011.

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( 011. enjoo )

' PANDORA PELETIER'S POV '


EU NÃO SEI O QUE ME DEIXAVA MAIS ENJOADA: O CASAL SE BEIJANDO A POUCOS metros de distância ou o sangue que escorria a rodo pela coxa de Marjorie. Tudo bem. O sangue ganhava. Mas o casal ainda era uma incógnita perigosa para nós.

Eles haviam chegado minutos depois da gente. Não nos víamos, porque estávamos escondidos do lado de fora, atrás dos muros. Mas víamos eles. Pegavam fórmulas para bebê na conveniência e trocavam carícias no capô do carro.

Se fôssemos parar para analisar, eram um casal fofo. Trocando além de carinho, preocupações - pelo que dava para ser ouvido. Só que não íamos parar para analisar, já que aquilo não era um filme e Marjorie Hill resmungava de dor na vida real, jogada no chão, porque Merle havia acertado a porra de um tiro nela.

- Desgraçado - Jackson xingava, nervoso.

Ajoelhada perto de Margy, tentava amarrar o mais cautelosamente possível um pedaço do decido da minha camiseta em sua coxa, para que o ferimento pudesse sangrar menos. Não entendia tanto de "primeiros socorros", mas havia prestado atenção em algumas palestras escolares sobre.

Claro, não havia nenhum preparativo para um apocalipse zumbi, tiros de doidos sem mãos e etc. Entretanto, dava pro gasto e eu fazia o melhor que podia, nas condições que podia.

- O que faremos? - Melissa perguntava, aflita.

- A bala está presa lá dentro, precisamos tirar - respondi, analisando a ferida. O sangue continuava escorrendo e mesmo que tivesse diminuído a frequência, Marjorie continuava perdendo.

- Nem ferrando - resmungou a Hill. - Está doendo muito, não vou deixar colocarem a mão aí - sua voz estava embargada e seus braços seguravam com força a parte de cima de sua coxa.

- Precisamos ver se tem algo lá dentro que pode ajudá-la - Michonne disse, convicta. - Pode ter antibióticos, não sei.

Jackson apenas andava de um lado para o outro, as mãos passando de forma nervosa por seus cabelos curtos. Seu nervosismo era palpável e sua perdição também - o garoto estava totalmente perdido.

- Eles estão mencionando algo sobre uma prisão - Melissa sussurra perto de nós, se referindo ao casal. - Casa. Eles disseram casa.

Fazia tanto tempo que não sabia mais o que era uma casa. Física. Com teto, paredes, cômodos. Meus amigos eram a minha casa, mas não era esse o tipo ao qual eu me referia. E, sendo bem sincera, fazia muita falta. Algo que a gente só descobre o valor, quando não tem mais.

- Caralho, o Merle está ali! - a Durand volta à dizer, depressa. Apontando com a cabeça em direção ao casal, ela puxa Jackson pela camiseta, já que o mesmo quase sai de trás do muro alto. - Espera aí, J, o que está fazendo?

- Vou acabar com esse filho da puta - murmura.

Foi a vez de Michonne segura-lo.

- Por mais que eu queira muito a mesma coisa que você - ela suspira. - Não vale a pena. Não agora - com os olhos, ela aponta para a figura de Marjorie no chão. Pálida, a garota tinha gotas de suor escorrendo pela testa. - Sua irmã precisa de você. Vamos cuidar dela e depois cuidamos do resto.

O garoto assentiu, relutante. Era compreensível que ele queria machucar quem havia machucado seu bem mais precioso. Mas ele entendia a importância de apoiar a irmã mais nova naquele momento - e Jackson Hill não era o tipo de cara que abandonaria Marjorie Hill.

- Merda... - Michonne voltou a sussurrar, frustrada. - Ele levou os dois, simplesmente os sequestrou. Escroto!

- Vamos achar essa tal prisão - sugeri, vendo o sangramento continuar. Melissa e Jackson me encararam desconfiados, não gostando da ideia. - Sei que já nos encrencamos demais ao se enfiar em lugares estranhos, com pessoas desconhecidas. Mas não temos muita opção - olhei para Marjorie, que tentava manter os olhos abertos. - Ela não tem muita opção, Jack. Qual a chance de acharmos antibióticos nessa conveniência? E mesmo se tiver, nada vai adiantar se ela não parar de sangrar.

- Precisa de pontos... - Michonne pontuou, respirando fundo ao analisar a ferida. - 'Tá legal. Vamos levar a cesta que eles estavam enchendo, talvez nos recebam melhor se tiverem o que vieram buscar.

(+)

FLASHBACK ON

Me sentia enjoada.

- Porque você tem que complicar tudo, em Carol? - a voz de Ed Peletier percorria o carro. Seus gritos fizeram Sophia acordar em um pulo, assustada. - Disse que não queria que nos juntássemos a esse bando de gente intrometida e agora temos que simplesmente ir atrás deles, porque você achou que mandava em alguma porra!

- E-eu... só achei que fosse bom estarmos juntos com outras pessoas, só até sabermos a...

- E desde quando você tem que achar alguma merda?

Segurei as mãos de Sophia, que tremia. Ed conseguiu o que queria, como sempre: assustar. Era o que dava prazer a vida medíocre do meu pai. Ser uma desgraçado horrível. E com seu coração de pedra, quebrava o de mamãe aos pedaços.

- Vamos sair do carro um pouquinho? - sussurrei no ouvido de minha gêmea. Com medo, ela negou várias vezes com a cabeça.

Respirando fundo, antes do próximo grito, abri a porta com força, pulando para fora. Agora ele gritava comigo. Agora despedaçava o meu coração - não que ele algum dia tivesse sido inteiro. Não quando tudo que eu conhecia, era pedra.

- Volte para esse carro agora, Pandora! Sua pirralha mal educada, eu vou pegar você.

Ignorei. Era fácil ignorar o que não importava. Ainda no escuro da noite, sai andando entre os carros, procurando qualquer lugar. Qualquer lugar mesmo serviria, se não tivesse Ed gritando aos quatro ventos.

Iria refrescar meus pensamentos. Minha ideias. Esfriar a vontade que eu tinha de soca-lo no rosto. Queria me afastar para ver se a raiva passava. Porque eu não aguentava mais sentir tento dela no meu peito.

A sensação de enjoo deveria voltar só mais tarde. Quando eu retornasse para o carro, onde a poeira estaria baixa e eu voltaria ao meu inferno pessoal. Mas não foi o que aconteceu.

Porque eu nunca voltei para o carro.

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₀₁ 𝐂𝐇𝐀𝐎𝐒. ! ༉ 𝘁𝗵𝗲 𝘄𝗮𝗹𝗸𝗶𝗻𝗴 𝗱𝗲𝗮𝗱 ⎷Onde histórias criam vida. Descubra agora