra estivesse sendo cantada. “Este é o ponto de convergência dos antigos. Um lugar onde o destino se entrelaça com o impossível.”
Alara não conseguia tirar os olhos da criatura. Ela era ao mesmo tempo bela e aterrorizante, como algo que não deveria existir, mas ali estava, diante deles.
“Quem é você?” Tharok perguntou, sua mão instintivamente indo para a faca em sua cintura, mas ele não sacou a arma.
“Eu sou a Guardiã. A floresta vive em mim, e eu nela. Vocês, que caminham em suas sombras, foram trazidos para o centro do destino. Aqui, escolhas serão feitas e novos caminhos se abrirão.”
Alara sentiu uma energia vibrar em seu peito, algo que ela nunca havia experimentado antes. Era como se o ar ao redor estivesse carregado de magia antiga, algo que ela não sabia que podia existir. “Por que estamos aqui?” ela perguntou, sua voz quase um sussurro.
A Guardiã flutuou em direção a ela, seus olhos brilhando ainda mais intensamente. “Porque vocês dois estão ligados de uma maneira que nem o tempo pode romper. Mas essa ligação carrega mais do que vocês podem compreender. Há algo maior acontecendo aqui.”
De repente, Tharok avançou, seus olhos fixos na Guardiã. “O que você sabe sobre mim?” Sua voz era urgente, quase desesperada, algo que Alara nunca tinha ouvido antes.
A Guardiã olhou profundamente nos olhos dele, como se estivesse vendo além de sua carne, além de sua alma. “Você não é apenas um homem, Tharok. Há algo dentro de você... uma fera adormecida. O sangue que corre em suas veias não é apenas humano.”
Alara ficou imóvel, o coração disparando. O que a Guardiã estava dizendo? Tharok... não era humano? A mente dela girava com as implicações.
“Você foi marcado, Tharok, desde o seu nascimento,” continuou a Guardiã. “Parte de você pertence a esse lugar, a essa magia antiga. Você é o herdeiro de uma linhagem esquecida, um poder que desperta nas profundezas da floresta.”
Tharok recuou, como se as palavras da Guardiã tivessem atingido algo profundo dentro dele. Alara viu o conflito em seu rosto, a dor e a confusão. Ele não sabia disso, ou não queria saber.
“Eu... não sou um monstro,” ele murmurou, quase para si mesmo.
“Não, você não é um monstro,” a Guardiã respondeu com suavidade. “Mas há uma escuridão em você, uma sombra que cresceu por séculos. A noite passada foi o início de algo muito maior, Tharok. A ligação entre você e Alara despertou esse poder. Agora, vocês dois estão presos nesse destino.”
Alara deu um passo à frente, sentindo o peso das palavras da Guardiã. “Nós... estamos destinados a quê?”
A Guardiã olhou para ela com um misto de pena e respeito. “A unir os mundos. Vocês dois são o equilíbrio. Tharok, o herdeiro da escuridão, e você, Alara, a luz que ele precisa. Juntos, vocês podem controlar o que está para despertar. Mas separados... a destruição é certa.”
As palavras caíram sobre eles como um julgamento. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Alara sentiu sua cabeça girar, a realidade que conhecia desmoronando ao seu redor. Nada era como parecia. O que significava essa “união dos mundos”? Ela olhou para Tharok, que ainda estava lutando contra o que acabara de ouvir.
De repente, um rugido distante ecoou pela caverna, cortando o momento. A Guardiã ergueu a cabeça, os olhos brilhando com urgência. “Vocês devem se apressar. O despertar está começando.”
Tharok, ainda atordoado, agarrou a mão de Alara e a puxou para si, seus olhos escuros agora cheios de uma determinação feroz. “Não importa o que seja... eu não vou deixar que nada a machuque.”
Alara apertou a mão dele, sentindo a mesma determinação crescer dentro de si. Eles estavam em algo muito maior do que poderiam imaginar, mas, juntos, poderiam enfrentar o desconhecido.
E então, sem mais palavras, eles correram. Para o desconhecido. Para o destino. Para o fogo e a escuridão.
![](https://img.wattpad.com/cover/376943989-288-k937528.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Halloween obsession
RandomPerdida na floresta na noite de Halloween, Alara encontra Tharok, um serial killer mascarado de caveira. Em vez de atacá-la, ele a ajuda, mas a tensão entre os dois é palpável. Tharok, acostumado à violência, sente um desejo incontrolável por ela, n...