A manhã seguinte chegou lentamente, como se a floresta ainda estivesse envolta em um manto de mistério e escuridão. A luz do sol tentava, timidamente, atravessar as frestas das janelas da cabana, iluminando de maneira suave os móveis rústicos e o espaço apertado que Alara agora chamava de refúgio.
Ainda em meio ao torpor do sono, ela sentiu o calor do corpo de Tharok ao lado do seu, um lembrete constante do que havia acontecido na noite anterior. O peso de tudo — das sensações, das emoções e da entrega — ainda estava presente, como uma tatuagem invisível em sua pele. O cheiro de fumaça da lareira misturado ao perfume amadeirado de Tharok preenchia o ar, criando uma sensação de familiaridade que Alara não queria admitir, mas já começava a se apegar.
Quando finalmente abriu os olhos, o primeiro pensamento que lhe ocorreu foi que nada ali parecia um sonho. Era tudo tão real e palpável, desde a textura da madeira desgastada da cabana até a respiração constante de Tharok ao seu lado. Ela se virou devagar, e ali estavam os olhos dele, já fixos nela, como se não tivesse desviado o olhar um único segundo.
Tharok estava deitado de lado, observando-a com uma intensidade que fazia sua pele arrepiar, mesmo depois de tudo que haviam compartilhado. Ele não disse nada, e o silêncio que se instalou entre eles era mais forte do que qualquer palavra poderia ser. Aquilo que eles não falavam estava claro nos gestos, nos olhares, e no ar carregado ao redor deles.
"Você sempre acorda assim, me observando?" Alara perguntou, a voz ainda rouca pelo sono, mas tentando aliviar a tensão palpável.
Tharok permaneceu em silêncio por um momento, como se ponderasse a resposta. Seus lábios curvaram-se levemente em um sorriso enigmático, mas os olhos continuavam intensos. "Preciso garantir que você não tente fugir." Sua voz grave soou pelo pequeno espaço, cada palavra escolhida com cuidado, carregada de uma advertência que ele não precisava explicar.
O coração de Alara saltou no peito. Fugir? A palavra ecoou em sua mente, ressoando como um lembrete de que, até o dia anterior, fugir teria sido sua primeira escolha. No entanto, agora, algo dentro dela hesitava em sequer considerar a ideia. Fugir de quê? Ou de quem?
Ela segurou o olhar de Tharok, tentando decifrar o que havia por trás daquela máscara. Ele era uma criatura de mistérios e sombras, envolto em segredos que pareciam inatingíveis para qualquer pessoa normal. Mas, ali, ao lado dele, ela não se sentia exatamente normal. Sentia-se atraída por ele de uma maneira que desafiava a lógica, como se estivesse sendo puxada para um abismo desconhecido, mas de uma forma tão tentadora que fugir parecia quase tolice.
"Eu não sei se fugir ainda está nos meus planos", Alara murmurou, mais para si mesma do que para ele.
Tharok arqueou uma sobrancelha, mas permaneceu em silêncio. Algo no olhar dele mudou — uma faísca que passou rapidamente, mas que Alara notou. Talvez fosse surpresa. Talvez fosse outra coisa. Mas antes que ela pudesse decifrar, ele se levantou com uma fluidez quase felina, seu corpo nu refletindo a luz fraca do sol matinal.
Alara desviou o olhar por um segundo, o calor subindo em suas bochechas. O impacto visual dele, mesmo depois de tudo, ainda era forte. Ele era mais que humano. Havia algo nele — na maneira como se movia, na forma como sua presença dominava o ambiente — que parecia não pertencer àquele mundo.
Ele se vestiu em silêncio, cada movimento prático e eficiente, e Alara o observou em silêncio, seus próprios pensamentos girando. No fundo, ela sabia que deveria questionar tudo: quem era ele, o que ele queria, e por que estava tão atraída por um homem que, até pouco tempo atrás, era um completo estranho. Mas, naquele momento, questionar parecia impossível.
Assim que ele terminou de se vestir, Tharok virou-se para ela, seus olhos escuros prendendo os dela mais uma vez. "Temos que sair antes que a floresta fique ainda mais perigosa à luz do dia. Nem todas as ameaças se escondem na escuridão."
"Perigosa?" Alara franziu a testa. "Você me resgatou da floresta... mas o perigo ainda está por aí, não está?" Ela não sabia se referia ao perigo físico ou ao emocional — talvez ambos. Mas algo na maneira como Tharok a olhava fazia seu estômago se contorcer em expectativa.
Ele não respondeu de imediato. Ao invés disso, caminhou até a porta da cabana e a abriu, deixando a brisa fria da manhã invadir o ambiente aquecido. "Há coisas lá fora que fariam você desejar que eu fosse seu maior problema, Alara."
Ela engoliu seco, as palavras dele pesando em sua mente. Por mais que a ameaça de Tharok fosse real, havia algo mais profundo em jogo. Algo que ela ainda não conseguia compreender, mas que podia sentir, como uma sombra à espreita em seus pensamentos.
"Então, por que me salvou?", ela perguntou, sentindo que a resposta poderia ser crucial para entender o que estava acontecendo entre eles.
Tharok a encarou, seus olhos revelando uma seriedade que ele raramente demonstrava. "Porque, por mais que eu tente, não consigo te deixar ir."
Houve um silêncio pesado que se seguiu àquelas palavras. Alara sentiu um nó se formar em sua garganta. O que ele havia dito não era uma confissão de amor, nem uma promessa. Era mais como uma maldição. Como se o destino deles estivesse entrelaçado de uma maneira que nenhum dos dois pudesse controlar ou escapar.
Sem dizer mais nada, ele saiu da cabana, esperando que ela o seguisse.
Alara hesitou por um momento. O ar frio da floresta tocava sua pele e parecia convidá-la a voltar à realidade. Mas a realidade não tinha o mesmo apelo que a presença de Tharok. Ela o seguiu.
Ao sair da cabana, o cenário ao redor parecia mudado — não na aparência, mas na sensação. A floresta, que na noite anterior fora uma armadilha mortal, agora parecia observar em silêncio, quase como se estivesse esperando pelo próximo movimento deles. As árvores imponentes, as folhas farfalhando com a brisa, e o canto distante de pássaros completavam o cenário de um mundo à parte, onde regras normais não se aplicavam.
"Para onde estamos indo?", ela perguntou, quebrando o silêncio tenso enquanto o seguia por um caminho que ela não reconhecia.
"Há um lugar seguro mais adiante", Tharok respondeu, sua voz baixa. "Mas não é só o local que importa. Você está em uma jornada agora, Alara. E essa floresta é apenas o começo."
Ela não entendeu completamente o que ele quis dizer, mas algo dentro dela ressoou com aquelas palavras. Ela sabia que, ao escolher seguir Tharok, não havia mais como voltar atrás. Não havia mais fuga. O que quer que fosse acontecer, eles enfrentariam juntos — presos pela chama que se recusava a apagar.
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Halloween obsession
AcakPerdida na floresta na noite de Halloween, Alara encontra Tharok, um serial killer mascarado de caveira. Em vez de atacá-la, ele a ajuda, mas a tensão entre os dois é palpável. Tharok, acostumado à violência, sente um desejo incontrolável por ela, n...