Capítulo 04

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Chegando em frente de casa, meu pai desligou o carro. Ficamos ali por um tempo, em silêncio, processando aquele dia caótico, até que, finalmente, entramos. Minha mãe parecia determinada a deixar o assunto para amanhã... mas, com certeza, não conseguiu.

— Alisson, eu não sei mais o que está acontecendo com você! — disse ela, a voz embargada de frustração.

— Eu e seu pai damos duro para te oferecer o melhor! Por que você não tenta fazer amizades? Ou viver algo normal para sua idade? De verdade, eu já tentei de tudo. Te coloquei em atividades, não para te ocupar, mas para te ajudar a encontrar alguém com quem se identifique...

Ela suspira, abatida, e abaixa a cabeça. A frustração parecia pesar sobre seus ombros. Meu pai, tentando amenizar o clima, acaricia suas costas e fala com suavidade:

— Querida, hoje o dia foi cheio e difícil para todos nós. Vamos deixar essa conversa para outro momento, sim? Com mais calma...

Minha mãe apenas balança a cabeça em concordância e sobe as escadas, indo para o quarto em silêncio. Meu pai, então, se volta para mim.

— Vá também, Alisson. Tome um banho e descanse. Você precisa disso...

Ele se aproxima, beija minha testa com carinho e sobe logo em seguida. Fiquei parada por uns dois minutos, encostada na bancada da cozinha, sem reação. Meus pais realmente não mentiram — trabalham muito e me dão uma vida confortável.

Tenho um quarto grande, com um bom closet, meu próprio banheiro e até uma banheira onde costumo passar horas mergulhada em pensamentos, aproveitando um banho quente e silencioso.

Subi para o quarto e fui direto para o banheiro. Tomei um banho rápido no chuveiro, coloquei roupas limpas e confortáveis, apaguei as luzes e deixei só o abajur aceso, lançando uma luz fraca no ambiente. Deitei na cama, mas o sono simplesmente não vinha. A única coisa que ocupava minha mente eram aqueles lobos... e os vampiros. Era real? Vampiros existirem... parecia ridículo demais. Patético, até. Ninguém acreditaria se eu contasse a alguém.

Depois de duas horas virando de um lado para o outro, acabei pegando no sono. Mas não durou muito. Acordei assustada, antes mesmo do despertador tocar. Tinha tido um pesadelo com aquele vampiro na floresta. Ainda bem que era sábado. Tinha dois dias para tentar me recompor antes de voltar à escola... e enfrentar os olhares curiosos e julgadores sobre o que aconteceu comigo.

Desci para tomar café e encontrei meus pais, já arrumados para o trabalho, mas me esperando.

— Bom dia, Alisson. Aqui está seu café... — disse meu pai, me entregando um prato com ovos mexidos e duas torradas. Em seguida, encheu um copo com suco de laranja e me estendeu.

— Espero que tenha descansado, querida. Coma tudo, você precisa.

Minha mãe, com o rosto ainda carregado de preocupação, me entregou a chave do carro dela.

— Seu pai vai me levar hoje. Pegue o carro e coloque essa localização no GPS... — ela colocou um papel com o endereço embaixo da chave.
— Vá até a Reserva e agradeça aos meninos pelo que fizeram por nós ontem. É o mínimo. E entregue isso a eles...

Ela apontou para uma cesta com muffins e outras guloseimas bem embaladas.

— Estou confiando em você, Alisson. Faça isso, ok? Vamos, querido! — disse ela, já se dirigindo à porta.
— Vou te ligar de hora em hora. Fique com o celular por perto!

Logo depois, saiu apressada. Meu pai veio logo atrás, mas antes de sair, se aproximou, deu um tapinha carinhoso nas minhas costas e sorriu.

— Você consegue, querida. Nada que um dia após o outro não resolva. E cuidado na estrada...

Me deu um beijo no topo da cabeça e saiu, fechando a porta atrás de si.

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