ɪsᴀʙᴇʟʟᴀ ᴀʟᴍᴇɪᴅᴀ
Eu costumava me achar uma pessoa azarada por tudo que acontecia na minha vida, mesmo com uma condição financeira boa, estudando nas melhores escolas e tendo tudo que eu queria, eu sempre fui azarada por ter pais horríveis.
Sempre tive tudo que eu quis, na verdade tudo oque meus pais permitiam, oque só se encaixava no padrão de: caro e chique, nada que pudesse me deixar com um ar de "favelada" como eles gostavam de dizer.
Mesmo tendo tudo do bom e do melhor, nunca foi o suficiente para mim, porque eu nunca tive o principal, algo que eu realmente desejei a vida toda, o amor dos meus pais.
Eles me deram de tudo, mas esqueceram do amor e do carinho.
Eu cresci no meio da classe alta, convivi com ricos do nariz empinado que falam mal de tudo e todos, que desprezam todos e se acham superiores, mas eu sempre me neguei a ser assim, sempre me neguei a ser igual aos meus pais e todos os amigos deles.
Eu queria, ainda quero e vou ser diferente dos meus pais, não vou me permitir ser mais uma casca vázia nesse mundo, não quando eu posso ser mais que isso e mostrar que eles sempre estiveram errados sobre mim.
Eles achavam que eu só era rebelde, que iria seguir o mesmo rumo que eles depois que me torna-se adulta, mas isso nunca aconteceu, até porque eu nunca me permiti e nunca quis ter alguma atitude parecida com a deles.
Quando eu fugi do carro naquele dia, eu senti uma liberdade, eu sabia que finalmente me livraria deles para viver a minha vida do meu jeito, do jeito que eu sempre quis, mas nunca fui permitida por eles, mesmo eu ja sendo uma adulta.
Eu consegui minha liberdade, mesmo com eles mandando mensagens todos os dias, eu não tenho mais vínculos e nem dependo deles.
No dia que eu fui demitida, eu realmente pensei que tudo havia acabado, pensei que voltaria para aquele inferno e minha vida se tornaria uma merda de novo, chorei a noite toda, pensando sobre tudo isso, sabendo que eu nunca mais pisaria o pé em São Paulo se voltasse para a casa dos meus pais, eu nunca mais veria os meus amigos que fiz e nunca mais veria a minha melhor amiga.
Acho que o maior ódio dos meus pais, foi saber que eu conseguia sobreviver sem eles, e que não dependeria deles para sempre. Eles perceberam isso quando eu comecei a ir para as rodas culturais, que mesmo proibida de pisar nas praças de batalha, eu sempre estava lá, gritando, levantando a mão, passando a vibe e vivendo a cultura.
Eles odiavam o fato de eu não ser igual a eles, o fato de eu não ser só mais uma riquinha metida que vive as custas do pai sem se importar com nada, eu não era e nunca vou ser alguém que simplesmente aceita a burguesia mesmo com muita gente passando fome e morrendo nas ruas, nunca vou aceitar toda a diferença social, nunca vou aceitar que enquanto eu estou vivendo bem e luxando, tem uma mãe adolescente se matando de trabalhar e estudar para sustentar os filhos.
No dia que eu fiquei desempregada, eu jurei que voltaria para o inferno e conviveria com os dois capetas novamente, mas não, parei de me considerar azarada ali, a Khauane falou com o Jotapê, eu fiz uma entrevista de emprego e Agora, eu sou meio que uma secretária do Jotapê, eu organizo os eventos, shows e faço outras coisas a mais.
Eu não me fodo de trabalhar em uma lanchonete, não mais, agora ganho mais doque quando eu trabalhava na lanchonete e oque para mim é o mais importante de tudo isso, eu finalmente trabalho com algo que eu amo, trabalho para alguém que eu admiro e admiro muito.
Só de pensar em tudo que aconteceu na minha vida nos últimos meses desde a BDA 8 anos, eu acho que a Isabella que fugiu de casa para assistir a batalha, nunca imaginou tudo isso nem no seu melhor pensamento.
A Isabella nunca pensou que sairia da casa dos pais, que conseguiria sua casa e que viraria amiga das pessoas que ela é fã e admira, as vezes nem eu acredito, tudo parece um sonho, um sonho daqueles que a gente não quer acordar.
Virar amiga dos mcs e das meninas, foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Eles são incríveis em todos os sentidos, os melhores amigos que ja tive, por mais que eu não tivesse tido tantos além da Gabriela.
Depois de anos, eu finalmente experimentei o amor, o amor que nunca tive dos meus pais, meus amigos e amigas me mostraram que eu posso ser amada, que eu não sou uma pessoa complicada de se amar como eu sempre acreditei ser.
Sempre pensei que era difícil me amar, por isso meus pais não conseguiam me amar, me culpei tanto, achando que se fosse igual as meninas filhas dos "amigos" deles, eles me amariam e me elogiariam como faziam com todas elas.
Agora eu percebo que, pessoas que cresceram sem amor, não podem amar, não podem amar outras pessoas, porque para bem materiais, a história já é diferente.
Dinheiro, jóias, bolsas, roupas, sapatos e outras coisas caras, para meus pais, isso sempre foi oque mais importa, o mais necessário e a única coisa para oque eles realmente ligam.
Eu de verdade não sei como não me tornei igual a eles, mas agradeço todos os dias por não ser igual a eles, por eu ser diferente e ter a consciência de tudo que acontece ao meu redor, saber amar e valorizar quem está ao meu lado, não olhar apenas para o meu próprio umbigo, eu percebo que nada gira em torno de mim.
Mas mesmo com tudo que meus pais fizeram para mim, agora já passou, eu estou longe deles vivendo a vida como eu sempre quis, e agora, trabalhando com algo que eu amo e com alguém que eu tenho como uma grande inspiração.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐓𝐇𝐄 𝐅𝐀𝐍 | 𝐴𝑝𝑜𝑙𝑙𝑜 𝑚𝑐
RomanceAonde Isabella Almeida é fã de uma cultura que seus pais odeiam, assim como eles odeiam tudo que não seja o dinheiro.