1599
As sombras taciturnas envolviam a floresta silenciosa como um manto feito de trevas, as árvores erguiam-se contra a luz prateada do luar, fazendo assim com que fosse impossível para que qualquer ser humano conseguisse enxergar um palmo a sua frente.
Ninguém seria tolo o suficiente para se infiltrar naquela escuridão fria e perigosa sozinho, ao menos, é claro, que esta pessoa em particular não tivesse nenhuma outra opção em sua frente.
Se esta não tivesse mais nenhuma saída em sua mente.
O desespero era algo inebriante, que fazia com que os seres vivos agissem sem pensar, ativando os mais primitivos instintos em seus corpos. Matar ou fugir.
E para Josette Walker nem mesmo a morte poderia dar qualquer paz para os sua exasperação e furor, por isso ela corria de forma desenfreada pelas matas altas que lhe cortavam e arranhavam-lhe a pele escura de seu rosto e braços.
A mulher se agarrava as suas vestes escuras com afinco, sua capa felpuda e cumprida lhe aquecendo o corpo de forma branda, mas lhe atrasando o caminhar a cada vez que está se enganchava em uma das longas e fortes raízes das árvores.
Seu vestido que outrora fora rico em costuras finas e refinadas estava por hora em frangalhos, sujo pela terra e empapado de suor pelo esforço forte de suas pernas.
Os sons da floresta lhe acompanhavam em cada passo apressado de sua corrida, mas ela quase não era capaz de os escutar, graças aos batimentos altos de seu coração acelerado. O som retumbava em seus ouvidos e nublavam sua mente desastrosa.
O farfalhar dos ventos gélidos se encontrando com os galhos quebradiços das árvores faziam com que um som arrepiante tomasse conta de toda aquela imensidão aterrorizante, era possível que até os animais noturnos que habitavam aqueles locais estivessem se escondendo ainda mais nas trevas sinuosas.
A mata densa parecia se fechar a cada passo da mulher, como se quisesse lhe agarras pelos seus fios escuros e densos, a mantendo uma prisioneira eterna sob a terra húmida que encobriria seus ossos e a levaria para os braços esqueléticos da morte.
De certo que parecia que a floresta era um ser vivo naquela noite, um ser que detinha seus próprios desejos e vontades, estes que eram famintos pela alma e inocência de qualquer humano desavisado que adentrasse seus domínios sem convite para tal.
A capa de Josette é agarrada por um galho forte, fazendo com que o amarre do tecido quente apertasse sua traqueia de forma dolorosa, um momento antes de seu corpo fraco e trêmulo cair sobre a terra suja abaixo de si.
A mulher se apressa em puxar o tecido grosso para si, mas de nada adianta, já que este continua preso pelo forte galho que lhe emaranhava mais e mais ao menor dos movimentos.
Quanto mais esforço era feito sobre a capa, mais está passava a lhe enforcar, se a humana estivesse mais calma naquela situação singular teria percebido que o melhor a se fazer era forçar a se manter de pé, não tentar forçar a natureza a lhe obedecer com crueldade e força.
Nem mesmo os ventos mais fracos eram subservientes aos comandos humanos. A natureza nunca existiu para ser controlada pelos desejos dos outros, ela apenas estava ali para mostrar sua força e imponência sobre tudo que lhe opunha a ela.
A natureza não tinha benevolência e Josette teve tal certeza ao escutar o som mais aterrorizante em toda a sua curta existência sobre aquela vasta terra misteriosa e ainda tão desconhecida por si.
Os uivares dos lobos ressoaram altos e famintos há metros de distância, mas ainda assim perto o suficiente para que Josette sentisse cada nervo fadigado de seu pobre corpo congelar e tensionar com aqueles sons.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝑻𝒉𝒆 𝑫𝒓𝒆𝒂𝒎 𝒂𝒏𝒅 𝒕𝒉𝒆 𝑵𝒊𝒈𝒉𝒕 - 𝘛𝘩𝘦 𝘚𝘢𝘯𝘥𝘮𝘢𝘯
Hayran KurguUma Deusa que surgiu a partir dos sonhos dos sonhadores, que recebeu o título de Deusa da noite pelos mortais. Por ter surgido graças a sonhos dos humanos a Deusa sente uma conexão com o Sonhar, sente que a Corte noturna e o sonhar deveriam existir...