Uma Deusa que surgiu a partir dos sonhos dos sonhadores, que recebeu o título de Deusa da noite pelos mortais.
Por ter surgido graças a sonhos dos humanos a Deusa sente uma conexão com o Sonhar, sente que a Corte noturna e o sonhar deveriam existir...
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Os gritos de Morpheus morreram em sua garganta, sufocados pelo fardo implacável do destino. A raiva aquecendo seu sangue, fervilhando com uma intensidade que ameaçava consumir tudo ao seu redor. A fúria, incontrolável, misturava-se com uma dor tão profunda que parecia impossível de ser expressa, uma dor que não tinha saída, que apenas crescia e o rasgava por dentro.
Uma dor que o dilacerava.
Não era uma dor comum, como uma ferida que pudesse cicatrizar depois de um tempo. Aquilo era algo muito mais visceral, um corte invisível que se cravava em sua alma, espalhando-se como veneno.
Ele sentia o corpo da mulher em seus braços ceder ao limbo solitário e frio. A vida que um dia havia pulsado nela estava escapando, como areia fina escorrendo por entre os dedos. O vínculo que um dia compartilharam, aquela ligação poderosa que os unia além do tempo e da morte, além da luz e escuridão, agora se esvaía.
Durante o último século, Morpheus havia acreditado que a eternidade era uma maldição por si só, pois pensava que passaria essa eternidade aprisionado, trancafiado no porão de um humano, privado de liberdade e poder. Mas agora, segurando o corpo sem vida de Melione, ele entendeu a verdadeira maldição.
Sobreviver sozinho.
Sobreviver em uma eternidade onde ele nunca mais poderia estar ao lado de sua amada. O vazio que agora se instalava dentro dele era pior do que qualquer prisão física, pior do que qualquer tortura que o destino pudesse conceber.
Ele veria cada novo dia sem ela, cada ano passando lentamente, enquanto o eco de sua ausência dilaceraria o que restava de sua alma ferida.
O sangue denso e enegrecido sujava as vestes e as mãos de Morpheus, escorrendo por entre os dedos trêmulos, tingindo o chão como um lembrete cruel do que havia sido perdido. O peso do corpo flácido em seus braços parecia um castigo insuportável.
O interesse no mundo ao redor havia acabado no momento em que o coração da mulher havia dado sua última batida. Morpheus não se importava com as fadas que observavam a cena, com a possível guerra que surgiria no mundo das fadas por falta de um governante, nem mesmo o seu reino era importante agora.
Morgan Stuart era importante.
Melione era importante.
Sua esposa, seu anseio por viver, era importante.
E ele havia a perdido...
O universo poderia implodir que ele não moveria um músculo sequer.
Em um século de existência, Morpheus jamais chorara. A única vez que ele chegara perto de derramar uma lágrima fora quando Jessemy foi morta, em uma tentativa desesperada de ajudá-la. Mesmo então, ele havia se contido, engolido a dor, fechado seu coração para que nada mais o tocasse.
Mas aquela situação era desoladoramente diferente.
As lágrimas grossas, silenciosas, rolavam por suas bochechas, ardendo em contraste com o vazio que o consumia. Ele mal as notava, sua mente estava longe demais, perdida entre as memórias e o sofrimento presente.
