↠Cᥲρίtᥙᥣ᥆ 001↞

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Ao dar o primeiro suspiro de sua vida um bebê sempre chora, pois ele precisava sentir a dor de seus pulmões descolarem para que ele possa enfim receber o oxigênio em seu ser, logo ao nascer os humanos são recebidos de braços apertos pela dor da vida, a primeira dor de muitas outras...

Mas a Deusa da Noite não era humana, ela não sentiu dor alguma ao respirar pela primeira vez, ela sentiu paz ao olhar para o mundo escuro e desconhecido ao seu redor.

A mulher de longos cabelos negros, olhos celestiais brilhantes e um vestido esvoaçante tão escuro que parecia ter sido composto diretamente dos céus daquela noite, sente pela primeira vez o que era estar viva.

A Deusa esbanjava sua forma perfeita para o início e para o fim dos seus dias, uma mulher com uma aparência eterna de seus vinte e tantos anos, com a sorte de nunca envelhecer ou sequer adoecer.

Para muitos o início de sua história tendia ao sofrimento momentâneo, mas para a Deusa era algo simples e que era recebido de bom grado.

Ela sente a grama fria e úmida sob seus pés, os ventos frios em seu corpo, escuta o zunido baixo de criaturas brilhantes voarem ao seu redor, como se estivesse lhe dando boas-vindas aquele lugar desconhecido para si.

Com o coração acelerado a Deusa sorri admirando as criaturas, pela primeira vez ela estende sua mão pálida para tocar algo vivo, a criatura com luminescência pousa no centro de sua mão fazendo a mulher rir baixo impressionada, o primeiro riso de uma vida eterna foi causado por um animal que poderia ser morto ao menor dos movimentos, uma vida tão... simples.

A mulher estava experimentando a beleza da vida e sua felicidade num momento tão simples, mas que em séculos sempre seriam lembrados por si.

Ao longe em meio a escuridão dois seres imortais observavam a Deusa se deliciar com um momento tão simples quanto ver um vagalume e andar descalça em meio ao breu da noite.

-Não esperava te encontrar aqui. - Uma mulher negra diz sem se virar para o homem já conhecido ao seu lado.

Os cabelos cheios e volumosos da mulher balançavam levemente com o vento, mas apesar do frio ela se sentia mais do que confortável em suas roupas escuras simples, seu único adereço de uma cor distinta era o cordão prateado ao redor de seu pescoço.

O símbolo da morte.

-Então, é ela. - Diz o homem em um tom baixo e contido, como se falar qualquer coisa lhe custasse um grande esforço.

A mulher agora tinha um pequeno sorriso escondido em seus lábios.

-Você sentiu. - Não era uma pergunta, nem uma acusação, apenas uma observação cuidadosa.

O perpétuo continua com sua face estoica e contida, como se aquela expressão estivesse esculpida no mármore claro que era seu rosto.

-Senti quando meus poderes foram usurpados de mim por esta... criança. - Responde ele com algo semelhante a desdém em sua voz, mas seus olhos azuis esverdeados continuam a encarar a nova Deusa.

Apenas os que realmente conheciam Morpheus perceberiam a leve dificuldade que ele teve para encontrar uma palavra que conseguisse diminuir a mulher em meio aos vagalumes, mas Death o conhecia tão bem quanto a si mesma, por isso foi curioso a forma como ele se referiu aquela mulher.

É claro que a ceifadora entendia os motivos de seu irmão estar... chateado com a nova Deusa, mas de nada adiantaria seu desagrado ou desgosto naquela situação, então era melhor deixar isso ao longe.

Chamar a mulher com um longo vestido negro em meio ao campo noturno era não apenas um eufemismo por parte de Morpheus, mas também uma forma simples de demonstrar seu desagrado para com o ser que acabará de surgir.

𝑻𝒉𝒆 𝑫𝒓𝒆𝒂𝒎 𝒂𝒏𝒅 𝒕𝒉𝒆 𝑵𝒊𝒈𝒉𝒕 - 𝘛𝘩𝘦 𝘚𝘢𝘯𝘥𝘮𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora