Momentos antes.
A chuva caía com violência, golpeando o para-brisa como afiadas lâminas de gelo, ofuscando qualquer chance de enxergar além de alguns metros. As palhetas lutavam em vão, deixando rastros que tornavam tudo ainda mais distorcido. Minhas mãos agarravam o volante com tanta força que os nós dos dedos se tornavam brancos. Mas o aperto no volante era nada comparado ao nó que crescia dentro de mim, sufocante, pesado. A voz de Declan ecoava na minha cabeça, implacável.
Eu era apenas um brinquedo para ele. Um corpo. Uma ilusão de algo mais. Como todos os outros, ele me usou, me destruiu.
Pisei fundo no acelerador, o motor rugiu em resposta. A velocidade aumentava, e tudo dentro de mim implorava por fuga. Quero desaparecer, sumir. Não posso encará-lo. Não posso suportar saber que um dos homens por quem sou apaixonada, neste exato momento, está com outra. Traindo-me. Rasgando a promessa que me fez, como se ela não valesse nada.
Um grito de pura raiva escapou da minha garganta, carregado com toda a dor que fervia dentro de mim. E então, o impacto. Um golpe seco no pneu me fez perder o controle. O carro rodou na pista molhada e tudo ao meu redor virou um borrão de água e escuridão.
Senti o mundo girar com o carro. Meu coração disparou, o pânico tomou conta. Mas não podia ceder. Não morrerei, não assim. Tirei o pé do acelerador, sentindo o peso do carro balançar. Foque. Apenas foque. Olhei fixamente para um ponto à frente, obrigando-me a ignorar o caos ao redor. Com um movimento preciso, girei o volante, acompanhando o deslizamento da traseira.
O carro tremeu sob minhas mãos, ameaçando sair completamente do controle. Minhas mãos escorregaram no volante molhado pelo suor, e a chuva batia no teto com uma fúria ensurdecedora. Mas continuei, ajustando cada movimento com precisão milimétrica.
Não posso perder.
A traseira oscilou mais uma vez e, então, o carro começou a se endireitar. O alívio veio como uma onda esmagadora, e meu corpo relaxou apenas por um segundo.
— Obrigada, Deus — sussurrei, a voz quase inaudível no meio da tempestade. Os pneus finalmente aderiram ao asfalto e fui desacelerando gradualmente. Pisei no freio, devagar, sentindo a resposta dos pneus até que o carro parou por completo.
O motor ronronava suavemente, quase ofuscado pelo som da chuva torrencial. Minhas mãos ainda seguravam o volante com força, e meu peito subia e descia, o ar entrando e saindo irregularmente. Lá fora, a tempestade continuava, indiferente ao caos que quase acabara de me engolir.
Abri a porta e desci, a chuva gelada atingiu meu corpo como um castigo. Andei desorientada pela rua deserta, sentindo o mundo ao meu redor se desfazer. Meu coração ainda batia descompassado, uma mistura de medo, raiva e desespero.
De repente, um clarão e o som de pneus derrapando me arrancaram do transe. Um carro freou bruscamente a centímetros de mim e meu corpo congelou. O coração disparou novamente, as pernas ficaram fracas. Senti minha visão embaçar. E antes de tudo se apagar, vislumbrei um par de sapatos femininos caminhando na minha direção.
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Refém dos Leões
RomanceEla deseja, acima de tudo, a liberdade. Eles só querem vingança pela morte precoce de sua esposa. Rosalie Sinclair, determinada a fugir dos abusos de seu tio, vê em seu casamento com Hugo Dubois, um magnata poderoso, uma possível saída. No entanto...